O escritor angolano José
Luandino Vieira anunciou esta semana, em mensagem privada enviada a alguns autores
por ele publicados em Portugal, o encerramento da editora NósSomos, que há
cinco anos havia começado um arrojado projecto editorial especializado na
literatura angolana, nomeadamente na poesia, “elemento fundamental da definição
da identidade cultural contemporânea de Angola”.
Facto é que depois de ter começado
uma jornada intensa que levou alguns escritores, da velha e nova gerações de
poetas angolanos, a terras lusas, eis que acontece o inesperado, tendo o editor
já feito uma espécie de notificação informal dirigida a alguns escritores que a
lavra editorial da NósSomos conseguiu desenvolver até aonde lhe foi permitido
chegar atendendo às circunstâncias.
Para a memória futura, fica um sonho
singular efectivado que não mereceu (como é usual na nossa terra...) a atenção
de quem de direito. E que deveria teria sido melhor aproveitado como rampa de
lançamento para a afirmação da literatura angolana, como era suposto acontecer,
num dos palcos literários mais importantes da língua portuguesa.
“O que se adivinhava sucedeu. Face
ao estado geral do mundo dominado pelo neoliberalismo e à submissão interessada
(ou ignorante?) (...), o sonho de uma editora independente não se realizou -
ainda e desta vez. Depois de cinco anos estamos em liquidação. Fizemos o que
pudemos. O que não podíamos acrescentou-se ao que, outros, fizeram para que se não
pudesse. A culpa é sempre de quem sonha nunca de quem acorda quem sonha...”,
escreveu o escritor em mensagem privada.
O autor de “Luuanda”, que este ano
completa 50 anos desde a sua publicação, deixou entretanto a porta entreaberta:
“A editora vai, assim, ‘hibernar’ - a empresa, formal e institucionalizada, que
existe na Rua Eduardo Mondlane, 130 em
Luanda, permanece sempre
contactável e de porta aberta”.
Entre os autores publicados pela NósSomos
constam os nomes de Agostinho Neto, Arnaldo Santos, Viriato da Cruz, Arnaldo
Santos, Dario de Melo, João Maimona, José Luís Mendonça, Lopito Feijóo,
Gociante Patissa, David Capelenguela, Nok Nogueira e Carlos Ferreira, entre
outros.
In «Mutamba», suplemento cultural do Novo Jornal, Luanda,
07.08.15
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