sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Opinião: DE PICANTE EM PICANTE, ESCLARECIMENTO ESPERA-SE DO ILUSTRE DIAS RODRIGUES

Tony do Fumo Jr, em Salvador da Bahia, Brasil
Numa altura em que o mercado musical angolano se prepara para receber o quinto volume do projecto PIKANTE, iniciativa do DJ DIAS RODRIGUES que reúne em cada série uma colectânea a várias vozes, teima em não calar uma dúvida que tem a ver com a legitimidade autoral, quando se trata de temas de autores já falecidos.

Foi assim com a edição em que o clássico “NA GAJAJEIRA”, de URBANO DE CASTRO, foi interpretado pelo músico LEGALIZE. Não me interessando por ora entrar para o mérito do intérprete, não posso deixar de referir que houve vozes, bastante idóneas até, que na altura se levantaram pela possível inobservância de procedimentos legais para o usufruto do património em causa. Longe de mim fazer juízo de valor, uma vez não conhecer, nem o mentor do projecto, nem os herdeiros.

O que entretanto parece inusitado é notar que já se voltam a ouvir vozes de revolta pela interpretação de um dos temas de ANTÓNIO DO FUMO, desta feita pelo jovem EDY TUSSA. Terá havido autorização expressa, ou será mais uma daquelas coisas de, como dizemos em Umbundu, apanhar o cágado na subida? Bem, parece que é mais do que chegada a hora de o “nosso” DIAS vir a público dissipar de uma vez por todas tais dúvidas, sob pena de o descrédito ensombrar a virtude intencional do projecto e o desempenho dos intérpretes convidados.

Do alto da minha ingenuidade, e porque acredito que, mais do que comércio, o PIKANTE persegue a promoção cultural entre gerações, sou a sugerir algo que certamente terá já passado pela cabeça do seu mentor. Por que não juntar ao projecto uma dimensão de imortalidade, permitindo que as músicas reeditadas sejam interpretadas pelos próprios filhos dos autores já falecidos, por exemplo?

Penso que temos um URBANITO JÚNIOR que até não canta assim tão mal, para já não falar do TONY DO FUMO JÚNIOR, que por acaso deixou ao rubro o palco da Biblioteca de Barris, como a foto ilustra, durante a VI Bienal de Jovens Criadores da CPLP, em que Angola se fez representar por uma delegação multidisciplinar na cidade de Salvador, Bahia, no Brazil, de 3 a 7 de Dezembro de 2013. Se por um lado ficaria elevada a ética, já por outro, em nada ficaria beliscada a estética do produto mercantil.

É pincelada de um observador que não tem pretensão alguma de assumir o papel de porta-voz dos presumíveis lesados. Só que, sem descurar do benefício da dúvida, é de uma das músicas do próprio PIKANTE que ouvimos que “onde há fumo, houve fogo”.

Gociante Patissa, Benguela, 13 de Dezembro de 2013
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