Fonte: Mural do Facebook do autor
Permita que lhe conte sobre um
companheiro:
“O que é que quer?” – Perguntou-me um
homem mulato.
Ele nasceu do
cruzamento racial que marcou a matiz da relação entre angolanos e portugueses,
especialmente no período colonial.
“Trouxe um artigo para publicar “,
- Respondi.
“Assim, manuscrito? Quem pensa que vai digitalizar este
texto por ti?” – Perguntou-me.
Sem que me desse tempo para responder, ordenou.
“Arranjem-lhe um computador. Sente-se e escreva o seu
texto” – orientou.
O diálogo marcou o começo da minha relação
com Aguiar dos Santos, que hoje deixa o espaço físico e passa a viver na minha
e na memória de muitos leitores do semanário Agora, amigos e familiares.
No semanário Agora, Aguiar dos Santos ensinou-me a liderar
homens, a comandar equipas de jornalistas, a lidar com o stress da profissão, a
separar a opinião da pura informação e a ser…ousado.
Foram seis anos de
relação intensa como seu profissional e doze como amigos. Chamava-me “Ngambaxi”
ou “Kota Sebas”.
Aguiar dos Santos aconselhava-me
constantemente a ser focado e, preferencialmente, a trabalhar exclusivamente
para a sua publicação.
Na verdade, fui
sempre, do ponto de vista profissional, um pouco irrequieto. Sempre quis
experimentar várias posições e empregos ao mesmo tempo. Tive momentos em que
trabalhei, no mesmo período, como editor do Agora, na Ebonet, correspondente no
Afrique Information Afrique, redactor de espaço radiofónico na LAC e editor do
site NetArtes e da Ebonet. Foi o ponto em que mais divergimos.
“Kota Sebas. Vá
com calma”, dizia-me.
Aguiar dos Santos
sabia ser amigo, ríspido, teimoso, intempestivo sobretudo com erros, atrasos,
incoerências de colaboradores ou posicionamentos de políticos que o
desagradavam. Vivia as suas emoções no limite. Bebia. Fumava. Debatia sobre os
mais diversos temas. Era autêntico. Leal para com os seus. Fiel à sua
convicção. Respeitador da língua de trabalho. Amante inveterado do bom
Jornalismo. De quando em vez, falava-nos sobre a sua trajectória profissional.
As minhas viagens internacionais
afastaram-me um pouco dele. Reencontramo-nos algumas vezes em Luanda, já sem
aquele vigor de outrora, mas sempre agarrado à vida e à actualidade do país.
“Kotas Sebas, como
vai?”- Saudou-me, pela última vez, quando nos cruzámos na avenida de Portugal,
numa manhã ensolarada, em Luanda.
Nos últimos 24
meses, sua figura surgia-me entrecortada em forma de notícias passadas por
amigos: primeiro, a amputação da sua perna. Partilhei minha tristeza com a
minha esposa. Hoje, em definitivo, o telefonema do amigo Tandala.
“Epá, Sebastião, tenho uma notícia triste.
É o Aguiar. Morreu esta madrugada” – Informou.
A morte chegou.
Arrebatou Aguiar dos Santos.
Enquanto teclo para
digitalizar estas breves memórias, ressoa o comando dado.
“Ninguém vai
escrever este texto por ti”.
Obrigado, AMIGO
Aguiar dos Santos. Paz à sua ALMA. Até ao nosso próximo reencontro…na outra
dimensão.
1 Deixe o seu comentário:
Não era suposto gostar de algo nessa circunstância de luto, mas gostei da homenagem: curta, profunda e humana. Que seja lembrado por essa pátria o Aguiar.
Enviar um comentário