quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Crónica | PARAÍSO DO BINGA

Por Cláudio Kimahenda 

O dia despertou radiante sobre os nossos corpos fustigados pelo cansaço.

Tínhamos caminhado toda a noite debaixo de chuva e solavancos das pedras e chão escorregadio. Caminhamos entre socalcos e por caminhos estreitos. Subimos montes atravessamos riachos. Sentimos o bafo da terra húmida e apreciamos o desabrochar do grão. Lembro-me bem daquele momento.

Rodeamos o pequeno rebento e apreciamos silenciosos a nova vida: maravilha. Deixamos o local com pequenas lembranças, escrevemos nossos nomes nas árvores e fizemos retratos. Depois andamos sobre pequenos pedaços de alcatrão e penhascos. Chegamos a uma pequena aldeia. Sentimo-nos em casa. Senti cada um daqueles aldeões parte de nós. Ofereceram-nos água da Sanga e Quibeba. Partimos alegres cantando salmos de agradecimentos. 

Por vezes a caminhada era barulhenta marcada pelo ritmo das nossas conversas e risos. Por vezes surpreendíamo-nos com alguma coisa. Por vezes o cansaço e desmaios. O sol era uma brasa de fogo e fazia-nos estuar. E diminuía e emudecia nosso canto. As vezes soprava uma pequena brisa.

Chegamos as cachoeiras do Binga. Tudo tornou-se mais belo. Da incerteza à certeza. O clima húmido, brisa mansa, lugar aprazível. Águas refulgentes. O verde desponta em nossos olhos. A beleza daquele pedaço de paraíso fez valer o esforço e a distância. Um ponto luzidio no escuro da pequena floresta iniciou o nosso romance com a natureza. O espaço era terso. Erguemos nossas tendas entre a comodidade e a segurança do lugar. A musicalidade das águas era acompanhada pelo solfejo dos grilos e outros bichos. A cidade da Gabela tinha ficado a algumas léguas de distâncias. Partimos como bandos de retirante sob o signo da vitória.

Dizem por ai que homem alegre nem sempre é feliz, mas, as cachoeiras do Binga mostraram-nos o contrário, somos alegres na mesma proporção que somos felizes.

GLOSSÁRIO
– Sanga: Pequena vasilha onde se conserva bebidas.
– Quibeba: cozido de mandioca com óleo de palma.

NOTA DO EDITOR DO BLOG

Foi com este texto que o jovem Cláudio Kimahenda participou e conquistou um concurso relâmpago promovido através da rede social Facebook, que visava acolher um conto, uma fábula ou uma crónica de viagem. Inicialmente, O prémio simbólico incluía um exemplar de um dos livros de Gociante Patissa, promotor do concurso, mais a divulgação do texto vencedor no blog «Angola, Debates & Ideias, com o endereço www.angodebates.blogspot.com. Pelo seu exemplo de determinação, vai ganhar um exemplar adicional, estando em acerto as formas de lhe fazer chegar o troféu. Kimahenda, que reside em Luanda, é estudante universitário e amante do teatro.
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