Tony do Fumo Jr, em Salvador da Bahia, Brasil |
Numa
altura em que o mercado musical angolano se prepara para receber o quinto volume
do projecto PIKANTE, iniciativa do DJ DIAS RODRIGUES que reúne em cada série
uma colectânea a várias vozes, teima em não calar uma dúvida que tem a ver com
a legitimidade autoral, quando se trata de temas de autores já falecidos.
Foi
assim com a edição em que o clássico “NA GAJAJEIRA”, de URBANO DE CASTRO, foi
interpretado pelo músico LEGALIZE. Não me interessando por ora entrar para o
mérito do intérprete, não posso deixar de referir que houve vozes, bastante
idóneas até, que na altura se levantaram pela possível inobservância de
procedimentos legais para o usufruto do património em causa. Longe de mim fazer
juízo de valor, uma vez não conhecer, nem o mentor do projecto, nem os
herdeiros.
O
que entretanto parece inusitado é notar que já se voltam a ouvir vozes de
revolta pela interpretação de um dos temas de ANTÓNIO DO FUMO, desta feita pelo
jovem EDY TUSSA. Terá havido autorização expressa, ou será mais uma daquelas
coisas de, como dizemos em Umbundu, apanhar o cágado na subida? Bem, parece que
é mais do que chegada a hora de o “nosso” DIAS vir a público dissipar de uma
vez por todas tais dúvidas, sob pena de o descrédito ensombrar a virtude
intencional do projecto e o desempenho dos intérpretes convidados.
Do
alto da minha ingenuidade, e porque acredito que, mais do que comércio, o
PIKANTE persegue a promoção cultural entre gerações, sou a sugerir algo que certamente
terá já passado pela cabeça do seu mentor. Por que não juntar ao
projecto uma dimensão de imortalidade, permitindo que as músicas reeditadas sejam
interpretadas pelos próprios filhos dos autores já falecidos, por exemplo?
Penso
que temos um URBANITO JÚNIOR que até não canta assim tão mal, para já não falar
do TONY DO FUMO JÚNIOR, que por acaso deixou ao rubro o palco da Biblioteca de
Barris, como a foto ilustra, durante a VI Bienal de Jovens Criadores da CPLP, em
que Angola se fez representar por uma delegação multidisciplinar na cidade de
Salvador, Bahia, no Brazil, de 3 a 7 de Dezembro de 2013. Se por um lado
ficaria elevada a ética, já por outro, em nada ficaria beliscada a estética do
produto mercantil.
É
pincelada de um observador que não tem pretensão alguma de assumir o papel de
porta-voz dos presumíveis lesados. Só que, sem descurar do benefício da dúvida,
é de uma das músicas do próprio PIKANTE que ouvimos que “onde há fumo, houve
fogo”.
Gociante
Patissa, Benguela, 13 de Dezembro de 2013
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