António Salomão Gando |
Na fazenda Upolo,
situada a 15 quilómetros a oeste da sede do município, contabilizam-se as
perdas em três cabeças de gado, segundo António Salomão Gando, o sócio-gerente.
“Mas com a velocidade com que o gado
emagrece, poderemos vir a ter mais prejuízo”, disse.
Choveu pela
última vez em Abril. Vive-se um misto de expectativa e desespero, uma vez que, oficialmente,
o segundo ciclo das chuvas devia iniciar a 15 de Agosto, com o fim da época de
cacimbo. Entretanto, a realidade mostra lavras com semblantes de deserto, e o
que ainda resta de vegetação anda mais magro do que os animais.
“Estamos a trazer palha há três meses”, conta, referindo-se
ao milheiro comprado aos “cavaqueiros de
Benguela”. Não se sabe, entretanto, é até quando será viável tal
alternativa. “No começo havia facilidade, era 500 Kz a carrinha.
Mas, hoje, custa 2 mil Kz, e há já quem ocupe o milheiro antes da colheita”, revelou. “O que eu não sabia é que no próprio [Vale]
do Cavaco muitos são os criadores que dependem daquela palha”.
Upolo encaixa-se
no que seria fazenda do nível médio, com duas carrinhas que dão relativa autossuficiência.
É ainda atravessada por um riacho que, apesar de seco, torna generoso o lençol de
água para a motobomba. “Podes já imaginar
o problema dos outros que têm de trazer de Benguela água em cisternas, isso,
sem esquecer que muitos não conseguirão honrar o crédito”, realça,
solidário, António Gando.
O fazendeiro, que
um dia teve que escolher o que salvar com tão pouca água, abdicando por isso do
cultivo para dar de beber ao gado, vê o futuro com preocupação. “No futuro, talvez, teremos que optar por cultivar
capim. Precisamos é de meios e técnica”.
Criadores com
menos meios estão a vender o seu gado. O preço chega a custar dez vezes menos
do que o justo. “Uns estão a abater, e é
essa carne que vemos em grandes quantidades a ser comercializada ao longo da
via”, acrescenta António Gando. Uma observação in loco permitiu-nos aferir
que o abate é feito longe das recomendações dos serviços veterinários, o que só
pode constituir risco à saúde pública.
A nossa fonte
acredita que os municípios de Cubal e Ganda sofrem o mesmo. Perante o quadro, “a ajuda seria fazer uma ponte entre os
criadores e os fornecedores de capim e palha do Kwanza-Sul”, onde acredita
abundarem alimentos para o gado. Por outro lado, sugeriu, “seria nos facilitarem o acesso ao bagaço junto da cervejeira Soba
Catumbela”. O Blogue Angodebates constatou noutra fazenda do mesmo
perímetro o uso eficaz de bagaço.
Questionado sobre
o que teria o ano 2012 de diferente dos demais, a ponto de se sentir tão
fortemente os efeitos da estiagem, António Gando diz que, “na verdade, os sinais começaram já no ano agrícola anterior, com a
fraca presença das chuvas”.
Gociante Patissa
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