segunda-feira, 26 de abril de 2021
Henrique Ferreira. Tão cedo, tão duro
domingo, 25 de abril de 2021
EMPRESTE MAIS UM COXE DO SEU MEDO (poema inédito)
EMPRESTE MAIS UM COXE DO SEU MEDO (poema inédito)
Elevo-te outra vez
Não sei se elevo ou rebaixo
Tão ambígua é aura de leitora
Outra SMS interesseira
Não é que me queixe, mãe
minha tão enorme mãe
É só que entre mim e a vida
Grassa uma noite
Espessa, densa, uma noite, noite
Não é que algo eu peça, mãe
Minha tão graciosa mãe
Nem te critico as ramelas
O ranho que secou pelo buço da irmã
É esta noite que me inquieta
noite caiada de números
Centenas e centenas ao dia
Sei soldar, mãe
Não sei é contar, confesso
Hoje, embrulhado o comer
Sol insinuando Miami Florida
Calcei as chinelas e saí
Levantei-me, corrijo
Em pleno dia caiu a noite
Curto ficou o roteiro
Cinco passos, se tanto
Que passear hoje em dia
É conforme a luz Sílvia incide
Não vá o breu pegar-nos
A gente veste e se perfuma para caminhar
Da mesa para a cama
E a noite não saciada
Infla-se na voragem
De segunda vaga
Dois médicos na eterna viagem
Custa-me admitir, mãe
Por esta capital da máscara ao queixo
Sou o frágil andante
Prendo-me à única armadura
A bênção, minha mãe
E nada mais lhe peço senão
Que me empreste um pouco
Um só coxito mais
Daquele seu medo, aquele da kitota
Pode ser que sirva
Pode ser que viva
Gociante Patissa | Luanda 25 Abril 2021 | www.angodebates.blogspot.com
domingo, 18 de abril de 2021
DEVEM OU NÃO OS PORTA-VOZES FALAR PARA A IMPRENSA QUE NÃO LHES SEJA AMISTOSA?
Como formando de comunicação institucional foi interessante observar na prática, hoje, a partir dos bastidores, o media/public speaking em situação de ambiente hostil, tendo como laboratório a Rádio Despertar Comercial FM (pertencente ao partido Unita), com o debate acalorado de hora e meia no programa “Angola e o Mundo em 7 Dias”, onde o painel de quatro elementos esteve integrado por um representante do partido Mpla. Os temas giraram em torno da crise do lixo em Luanda, da situação da Covid, da razoabililidade do termo “doação” do Presidente da República para socorrer os sinistrados pela praga de gafanhotos no Kunene, entre outros. Em termos gerais, fez diferença a postura ideologicamente “não engajada” do moderador, que acolheu as chamadas de atenção do participante “isolado” para assegurar que os contendores se cingissem aos tópicos e que fosse concedida equidade no tempo de intervenção. A experiência confirmou na prática a teoria de comunicação institucional segundo a qual os porta-vozes não devem excluir órgãos de informação que não sejam amistosos à sua instituição.
sábado, 17 de abril de 2021
TRÊS VIDAS PRESSA MULATA QUE AÍ VAI (poema inédito. Para Karina)
TRÊS VIDAS PRESSA MULATA QUE AÍ VAI (poema inédito. Para Karina)
Ia a mulata a passar
Como gente como nós
Pessoas, só pessoas
Banais existências
Sem notícias
Na cabeça da gente
Punhado ocioso
movidos à puberdade
A mulata que passava
Desfilava as culpas com que se cosia
Do cabelo ao pé
Aquela mulata que passava
E nos preenchia os olhos
Merecia castigo
Imediato
Sabia-se lá porquê
Aquela mulata que passava
Despertando sintomas de Freud
Encarnava carcaça
Do oco sensual TV
Desempatiado militante
Num ano que não era ano
Mundo feito dominó
Guerra biológica não declarada
Microfone pro médico
Oligarcas no açaime
Coveiros sem folga
E ela a passar assim
Peito erguido
Coxas torneadas
Olhem-me pressa mulata que aí vai
Xé! Moça! Doutora!
Aqui vendem vidas sobressalentes!
Quero três
Uma pra mim
Duas prusmôspais.
Gociante Patissa | Luanda 17 Abril 2021 | www.angodebates.blogspot.com
sexta-feira, 16 de abril de 2021
O AMOR É ROUPA DE DOMINGO (poema inédito)
O AMOR É ROUPA DE DOMINGO (poema inédito)
Da caverna que me cabe espreito
As medidas do mundo
Dois e dois lá vão
Para quem sabe contar
São anos
E dormem e acordam na mesma sombra
Do amanhã nem luz
falseando sábios
Me pus
Taciturno desespontâneo
Derrubam-me as nuvens deste céu
Faltam ombros
Quem dera ao menos caber num palavrão
Foda-se, todavia!
Conheço o amor
Como conheço o fundo da noite
O amor é roupa de domingo
Se adquire
Lava
Engoma
E pendura
Contando para o dia
O próprio dia
O amor é
A camisa
As calças
A blusa
A saia
Botão que desprega
À porta da festa
A nódoa na lapela
O rubro na veia
Temerário
O amor comparece
O amor falta
O amor é que sabe
Salva selva
Ouve tudo menos conselhos
Fosse o amor tecido
Como se tecem os sentidos
Um pouco mais seria
Que roupa de saída
Investimento privado
Dívida pública
O amor é só mesmo isso
Isso tudo
Gociante Patissa | Luanda, 16 Abril 2021 | www.angodebates.blogspot.com