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RETORNADOS CONGOS-ANGOLAS TORNARAM-SE AGUDAS
Por Simão SOUINDOULA, Comité Cientifico Internacional - Projeto da UNESCO “A Rota do Escravo” - Luanda (Angola)
E, em filigrane, o que transparece da leitura da obra “Negros, Estrangeiros. Os escravos libertos e a sua volta a Africa”, da autoria de Manuela Carneiro Da Cunha, livro que acaba de ser reestampado, em São Paulo, na sua segunda remessa, revista e ampliada, na Editora Schwarz e inserida na sua coleção Companhia das Letras.
Analisa, ai, a origem étnica dos melano –
brasileiros, regressados, as suas atividades laborais, opções politicas,
preferências culturais e praticas religiosas.
Replica, para o essencial, da sua tese de
doutoramento, a antiga Professora nas Universidades de São Paulo e Chicago,
fornece, em anexo, um quadro cronológico da temática tratada e um conjunto de
referências bibliográficas, nas quais nota-se estudos de Stuart B. Schwartz,
“The mocambo: Slave resistance in colonial Bahia” (1970) e “Bresil, le royaume
noir des mocambos” (1982).
A autora inclui no seu trabalho um generoso
desdobramento iconográfico no qual reencontramos, entre outras estampas, as,
famosas, do alemão Johan Moritz Rugendas, retratos de cativos angola, benguela,
cabinda, congo, monjolo e rebolla (libolo?).
Nota-se o prefácio, para esta segunda edição,
redigido pelo historiador Alberto da Costa e Silva, que foi Embaixador do
Brasil no Benim e na Nigéria e membro do Comité Cientifico Internacional do
Projeto da UNESCO da “Rota”.
Envolvidos em circunstâncias, perfeitamente,
incontroláveis, muitos “malungos” pararam, em vez, da Cote d’Angola, em Town of
Lagos, como foi o caso, em 1900, da menina Romana da Conceição.
Foi, igualmente, o exemplo de António que era um
cabinda; serviçal do convento do Carmo na Bahia, onde teria sido alforriado e
ido para Ajuda, presumivelmente, em 1838, com seus cinquenta anos. Teria
viajado para São Tome, Fernando Pó, Porto Novo e se estabelecido em Lagos, onde
teria falecido por volta de 1878.
Manuela Carneiro afirma a propósito desse
angolense, tornado, Padre, brasileiro de Lagos, que foi uma personagem
edificante da Igreja nesta cidade, um autêntico precursor.
Ela baseou-se num artigo de J.B. Chausse, contida
na revista “Les Missions Catholiques”, publicada em 1881, onde testemunha
(1861), numa linguagem típica da época “António foi verdadeiramente o precursor
dos missionários nestas paragens barbaras, ele próprio missionário
incomparável, desempenhou um papel providencial”.
Essas anedotas são ilustrativas do regresso,
visivelmente, errado de angolenses no Golfe de Benim ou de Biafra.
Coming-back desacertado mas provocado,
visivelmente, pela singular frieza das relações diplomáticas entre a
Inglaterra, firmemente, abolicionista, e o Brasil e Portugal, notoriamente,
hesitantes.
E assim que, houve, na revolta muçulmana de 1835,
na Bahia, a participação de cabindas e congos.
Como não podia de ser assinalado, a investigadora
brasileira, membro da Academia de Ciências, aponta a perpetuação na
“Afro-Brazilian Colony” em Eko (apelação ioruba da antiga capital federal) do
ritmo da samba e do prato mungunza.
Por
Simão SOUINDOULA
Comité Cientifico Internacional - Projeto
da UNESCO “A Rota do Escravo” - Luanda (Angola)
Tel.: + 244 929 79 32 77
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