Olhando para a morfologia do termo, temos
"O" (artigo) mais "luvale"
(poligamia), parecendo o fonema estar mais próximo de bigamia, tendo em conta a
raiz "val". Na língua Umbundu, o número dois é "vivali". O que se pode reter é que, ao contrário da
estrutura na língua portuguesa, em Umbundu não há duas categorias, oluvale é genérico.
Assim, quando
ouvimos dizer que "ngandi okwele
oluvale", a única certeza que temos na interpretação é que determinada
pessoa tem mais de uma mulher. Caso a curiosidade se desperte, a pergunta
seria: "oluvale wakãi vañami"
(é poligamia de quantas esposas)? Não nos interessa a perspectiva moral da
poligamia, que nos levaria ao velho conflito entre o direito costumeiro (bantu)
e o direito positivo (ocidental).
Por falar nisso, parece que os nossos
juristas têm o grande desafio de acabar com a hipocrisia formal, não poucas
vezes mediatizada em notas fúnebres: "o malogrado deixa uma viúva e X
filhos", quando aos olhos de todo o mundo estão prostradas duas ou mais
senhoras enlutadas e com lares devidamente legitimados pelo falecido, família e
sociedade.
A poligamia, independentemente das suas implicações sociais,
sobretudo para a vertente de sobrevivência do agregado e/ou herdeiros, é
culturalmente direito consagrado ao homem africano Bantu e até pré-Bantu, a
exemplo dos Vatwa. No centro Urbano, a sua prática enfrenta também um travão de
cariz moral religioso.
Terminamos com a frase de um ancião, que reage ao pedido
de um familiar no sentido de organizar a praxe de ir "legalizar" a
sua segunda relação.
"Etu oluvale ka tuwunyãle; pwãi ka tulombalomba
luvali" (nós não somos contra a
poligamia; mas não costumamos fazer alambamento por mais de uma vez).
Neste caso, como
interpretar a posição do ancião?
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