"Tio! Esse dinheiro é para o tio", anunciavam felizes e eufóricos dois sobrinhos meus, Abí e
Tái, cinco e sete anos respectivamente. "Para mim?" Indaguei, com vontade de devolver, ciente de que lhes faria falta para rebuçados a caminho da escola. "Nós mesmos é que estamos a dar ao tio, é nosso troco." Puxei um suspiro de alegria e satisfação, como quem colhe o que plantou. É muito útil que se cultive o sentido da partilha e desprendimento desde pequenos. Coincidiu com a hora do almoço, pelo que não sei dizer se o plano era antigo ou resultado de alguma leitura de lábios secos de fome hahaha.
Há coisa de dois anos, "se demos" encontro casual com um primo à hora do almoço. Tinha ele acabado de comprar um pacote de massa e um litro de óleo para confeccionar a refeição no seu local de trabalho. Tudo indicava que não passaria de esparguete simples de óleo e sal. Aí, saquei do bolso dois mil kwanzas no sentido de enriquecer de nutrientes a refeição do primo. Fazia-me acompanhar de sobrinhos meus, incluindo o Ataide, cinco anos na altura. "O tio afinal tem muito dinheiro, né?", ao que repliquei: "Porquê?" E ele: "O tio deu dinheiro ao tio que não pediu". Depois de alguma pausa retorqui: "Se a dado momento tens um pouco de dinheiro e vês a tua família a sofrer, tu não dás?"
Sem que eles se apercebam, dar-lhes-ei de volta o dinheiro através da mãe deles. O maior gesto já foi colhido. Obrigado!
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