“Doutor! O doutor vai-me desculpar, mas
o doutor às vezes só me dá raiva a vida do doutor. Olha só mesmo!… O doutor
afinal vai-se respeitar mesmo quando, ó minha vida?!”
“O que foi, filho?”
“Assim mesmo é verdade, hã?, um doutor
fica mesmo a andar ali de baixo para cima, cheio de suor, camisa de mangas
compridas, calças de lã, parece vem do congelador? Custa mesmo ter só um
pouquinho de estilo no grife?”
“Bem…”
“Mas ó doutor, faz favor! O estudo te
levou mesmo a estudar até não se dar valor? Já viste os outros médicos como
aparecem, hã? Carro perfumado, pele fina tipo de branco. Aquilo até, você mesmo
já de longe percebe que, sim senhor!, o filho alheio estudou... Em casa,
garrafeira não vale apena!, grandes mobílias; não é o doutor, que só tem uma
secretária e cadeiras de plástico em casa. Porque condições sempre vos deram,
governo é filho alheio! Agora você fica aí a se misturar com gente a cheirar a
sovaco. Eu se fosse doutor como você, juro mesmo!, você ia ver só. Vida
lixada, grandas damas!”
“Quer dizer…”
“Doutor, olha só. O governo te deu
carro, ze-ri-nho da fábrica, mas você oferece o carro a um sobrinho… para andar
mesmo a pé… Isso é vontade mesmo de se fazer sofrer? Mas o doutor afinal é
assim à toa porquê?”
“Mas se eu te perguntar se és aleijado da perna porquê, tu vais-me responder como?”
www.angodebates.blogspot.com
Gociante
Patissa (adaptação). Lobito, 26.08.2016
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário