domingo, 26 de maio de 2013

Crónica: QUANDO JÁ NÃO HÁ TUTANO PARA DANÇAR SOZINHO

Cartoon do jornal A Capital
O atractivo não era grande coisa para cair na noite, como se diz cá na banda, mas a companhia valia mesmo a pena! Aguardava-nos, na Restinga do Lobito, uma noite de música electrónica para comemorar mais um 25 de Maio, Dia do Continente Africano.

Eram quase das duas da manhã quando demos os braços à fita, não sem antes passar por uma outra esplanada à beira-mar com música ao vivo. Como já há muito não ia a uma farra como tal, tomou-me súbito receio ao notar que o porteiro era um jovem com nome de carro, célebre pelas brigas e cadeias. Mais a mais, era afinal para se ir trajado a africano, o que não era bem do jeito que eu estava. As damas que iam connosco, sim, estavam lindas e a preceito. De qualquer modo, havia lá dentro muito mais gente de calções e cuecas jeans do que propriamente em trajo africano.

Compradas as fitas, o porteiro, o tipo que guardava na memória pelo génio briguento, dá-nos as boas vindas. Uf, que alívio! Pelo menos mais de cem pessoas faziam o máximo possível para abanar as nádegas e ziguezaguear ao compasso do Afro-house, pop Afro e algum ku-duro.

Os altifalantes cuspiam incontáveis decibéis a céu aberto, certamente impedindo a vizinhança de dormir. Muito cigarro, bebida alcoólica, mas também muito refrigerante e água mineral em consumo pelos convivas, na sua maioria jovens e adolescentes (um equilíbrio saudável, a meu ver. Não vi, e ainda bem, movimento que denunciasse tráfico ou consumo de droga pesada. Não que me iluda de todo, mas o facto de não se dar a ver ao nível da banalidade já não é um mau sinal).

Ambiente bom, companhia impecável, os ossos é que já não aguentam duas horas ininterruptas pop ou afro. Sou dos tempos em que chegava um momento de uma boa passada, e com isso o conforto (subtil ainda assim, do toque ao corpo) na correspondência da parceira, em cujo ouvido depositávamos uma ou outra prosa. Mas pronto, são os tais equilíbrios de género, do género cada um se completa por si.

Houve um momento em particular que aconselhava a maior distância possível, ao pico da euforia dada a presença do tal “Bebucho que Cuia”, autor do “Aguluwa, mama/ aguluwó” e o seu pujante e recente tema “Hum/ham/tchum/tcham/no cotovelo/no cotovelo!”, entre a coreografia e posições de karaté. Meu receio era não ter dentista na lista de amigos a quem recorrer àquela madrugada em caso de perder dentes num involuntário golpe de dança da pessoa mais próxima. Isso, piorado com o facto de não ter no carro álcool para o que seriam os primeiros socorros.

Até às quatro e meia quando deixamos o local, apenas três músicas “integradoras” tinham tocado, entretanto longe de satisfazer a reminiscência. Era tudo tarrachinha, daquelas sem alma, músicas que devem ter sido elaboradas de camisinha à mão.

Até ao próximo texto, fiquem ao ritmo de “Hum/ham/tchum/tcham/no cotovelo/no cotovelo!”, só não se esqueçam dos cuidados ao dançar… três metros de distância!

Gociante Patissa, Lobito 26 Maio 2013
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3 Deixe o seu comentário:

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Afirmativo. Num lugar a música como arte, noutro a música como comércio kkkk

Fernando Ribeiro disse...

Como é possível que haja moças que tenham perdido a sua auto-estima de tal maneira que se comportam publicamente como cadelas com cio? A "dança" apropriadamente chamada kambuá é o grau zero da dignidade humana.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

De acordo, meu caro Fernando Ribeiro. É uma infelicidade e tanto! Mas não são só as moças, os homens também, que se esquecem por instantes que as banalizadas tanto podem ser desconhecidas como irmãs, primas e mães. Um abraço

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