segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Perfilados no medo

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4 Deixe o seu comentário:

Fernando Ribeiro disse...

Recebido por e-mail? É curioso, amigo Patissa! Eu há dias publiquei este mesmo poema no meu blog por minha própria iniciativa, sem receber qualquer sugestão de qualquer pessoa e sem o ter lido em qualquer e-mail! Está aqui.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Caro amigo Fernando Ribeiro,
Fico na dúvida se a pergunta é uma exclamação à coincidência ou uma acusação velada de eventual "aproveitamento". Na hipótese de ser a segunda, colo abaixo o e-mail a que me refiro (omitindo obviamente a identidade do remetente), na esperança de que não volte a pôr em causa a minha honestidade.
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On Monday, January 20, 2014 5:27 PM, F. <...@gmail.com> wrote:
---------- Mensagem encaminhada --
De: ... <...@hotmail.com>
Data: 20 de Janeiro de 2014 às 06:07
Assunto: FW: Expresso
Para: ...

Perfilados de medo
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...

Alexandre O'Neill (1924-1986)

Um quarto dos poemas é imitação literária,
outro quarto é ainda imitação mas já irónica e colérica,
outro quarto é das labaredas da inquisição à volta,
outro quarto, o quarto, o que falta, é por causa da
magnificência do mundo
o quinto quarto absurdo é o das quatro patas cortadas,
e o último é ele que olha da montanha onde abriu na
pedra o seu nome inabalável,
e voltava ao primeiro como se fosse orvalho,
como se fosse tão frio que cortasse até ao osso,
o imo do próprio nome assim metido na pedra,
tanto que ninguém sabia de quem era,
porque ficou todo dentro e não se via de fora:
nem o suor nem o sangue nem o sopro"

Herberto Helder

BIOGRAFIA
Não pegues na colher com a mão esquerda.
Não ponhas os cotovelos na mesa.
Dobra bem o guardanapo.
Isso, para começar.

Extraia a raiz quadrada de três mil trezentos e treze.
Onde fica o Tanganica? Em que ano nasceu Cervantes?
Dou-lhe um zero em comportamento se falar com o seu colega.
Isso, para continuar.

Parece-lhe decente que um engenheiro faça versos?
A cultura é um enfeite e o negócio é o negócio.
Se continuas com essa moça fechamos-te a porta.
Isso, para viver.

Não sejas tão louco. Sê educado. Sê correcto.
Não bebas. Não fumes. Não tussas. Não respires.
Ai, sim, não respirar! Dar o não a todos os nãos.
E descansar: morrer.

Gabriel Celaya

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

Sophia de Mello Breyner Andresen

Fernando Ribeiro disse...

Por amor de Deus, caro Patissa! Eu não quis acusá-lo de aproveitamento. De maneira nenhuma! Nem por sombras me passou pela cabeça acusá-lo de desonestidade! Porque o faria? O que me ocorreu foi que alguém tenha lido o poema no meu blog, tenha gostado dele e o tenha reenviado por e-mail, para si e para outras pessoas. Aliás, eu não sou dono do poema...

Já estou arrependido de ter feito o comentário. Ao contrário de si, eu não tenho jeito para a escrita e corro sempre o risco de ser mal interpretado. Peço desculpa pela confusão que lhe causei.

Um abraço de respeito e admiração.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Pronto, está desculpado, caro Fernando Ribeiro. Uma boa tarde.

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