domingo, 23 de setembro de 2012

Sobrevivência do gado ameaçada no município do Caimbambo


António Salomão Gando
Depois de verem o ano agrícola comprometido, fazendeiros do município do Caimbambo, interior da província de Benguela, enfrentam agora um outro lado da estiagem. O gado começou a morrer por escassez de água e pasto.

Na fazenda Upolo, situada a 15 quilómetros a oeste da sede do município, contabilizam-se as perdas em três cabeças de gado, segundo António Salomão Gando, o sócio-gerente. “Mas com a velocidade com que o gado emagrece, poderemos vir a ter mais prejuízo”, disse.

Choveu pela última vez em Abril. Vive-se um misto de expectativa e desespero, uma vez que, oficialmente, o segundo ciclo das chuvas devia iniciar a 15 de Agosto, com o fim da época de cacimbo. Entretanto, a realidade mostra lavras com semblantes de deserto, e o que ainda resta de vegetação anda mais magro do que os animais.

“Estamos a trazer palha há três meses”, conta, referindo-se ao milheiro comprado aos “cavaqueiros de Benguela”. Não se sabe, entretanto, é até quando será viável tal alternativa. “No começo havia facilidade, era 500 Kz a carrinha. Mas, hoje, custa 2 mil Kz, e há já quem ocupe o milheiro antes da colheita”, revelou. “O que eu não sabia é que no próprio [Vale] do Cavaco muitos são os criadores que dependem daquela palha”.

Upolo encaixa-se no que seria fazenda do nível médio, com duas carrinhas que dão relativa autossuficiência. É ainda atravessada por um riacho que, apesar de seco, torna generoso o lençol de água para a motobomba. “Podes já imaginar o problema dos outros que têm de trazer de Benguela água em cisternas, isso, sem esquecer que muitos não conseguirão honrar o crédito”, realça, solidário, António Gando.

O fazendeiro, que um dia teve que escolher o que salvar com tão pouca água, abdicando por isso do cultivo para dar de beber ao gado, vê o futuro com preocupação. “No futuro, talvez, teremos que optar por cultivar capim. Precisamos é de meios e técnica”.

Criadores com menos meios estão a vender o seu gado. O preço chega a custar dez vezes menos do que o justo. “Uns estão a abater, e é essa carne que vemos em grandes quantidades a ser comercializada ao longo da via”, acrescenta António Gando. Uma observação in loco permitiu-nos aferir que o abate é feito longe das recomendações dos serviços veterinários, o que só pode constituir risco à saúde pública.

A nossa fonte acredita que os municípios de Cubal e Ganda sofrem o mesmo. Perante o quadro, “a ajuda seria fazer uma ponte entre os criadores e os fornecedores de capim e palha do Kwanza-Sul”, onde acredita abundarem alimentos para o gado. Por outro lado, sugeriu, “seria nos facilitarem o acesso ao bagaço junto da cervejeira Soba Catumbela”. O Blogue Angodebates constatou noutra fazenda do mesmo perímetro o uso eficaz de bagaço.
 
Questionado sobre o que teria o ano 2012 de diferente dos demais, a ponto de se sentir tão fortemente os efeitos da estiagem, António Gando diz que, “na verdade, os sinais começaram já no ano agrícola anterior, com a fraca presença das chuvas”.

Gociante Patissa
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