"Manipulação de resultados é batota; agora, corrupção é dar dinheiro" (Bento Kangamba, nas vestes de dirigente desportivo, programa Especial Informação. TPA, 30.06.15)
terça-feira, 30 de junho de 2015
Citação
"Eu falei no meu filho: se esforça! Você é homem e és burro. Assim vais sustentar como uma mulher? Nós mulheres ainda vá lá; você pode ser burra, mas o homem te sente lá pena, vai-te sustentar." (De uma senhora para a sua colega enquanto caminhavam de noite para a escola, Benguela, 30.06.15)
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Citação
"(...) uma coisa é escrever à distância e outra coisa é escrever em Angola. Quem escreve em Angola, como é o seu caso, precisa saber como elaborar textos à prova de acusações." (trecho do comentário da internauta que se identifica como Sura Mariana a propósito de uma crónica da jornalista e sindicalista Luisa Rogério no portal Rede Angola, Luanda 29.06.15)
domingo, 28 de junho de 2015
Citação
"Eu, como não sei dançar, digo sempre que o salão está torto" (António Alegre, comentador de futebol, programa Jogo Aberto, TPA. 28.06.15)
Citação
"Vemos hoje que há jovens com vontade de
se formar mas, mal terminam a formação, vão logo dar aulas nas universidades;
não abraçam o campo, onde acho que há espaço mais do que suficiente para o
enquadramento desses jovens" (Manuel Monteiro, fazendeiro, entrevistado
pelo programa Angola Magazine, TPA, emissão de 28.06.15)
sábado, 27 de junho de 2015
Por uma lei para todos e não para alguns | COLECTIVO DE ARTES OMBAKA DE MALAS FEITAS PARA O BIÉ
Colectivo de Artes Ngola celebra sexto aniversário com festival de teatro
Dez grupos teatrais desfilam no palco do Cine Monumental, cidade de
Benguela, no quadro do «Feste Acácias», que vai na sua primeira edição, festival
aberto na sexta-feira (26/06) e termina no domingo (28/06).
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Citação
"Se hoje tenho a coragem de escrever sobre a minha identidade, é porque tenho origens, que me disseram que tu tens que ser mesmo tu, sem vergonha das nossas línguas. É a compreensão da nossa identidade que nos permite, hoje, falarmos igual com aqueles que sabem, que pensam bem, fazem bem e trabalham bem." (Paulina Chiziane, escritora moçambicana, entrvista emitida pelo canal STV Notícias. 26.06.2015)
Just a few questions
Alguém consegue notar alguma diferença na qualidade do desempenho do sector da comunicação e imagem entre o Ministério da Juventude e Desportos e a Empresa de electricidade? Estranhei ver a festa e o escárnio com que um jornalista (da geração 50/60, assessor da empresa de electricidade, Mariano Almeida) anunciou o afastamento de um homólogo seu (contemporâneo, até então assessor de comunicação do Minjud, António Muachilela). Que exemplo de autoridade moral nos deixam para legado esses mais-velhos? Ser vedeta em jornalismo afinal é isso?
Citação
"Às vezes o empresário promete, você vai
ao escritório dele, vê o casaco na cadeira da secretária dele, e te dizem que
não está. Mas tu sabes que ele sem casaco não sai." (Elias Dya kimwezo,
músico, falando da complexidade na obtenção de patrocínios. Programa Janela
Aberta, TPA, 26.06.15)
Diário | Não é o tipo, é o acto
Atrasada e atormentada seriam as palavras precisas para descrever a expressão facial com que a agente se apresentou ao local de serviço. O peso da aflição dava-se mesmo a ver pelo rosto suado, como se o amoníaco do seu próprio organismo lhe quisesse renovar os quarenta e tal anos que o seu bilhete de identidade indicava. Tinha cara de sono, direi, que bem condizia com a patente de sargento. Ela entra, saúda, e a maioria aguarda tacitamente por uma justificação: «Estou avir da Técnica [de Investigação Criminal]», diz ela, para a empatia das cerca de dez pessoas na sala de reuniões. «Estás com problema em casa?», indaga um dos presentes. «Yeah, tenho lá um sobrinho. Esses dias, não temos sono por causa do processo. Está preso com uns amigos», continua a sargento, sempre seguida pelo silêncio de solidariedade dos demais. «Pegaram à força uma moça do bairro». Dito isso, os rostos parecem desfazer a empatia inicial, como quem diz «bem feito!», o que veio a piorar quando a agente trouxe cá fora a voz da sua alma: «Mas a moça também já não era virgem, é mãe de dois filhos até…» O repúdio à verbalização da lógica da agente não podia ser mais colectivo. Violação é violação. Não é pelo tipo, é pelo acto.
Gociante Patissa, Lobito 23.01.2013
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Diário | A arqueologia do show-off
Como observador e cidadão, chateia-me o
pessimismo, do mesmo modo que acontece com o optimismo, quando ambos são
empolgados na venda da imagem de Angola e suas aspirações e realizações. E a
imprensa pública, por força do seu alinhamento editorial, leva-nos mesmo a ver
agulhas em tamanho de montanha. Agora há pouco, no noticiário das 13h00 da TPA,
o compatriota que fez o rescaldo da partida de hóquei em patins, em que Angola
goleou a selecção da Inglaterra por 12-0, empolgou-se um pouco demais. Senão
vejamos: que é uma victória meritória, não há dúvida. Que a nossa selecção
ganha um pouco mais de visibilidade, também estamos de acordo. Agora, destacar
de forma entusiasta que "Angola derrota assim uma selecção que foi campeã
mundial por duas vezes na década de 1930" nem é positivo. Ora, olhando
para a competitividade dos ingleses em outras modalidades, isso só mostra que o
hóquei nem é tido como tão importante assim em termos de investimento. E lá vai a tendência do nosso extremo optimismo, a procura desenfreada por vantagem
mediática. Quer dizer, desportivamente por algum momento fomos superiores ao
prestígio da selecção inglesa, mesmo que o prestígio tenha por base dois
títulos mundiais que aqueles enterraram há mais de 80 anos. Uma verdadeira
arqueologia ao serviço do show-off.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Crónica | A armadilha da infância cíclica
Ficou-me a imagem, melhor dizendo, a lição
sobre rodas. Íamos um colega e eu na cabine do Toyota land cruiser (que chamo "vagão", também conhecido como
chefe máquina). Vínhamos de mais uma das habituais reuniões de coordenação com
parceiros, ao tempo em que servi o sector das ONG's internacionais.
A nossa relação não era das mais simpáticas; de um
lado as questões geracionais, de outro a pouco definida
hierarquia, num quadro em que na prática éramos cada um "a segunda
pessoa" na estrutura.
Explico: ele era responsável administrativo, numa
época em que o posto tinha dias contados por falta de fundos autónomos, ao
passo que eu era a segunda pessoa do projecto que sustentava a instituição e
ambos reportávamos a uma só especialista "expatriada".
As férias da chefe propiciavam momentos de
proximidade entre nós, desde que eu deixasse o mais-velho julgar-se meu chefe
em coisas como assinar o livro de ponto, requisitar fundos e afins (quando na
verdade tinha já tudo planificado com a chefe e os activistas sob minha
coordenação). Pelo que o meu diálogo com o colega limitava-se ao essencial.
Continuando, voltávamos ao serviço, com ele ao volante,
quando um homem de meia-idade se pôs a atravessar a estrada sobre a rotunda de
uma intensa via, porque nacional, sem passadeira. Carregava um cesto de pães
sob o sol abrasadar, suor e salitre em sua pele, calcanhares que nem a cobra
morderia, de tão empoeiradamente húmidos. Não me lembro de o ver levantar a
cara. Seria do peso dos pães que ele não comeria ou se nutria alguma esperança
de tropeçar em qualquer nota monetária que o milagre faria germinar no chão?
Baixei o vidro, da minha janela de boleante, para
dizer qualquer coisa ao peão, capaz de lhe lembrar da condição elementar para
se atravessar uma estrada: olhar para os lados. "Deixa, Daniel...",
saiu-lhe do fundo da alma com um toque súbito no meu ombro, "é o nosso
povo!"
Calei-me, ou seja, nem fui a tempo de emitir a tal
repreensão ao "ajudeiro", que é como se chama o ganha-pão de que
empresta o dorso para carregar mercadoria de outrem, certamente nunca mais
pesada do que o fardo que é sobreviver. "É o nosso povo!"
Mas ainda hoje, sempre que oiço falar de adultos
vítimas de atropelamento, dá-me uma imensa vontade de procurar saber: mas onde
é que depois eles alienam o saber com que nos mantemos a salvo, essa coisa
mágica de olhar para os lados? E chego a pensar na armadilha da infância
cíclica. Sim, os adultos, uns pelo peso da vida, outros inebriados pela pluma
da abundância, são apanhados pela armadilha da infância cíclica. E temos de
lhes devolver os seus próprios conhecimentos e regras, com os quais nos criaram
e mostraram o mundo.
Agora que penso nisso, vem-me à memória uma
citação, segundo a qual "o homem vive aprendendo um pouco a cada dia
porque se vai esquecendo um pouco todos os dias".
Gociante Patissa, Benguela 24.06.2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
segunda-feira, 22 de junho de 2015
Citação
“Todos aqueles que se lançam ao mar não são
filhos de professores, ou de enfermeiros, ou de governantes, ou de pessoas
importantes. São filhos de pobres, cujas mães colectam plástico no lixo ou
vendem pão.”
(de uma cidadã da Tunísia que dirige uma ONG de
advocacia para que as autoridades ajudem a encontrar informações sobre pessoas
desaparecidas, depois de ver o marido sumir em Março de 2011 na emigração
ilegal para a Europa. In TPA, 22.06.15, programa sobre África)
domingo, 21 de junho de 2015
Oportunidade para quem procura publicar primeiro livro | Prémio Literário António Jacinto prorroga prazo de recepção de candidaturas
Os
interessados em participar na edição 2015 do Prémio Literário António
Jacinto podem apresentar os seus trabalhos até 31 de Julho, fruto da
prorrogação da recepção das obras concorrentes por parte da organização, o
Instituto Nacional das Indústrias Culturais (INIC). A
prorrogação da recepção das obras, que devem ser inéditas, tem como objectivo
aumentar o número de concorrentes, disse ontem ao Jornal de Angola, Gilberto Zau, responsável dos prémios do INIC.
Citação
"Devo dizer que o literário versa uso
estético da linguagem. A ideia generalista de que tudo expresso em livro é
literatura e que todo o autor de um livro é escritor não cabe nos nossos
conceitos. Não cabe em nós, de forma alguma, atribuir o adjectivo de escritor
aos autores de livros sobre biografias, literatura médica, jurídica,
sociológica, linguística e que privilegiam marcas pessoais, opiniões, juízos,
etc. Pelo menos, até este tempo e enquanto os conceitos e a fronteira entre o
literário e não literário for visivelmente invisível, não os poderemos ver como
escritores, com todo o respeito que merecem (...) Portanto, para nós, a
literatura é ainda uma manifestação artística, cuja matéria-prima é a
palavra." (Carmo Neto, Secretário-Geral da União Dos
Escritores Angolanos, entrevistado pela Angop, 19.06 de 2015)
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Crónica | Que tal acabar com o ensino da Educação Moral e Cívica?
Uma das coisas que me desesperam é a
cada vez mais acentuada postura dominante (para dizê-lo de maneira simpática) em
pré-jovens e jovens angolanos. Desespera-me por ser quase sempre pelas piores
razões que tal atitude se destaca. Tanto que até povoamos (os bons pagando
pelos ruins) no anedotário namibiano, como cheguei a acompanhar pela televisão
daquele país vizinho, onde me encontrava em gozo de férias.
O angolano é descrito como alguém que
atropela normas sociais tão elementares, como respeitar o silêncio e a ordem de
chegada. Nas relações comerciais, o angolano é conotado como sendo boçal e
mandão, algumas vezes até avaliando o valor de outrem a partir dos bens
materiais que (não) tem, entre outras coisas. É claro que generalizar é
injusto, mas não se pode ignorar que as tendências alimentam culturas.
Já por esta via cheguei a deplorar a
passividade com que aceitamos que dentro de um Hiace (táxi mini-autocarro)
qualquer passageiro decida ouvir em mãos livres a música do seu telemóvel. Lá
vamos nós construindo um "homem novo" cujo horizonte mais distante é
o que o umbigo permitir. É ver como, no trânsito, vai caindo em desuso a ordem
de prioridade, substituída no mais das vezes por aquele sorriso sarcástico de
quem se julga o maior. No meu tempo de retratista ambulante, já cobri festa de
aniversário numa residência que ficava a menos de 20 metros de uma outra em
óbito.
Se eu não cometo erros? É natural que
sim, que sou parte do problema, do mesmo modo que a utopia me obriga a pensar
que faço parte da solução. Esta ladainha foi despertada por uma cena de breves
minutos, hoje. Para não incomodar a senhora que cuida da higiene do meu
habitáculo, geralmente faço o compasso de espera na serventia, em companhia da
minha viola, do iPad e do dispositivo de internet, levo o telefone também.
Às tantas chegam quatro moços, um deles
saúda: Boa tarde, meu kota, para a minha alegre correspondência (pois na
cultura Bantu, em que a hierarquia etária é um estatuto relevante, ele fez o
que lhe cabia, tratar-me por kota, irmão mais velho, pessoa mais velha). Logo pergunta
se um dos jovens do quintal está e, enquanto eu gaguejo, uma senhora (governanta,
maior de 50 anos) responde que sim: Está mesmo ali, entra só.
A senhora borrifa o pátio, de balde à
mão, desfazendo-se da água de lavagem, na crônica inexistência de
infraestruturas de drenagem na periferia. O jovem, entretanto, impõe-se: Mãezinha,
faz favor, vai só lhe dar um toque. E a mais velha repete que ele podia muito
bem entrar pelos próprios pés. Seria mais fácil, insiste o visitante, a mãe
entrar e dizer a ele que estou aqui. Ora, "cumprir" a ordem do rapaz
implicaria da parte da trabalhadeira interromper a sua tarefa. Ela, tal como eu
em repúdio tácito, não recua: Vou dar mais toque de quê? Entra só mesmo. Aí,
obrigado a engolir a sua supremacia, o visitante disfarça: Ah, mas não tem cão
ali? E ela: Não. Entra só, bate à porta.
Onde estarão a falhar os agentes de
socialização mais representativos, nomeadamente a família, a igreja e a escola?
Será que a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC), introduzida no
currículo escolar depois de 1992, tem produzido algum impacto no perfil de
saída dos nossos estudantes? Que tal excluir o ensino da EMC? Um abraço.
Gociante
Patissa. Benguela, 18.06.2015
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Citação
“Não gosto de ler livros, porém gosto de pesquisar para me manter informada. Sempre que tenho uma dúvida, pesquiso e esclareço. Na literatura, as histórias verídicas conseguem cativar-me, a exemplo da 'Queimada Viva', marcou-me.” (Bruna Cardoso, actual Miss Benguela, in Revista Vida. 12.06.2015)
Lá fora a abordagem até é premiada quando entre nós, não sei até quando nem para agradar quem, as vítimas do colonialismo, se se pronunciam sem ser pela visão europeizada, têm de se sentir culpadas. A colonização é quase uma bênção, de tanto que a elite a relativiza | “CRÓNICA DOS ANOS DE BRASA”, a colonização segundo as suas vítimas, é o único filme africano da história a vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
O portal Rede Angola traz uma matéria interessante intitulada «A colonização segundo as suas vítimas», sobre o facto de «Crónica dos Anos de Brasa» ser o único filme africano da
história a ter vencido a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O Blog Angodebates decidiu transcrever o trecho que se segue:
«É dos filmes pioneiros a fazer a necropsia do período
colonial no ponto de vista e na língua das suas vítimas, e não de estrangeiros,
e num período em que alguns países africanos ainda estavam sob ocupação
europeia – na altura do seu lançamento em Cannes, em Maio de 1975, Angola ainda
estava sob o jugo português.» Leia matéria inteira aqui
Já agora, que tal viajar neste outro vídeo
que, entre outras coisas, defende que em Luanda as culturas se misturavam
naturalmente (quer dizer, mesmo nos momentos mais incisivos da política de
assimilariado)?
terça-feira, 16 de junho de 2015
Cancelada não foi, mas é como se fosse | Novela angolana passa a ser emita às 2h da manhã
Em notícia publicada hoje, o site Rede Angola escreve que a novela “Jikulumessu” vai continuar a ser transmitida pela RTP 1 mas com um horário diferente. A trama angolana passará a ser exibida perto das duas da manhã, quando antes era transmitida às 23 horas. Aquele site, que cita uma nota do canal português, desmente assim os rumores que apontavam para o cancelamento de “Jikulumessu”, devido aos baixos resultados da audiência.
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Diário | A nova cara do futebol mundial
"Vai ainda ver o que está a dar no canal 11", pedi eu no outro dia à minha sobrinha de pouco menos de 10 anos. E partiu a menina, obediente, na missão de espreitar a emissão televisiva por satélite. Poucos minutos depois, vem a resposta: "Tio, está a dar um programa como o da TPA, daqueles senhores que lamentam sobre o jogo." Sorri, entretanto rendido à pertinência da leitura. O futebol, no nosso caso o desporto mais popular, enquanto conteúdo jornalístico vem sendo isso mesmo: uma praça de lamentos.
Parece ser o caso (como diz a sabedoria popular) de a flecha que sai torta não alcançar o alvo com eficácia | RTP suspende emissão da novela «Jikulumessu»
"A RTP decidiu apostar na novela angolana
Jikulumessu para as noites do canal 1 de terça a sexta-feira. A estreia ocorreu
no dia 26 de maio, mas devido aos baixos resultados obtidos (uma média de 100
mil espectadores por episódio), A estação pública portuguesa (RTP) decidiu
suspender a emissão da mesma, revela na edição desta sexta-feira o site da
Televisão." Ler mais aqui
Na sequência, a actriz Marta Faial, citada pelo Jornal i lamentou da seguinte forma: “É com muita tristeza que partilho esta notícia aqui. Só posso agradecer a todos aqueles que, com as constantes mudanças de horário, falta de promoção (entre outros), não deixaram de nos seguir. Muito ainda estava para vir!”, começa por escrever, acrescentando: “Foi um projecto feito com muito trabalho e dedicação, com pessoas maravilhosas que deram o coração, o que tinham e não tinham para passar um pouco da realidade Angolana para os ecrãs através da ficção. Um projecto que se regia pela qualidade, pela exigência e pelo risco de algo novo e diferente. Foram só entre 240 mil e 100 mil espectadores em média que seguiram Jikulumessu e isso não chega a um canal que diz não ter interesse nas audiências mas sim na qualidade. Fora o desrespeito pelos espectadores que seguiam este projecto e que nem há comunicado por parte do canal tiveram direito. Pouco há a dizer”, garante.
Bem, eu (GP) que não tenho parabólica em casa, das vezes que vou a casa de um familiar, não teria dúvida nenhuma de escolha entre a série portuguesa "Bem-vindos a Beirais" e a novela angolana "Jikulumessu". O primeiro produto, mesmo retratando realidade alheia, é de longe muito mais educativo e sóbrio do que o segundo. Os portugueses, neste caso, dão um sinal de como afinal certas "sofisticações" fazem mal aos olhos, pelo que preferiram mesmo nem sequer os abrir.
Na sequência, a actriz Marta Faial, citada pelo Jornal i lamentou da seguinte forma: “É com muita tristeza que partilho esta notícia aqui. Só posso agradecer a todos aqueles que, com as constantes mudanças de horário, falta de promoção (entre outros), não deixaram de nos seguir. Muito ainda estava para vir!”, começa por escrever, acrescentando: “Foi um projecto feito com muito trabalho e dedicação, com pessoas maravilhosas que deram o coração, o que tinham e não tinham para passar um pouco da realidade Angolana para os ecrãs através da ficção. Um projecto que se regia pela qualidade, pela exigência e pelo risco de algo novo e diferente. Foram só entre 240 mil e 100 mil espectadores em média que seguiram Jikulumessu e isso não chega a um canal que diz não ter interesse nas audiências mas sim na qualidade. Fora o desrespeito pelos espectadores que seguiam este projecto e que nem há comunicado por parte do canal tiveram direito. Pouco há a dizer”, garante.
Bem, eu (GP) que não tenho parabólica em casa, das vezes que vou a casa de um familiar, não teria dúvida nenhuma de escolha entre a série portuguesa "Bem-vindos a Beirais" e a novela angolana "Jikulumessu". O primeiro produto, mesmo retratando realidade alheia, é de longe muito mais educativo e sóbrio do que o segundo. Os portugueses, neste caso, dão um sinal de como afinal certas "sofisticações" fazem mal aos olhos, pelo que preferiram mesmo nem sequer os abrir.
domingo, 14 de junho de 2015
Concordo com a citação atribuída à escritora moçambicana Chiziane. Particularmente acho que os países africanos ganhariam muito mais investindo na planificação, normatização e fomento de produção bibliográfica e ensino das suas línguas nacionais/locais do que andar atrelados a esse "cortejo" diplomáticao chamado Novo Acordo ortográfico da língua portuguesa
sábado, 13 de junho de 2015
Semanário Angolense celebra o português em sessão especial do «funji de bacalhau»
Texto
e fotos: Lucas Adão, in Semanário Angolense, 13/06/15
O
Semanário Angolense procedeu, finalmente, à entrega de um exemplar da obra «800
anos/O futuro da Língua Portuguesa», editado em Portugal a propósito do oitavo
centenário desse idioma multinacional, a cada um dos seus colaboradores que
dela participaram, em cerimónia que decorreu no restaurante Esquimó, à Vila
Alice, sob a forma de um almoço de confraternização.
O
livro «800 anos/O futuro da Língua Portuguesa» é uma colectânea de textos
escritos no ano passado por jornalistas, escritores e outros académicos de
todos os países lusófonos, no quadro de uma iniciativa do jornal português
PÚBLICO para celebrar o oitavo centenário desse idioma, celebrado a 27 de
Junho. Os autores debruçar-se-iam sobre o futuro da Língua Portuguesa à luz da
realidade local dos respectivos países.
O
Semanário Angolense participou do dossier com 11 textos, mas só sete acabaram
por figurar na colectânea, sendo dois do seu director, o jornalista Salas Neto,
e os demais dos escritores Luís Fernando, Kajim Bangala e Gociante Patissa e
dos académicos Paulo de Carvalho e Filipe Zau. O livro, editado pela «Bela e o
Monstro», numa parceria entre o PÚBLICO e um denominado «Movimento-2014», seria
lançado oficialmente a 5 de Maio último, na sede da CPLP em Lisboa, na data em
que se celebrou, pela primeira vez, o Dia Internacional da Língua Portuguesa.
Salas Neto esteve na cerimónia, tendo feito esforços no sentido de trazer a
Luanda um exemplar para cada um dos seus colaboradores, entre permanentes e
individuais, que acabaram por ser incluídos na obra.
E
foi a estes a quem se fez «solenemente» a entrega nesta sessão especial do
«Funji de Bacalhau». Entre todos, apenas o sociólogo Paulo de Carvalho não
recebeu o seu, por se encontrar no estrangeiro. Quem também esteve ausente, mas
delegou alguém para o representar na cerimónia, foi o jovem escritor Gociante
Patissa. O promotor cultural Laureano Tchoia, delegado por si, recebeu-o na sua
conta. A cerimónia acabaria por ser alargada aos membros da confraria, tendo-se
registado a presença de dois membros do seu conselho de sábios, o decano
Reginaldo Silva e o incontornável Mariano de Almeida.
Reportagem | “Queríamos ser ricos à nossa maneira” - Rui Lavrador e Cristina Mota, de executivos a artesões a tempo inteiro
Texto e fotos: Gociante
Patissa
Texto e fotos: Gociante
Patissa
Num
encontro casual mas que acabou sendo uma oportunidade ímpar de abordar os
desafios ligados à vida artística, o Blog Angodebates manteve, na quinta-feira
(11/06), uma conversa descontraída com Rui Lavrador e Cristina Mota, o casal de
executivos que um dia decidiu dar azo a uma revolução interior, abdicando dos respectivos
empregos no ramo da gestão empresarial, para se dedicar apenas à produção de
artesanato. A conversa iniciou na esplanada de um dos restaurantes à Praia
Morena e culminou com a visita às peças expostas na “Galeria34”, no mercado Kero,
Benguela.
Um novo começo
O
par Rui Lavrador (natural de Luanda, 1959) e Cristina Mota (natural do Huambo,
1962) encaixa-se no padrão comum de gente profissionalmente realizada, afinal
têm formação e experiência, não só em Angola, mas também com passagem pela Europa.
Só que falou mais alto a ruptura em busca da realização imaterial, já lá vão dois
anos.
“Ricos?
Com a idade que temos, já não acalentamos esta possibilidade. Rico é-se aos 30.
Disse então: não! Vamos ter uma rica vida, fazer o que queremos e desfrutar do
que fazemos. Queríamos ser ricos à nossa maneira. De forma que quando viemos para
Benguela, viemos com este propósito. Despedimo-nos das empresas onde estávamos
e arriscamos”, conta Rui, fazendo alusão ao modo agitado de vida na capital do
país.
É
uma decisão um pouco radical, não? À nossa provocação, Rui foi peremptório: “É,
e com alguma coragem! Estamos já na casa dos 50. Sabe que são decisões que
muitas das vezes nem os jovens tomam. Ponderam”, frisou, para logo acrescentar:
“Decidimos que Luanda já não era sítio para vivermos, não tinha qualidade de
vida.” E como os holofotes do mercado tendem a incidir sobre a música, a dança
e alguma literatura, quisemos saber se no artesanato a clientela satisfaz. Quanto
a isso, Cristina não tem dúvidas: “Satisfaz! Tem sido muito boa. Acho que até
ultrapassou as expectativas”.
Embora
tendo nascido no Huambo, foi na cidade do Lobito que Cristina viveu a sua
infância. E ao longo destes anos, o casal vinha cá passar o fim-de-semana sempre
que as folgas laborais o permitissem. “Numa dessas viagens, compramos umas cabaças
no Kwanza-Sul. E começamos o nosso trabalho manual aí. A Cristina já tinha
algum passado nessa área porque, nos tempos disponíveis, ia transformando chinelas
em um fim qualquer. Começamos a fazer as cabaças decorativas, as pessoas
gostaram e nasceu aqui a ideia de ir desenvolvendo o trabalho artesanal e a
nossa habilidade”, lembrou Rui.
Projecto Artesanato Angola CR
e a transposição dos indicadores de forma
Inscrito
na União Nacional dos Artistas Plásticos (Unap) e na representação do
Ministério da Cultura em Benguela, o projecto “Artesanato Angola” tem obras
expostas em galerias e unidades hoteleiras nas províncias de Benguela, Kwanza-sul
e Luanda. Huila é o próximo passo. Outro reconhecimento relevante prende-se com
a presença na Expo Milão, Itália, com obras requisitadas para o pavilhão de
Angola.
“Temos
vendido essencialmente para cidadãos nacionais – têm sido os nossos principais
clientes –, a alguns estrangeiros. Temos recebido muitas solicitações para o exterior.
Daí que nós, nos próximos meses, possamos vir a dar andamento a projectos que
já temos em mente, que era o desenvolvimento de uma escola de formação
profissional, com toda a disponibilidade, desde o início, manifestada pelo
Instituto Piaget", disse Rui.
Com
a estética assente numa constante reinvenção e até mesmo transposição dos seus
próprios indicadores de forma, onde fragmentos da natureza morta renascem, por
exemplo, em simbiose com dispositivos eléctricos, as obras deste projecto remetem
o apreciador à sensação de “rio sem margem” (se o leitor nos permite cabular o escritor Zetho Cunha Gonçalves).
“Nós
estamos classificados pela Unap como artistas plásticos. Também nos consideram
escultores. Aqui em Benguela, obtivemos na Cultura o certificado de artesãos. Obviamente
esses títulos nunca foram coisas que nos preocupassem muito. Queremos é trabalhar
dentro da legalidade”, defende Rui Lavrador.
E
quanto ao nome Artesanato Angola CR,
Rui declarou que nasceu pela facilidade de posicionamento nas redes sociais e
por ser também um objectivo incentivar os artesões a perceberem que há caminhos
para além daquilo que têm feito até agora. “Trazemos uma visão do mundo, da
cultura lá de fora e é um testemunho que queremos passar a artesões locais que
não tenham beneficiado desta experiência de viajar, conhecer outras culturas. E
depois porque, de alguma forma, foram cilindrados pelo comércio da arte vindo
da Ásia (arte entre aspas, porque aquilo, de arte, não tem nada)", rebateu.
Este
ponto está ligado, aliás, à vertente honestidade intelectual, pois é fácil constatar,
nos nossos mercados, um amontoado de cópias à venda, quando o ideal de arte
reside em ser-se peça única. “Isso já passa pela Cultura. Porque a Cultura tem
que fazer o cadastramento dos artesões e tem que ter a certeza que aquela
pessoa que está ali é um artesão, que dali vai sair uma peça de artesanato. Quem
gosta de arte, quem percebe de arte, sabe ver a diferença entre uma réplica e uma
obra original”, asseverou Cristina.
Artesanato no Brasil representa dois por
cento do PIB
As
necessidades de apoio do projecto incluem ferramentas de trabalho, o fomento de
espaços destinados a trocas de experiência entre fazedores de arte, bem como a
bonificação dos custos de viagens, tomando em conta o volume e peso das obras. Mas
não há, como dizem, um constrangimento que não aguce o engenho. E porque de cumplicidade,
determinação e sonhos se faz a estrada de êxitos do casal, Rui e Cristina
ambicionam efectivar o sonho da escola de formação profissional.
“Pensamos
sempre e por aquilo que temos ouvido do que se faz lá fora. O Brasil tem a
maior indústria de artesanato do mundo, representa quase dois por cento do Produto
Interno Bruto, é uma soma de umas largas centenas de milhões de dólares por ano.
Emprega umas largas dezenas de milhares de pessoas”.
O
êxito brasileiro, segundo o nosso interlocutor, tem por base a constituição de
cooperativas, o incentivo ao trabalho do artesão, a canalização do trabalho
produzido para centrais que posteriormente distribuem para todo o território o
artesanato nacional. “O essencial nisso é a formação. Formar os jovens para
poderem desenvolver o trabalho sozinhos e criar fontes de rendimento para si e
para as famílias”, conclui Cristina.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Diário | Agenda cultural à deriva
Uma das questões que teremos de repensar quando houver tempo é a secundarização que se assiste do lugar da cultura. Na nossa comunicação social, regra geral, a grande maioria da pauta cobre política. Parece que nos esquecemos de que só uma pessoa culturalmente rica pode ser um bom político. Indo ao site da Angop, por exemplo, política aparece no topo, é destaque; cultura aparece em baixo, acoplada ao lazer. Posto isso, não é de estranhar o seguinte espectro: em muitos órgãos da nossa imprensa, há editores de política, de desporto e até de sociedade. Já para cultura, qualquer um pode fazer. Parece prevalecer uma visão de agenda cultural enquanto desfile de actuação para assinalar efeméride ou quando convém agradar o turista (África e o mundo) com breves minutos de folclore. É o que acho e estou pronto para comemorar se alguém me disser que não passa de um engano meu de óptica.
Gociante Patissa, Lobito, 11.06.15quarta-feira, 10 de junho de 2015
Citação
"Há mesmo quem faça da crítica
inconsequente um modo de vida, um triste modo de vida." (Cavaco Silva,
presidente português. In RTP, 10.06.15)
terça-feira, 9 de junho de 2015
Reforço de stock | O KERO do Lobito já tem "aos montes" a minha colectânea de contos FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS
Livro publicado no quadro da Bolsa LER ANGOLA,
115 páginas, edição do GRECIMA (2014), depois de ter sido uma três finalistas
vencidas do Prémio Sagrada Esperança, da Fundação Agostinho Neto em 2013 e pelo
júri recomendado para publicação "devido ao seu alcance pedagógico".
Custa quinhentos kwanzas. Obrigado
Resumo | O Conto A Última Ouvinte “Fez-Me Reflectir Muito Sobre A Minha Vida”
NOTA PRÉVIA: O
presente resumo foi o primeiro classificado de um concurso que visou estimular
os hábitos de escrita criativa entre adolescentes (alunos da 10.ª classe),
levado a cabo pelo Instituto Médio de
Administração e Gestão (IMAG), município da Catumbela, a 02 de Abril, para
assinalar o Dia Mundial da Leitura Infantil. Foi matéria de análise o
conto A Última Ouvinte, da obra com o mesmo nome e publicada pela União dos
Escritores Angolanos em 2010, do escritor Gociante Patissa. Os concorrentes tiveram
acesso ao conto alguns dias antes para assim elaborarem um texto baseado nas
suas interpretações e sensibilidade, com um mínimo de 200 palavras.
ANÁLISE DO CONTO A ÚLTIMA
OUVINTE
Segundo o texto que nos foi atribuído,
fui examinando e interpretando e cheguei à seguinte conclusão:
O texto faz reflectir exactamente
naquilo que pode acontecer nas nossas vidas ou na vida de toda gente. O som da
rádio, a voz de um radialista, muitas vezes nos dá a imagem de uma pessoa
bonita e elegante.
A nossa mente muita vezes nos faz
imaginar em coisas que nem sempre vão de acordo com a realidade. Essa mensagem
tem um lado moral, e o moral da história é: hoje em dia muitas pessoas gostam
de acreditar nas coisas que não vão de acordo com a vida real, as pessoas são um
tanto quanto imediatistas e não gostam de observar para crer, fazem da
imaginação a plena realidade dos factos mas a verdade não se conhece pelo
pensamento. O quadro imaginário ou estereótipo não é a verdade das coisas que
pensamos. Tudo isso tem a ver com aquilo que a psicologia chama de emoção. Se
olharmos na etimologia do termo emoção, do latim (emove) significa “deslocado”,
e a emoção funciona como uma brisa que apaga a voz da razão.
Um exemplo prático, sempre que eu
ouvia a voz do radialista Firmino “Tula”, eu pensava que fosse uma pessoa
idosa, mas afinal não é. E o Cassule cometeu um erro ao apaixonar-se pelo tom
da voz da ouvinte Esperança da Graça. A voz não é o todo de uma personalidade,
ela é apenas uma parte, um elemento da personalidade. Precisamos de ver para
crer e não crer para ver. Nem tudo aquilo que se diz é para crer, precisamos analisar
antes de partir para o objectivo. E o Cassule era um homem, que desde pequeno
com os seus nove anos trabalhava no comando das FAPLAS onde começou a lavar loiça
naquele tempo. Ele recebeu este nome porque ele era mais pequeno. Ou seja, o
mais novo dentre eles, e os demais chamavam-lhe de Cassule. Ele de um dia para
o outro tornou-se tropa, mas tropa inexperiente, ainda tinha nenhuma experiência,
e foi colocado na retaguarda onde ele aprendeu a ser radista. Já era o sonho
dele desde miúdo, e ele sempre dizia que um dia seria jornalista.
Nós não devemos desistir dos nossos
sonhos, mesmo se impossíveis eles forem, mais persistência devemos ter. Nós devemos
ter fé porque a fé é a base de tudo nas nossas vidas, porque afinal de contas
quem crê… prospera.
E certo dia Cassule acabou por ficar
desmoralizado, ele tinha perdido esperança de acreditar nos seus sonhos, quando
ele soube que não ia ser liberto na paz de 1992, mas mesmo assim ele não perdeu
o ânimo e ergueu a sua cabeça e manteve-se firme, contentando-se com o que lhe
tinha acontecido. Depois de algum tempo adoeceu e foi quando ele apercebeu-se de
que o país todo estava com ele e que o apoiava. Sem família, Cassule pediu
transferência para Benguela e hospedou-se numa escola militar.
E
o Cassule apaixonou-se pela voz da Esperança da Graça como nós já sabemos, o
amor é a base de tudo na vida do homem, mas desde que seja um amor puro e
verdadeiro. Uma pessoa apaixonada é capaz de tudo para encontrar a pessoa
amada. Então Cassule de tão apaixonado, não conseguia tirar o nome da Esperança
e o seu tom de voz suave e sensual, então ele naquela curiosidade de conhecer-lha
pessoalmente persistiu e foi usando os seus métodos para poder encontrar-lha e
finalmente conseguiu.
Deram-lhe o endereço da casa dela. A
pessoa que ele pensava que fosse afinal não era.
Esperança era uma mulher tetraplégica,
ela tinha os braços e as pernas magras, ela era deficiente, apesar do estado em
que se encontrava ela mantinha sempre a sua fé firme.
Muitas vezes a gente, sendo diferente
das outras pessoas, só porque nos achamos inferiores perante a sociedade,
mantemos a nossa auto-estima em baixo. Achando que não somo capazes de fazer
aquilo que os outros fazem. Só porque somos diferentes, mas se nós tivermos fé
e força de vontade, podemos ir mais além do que podemos imaginar. Nos devemos
aguentar firmes e não desistir, porque afinal de conta as crises e as dores
acontecem, mas chega uma hora onde elas têm seu fim.
Cassule não desprezou Esperança por
ela estar naquele estado, ele sentiu-se um pouco estranho e pensativo por se ter
deparado com aquela situação, mas nem por isso ignorou ou zombou da Esperança.
Ao contrário ele teve o privilégio de ouvi-la e de poder conhecer a sua
história, e a partir desse dia ele tornou-se amigo dela e passou a visita-la
sempre que podia.
Mas infelizmente Esperança da Graça, do
seu nome verdadeiro Marta Domingos, acabou por falecer e o Cassule acabou por
ficar sozinho.
Esperança da Graça apesar de ter uma
vida de muito sofrimento não se sentia tímida nem teve receio pelo seu estado,
mas sim manteve sem auto-estima e um lindo sorriso no rosto.
Essa história fez-me reflectir muito
sobre a minha vida e com ela aprendi que nunca devo arrepender-me porque sou
assim, porque as vezes as pessoas riem-se de mim, subestimando a minha
capacidade de ser, o que eu devo fazer é aceitar-me do jeito que sou[1] e
manter sempre a minha auto-estima perante a sociedade, porque afinal de contas
Deus sabe o que faz. Se Ele quis que eu fosse assim, quem sou eu para poder
repreendê-lo? Deus sempre apega-se nas coisas pequenas para surpreender as
coisas grandes.
Nós devemos aprender a viver, de
verdade, bem, de maneira normal. De resto, as coisas vêm com o tempo, porque
talento é trabalho, querer é poder.
[1] Tal como a personagem Esperança, a adolescente Maria Sicato, autora do presente resumo, é outro exemplo de
persistência, dada a condição de vítima de uma deficiência congénita que lhe
atrofiou os membros superiores e inferiores.
segunda-feira, 8 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
Diário| Monólogo de bar
"Essa coisa de igreja, a história de Jesus
é a coisa mais controversa do mundo. Nascer num curral de bois? Com tantas
casas? E essa de nascer de mulher virgem?... Ultimamente foi uma dessas
testemunhas de Jeová para me mobilizar. Eu lhe disse: minha irmã, não é querer
me pôr em cima; olhando para a minha idade e a tua, quem começou a ler a bíblia
primeiro? E ela: Ah, é o kota. E eu falei: Então?! Tudo o que você quer me
dizer eu já sei. A Bíblia resume-se nos dez mandamentos, e a pessoa cumpre se
quiser!"
(De um conterrâneo desconhecido, já com a força
dos copos)
sábado, 6 de junho de 2015
Citação
"Tudo o que é manifestação cultural, venha ele de onde vier, deve ser apreciado. Quando vemos a cultura de outros povos, temos de apreciar para poder valorizar. Mas cometeremos um grande erro se nós não apreciarmos o que é nosso."
(de um interlocutor do grupo folclórico Kamatemba, etnia Nyaneka Nkhumbi, região da Huila e Namibe. In "Nós e a Noite", magazine semanal da TPA. 06.06.15)
Diário | "Welcome miss universe to new york..."
As figuras que aprecem nesta foto, feita em
2011, voltaram a estar em destaque na imprensa mundial, se é que alguma vez
conseguiram andar longe disso. A vida destes amigos não mais voltará a ser a
mesma depois dos acontecimentos da semana passada, cada um ao seu lado,
obviamente, e com um compromisso de natureza diferente: ela, certamente, de
sorrisos rasgados, ao passo que ele, não menos certamente, de lágrimas
rasgadas. Trata-se de Leila Lopes,
angolana eleita Miss Universo 2011, que se casou na semana passada, e de Chuck
Blazer, o norte-americano dirigente da FIFA que foi a porta de entrada da
investigação que derrubou o trono de Joseph Blatter. A selfie foi captada por
Blazer e publicada no seu Blog, "Travels with Chuck Blazer and
his Friends...», sob o título "Welcome Miss Universe to New York...",
e documenta um encontro de cortesia que teve lugar em Nova Yorque (datado de 30.09.2011),
enquadrado na agenda oficial da Miss Universo, a "nossa" Leila. É
caso para dizer que nunca se sabe quão "suja" é a mão que apertamos.
Gociante Patissa, Benguela, 06.06.15
Acabei de receber, ainda a cheirar à tinta da caneta com o que autor o autografou para mim, o romance «Filho Querido» (Luanda, 2015), do escritor Roderick Nehone.
Com 200 páginas, o livro é uma co-edição da União
Dos Escritores Angolanos e da Texto
Editores, do grupo português Leya. Obrigado
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Utilidade pública | Bolsa literária procura propostas (originais) para publicação
As inscrições encerram no final de Junho. Os
originais (projectos de livro em escrita criativa) aprovados conformarão a 2.ª
Edição dos "Novos Autores", cabendo a cada autor 250 mil kwanzas, a
publicação e a divulgação da obra. Ver regulamento aqui. Para contactar a entidade organizadora, pode
recorrer ao e-mail geral@lerangola.com
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Diário | Inovando no puxa-saco
De acordo com o site Ugandans At Heart (UAH), o facto ocorreu em Agosto de
2014, com o presidente do districto de Buikwe, Mathias Kigongo, a ajoelhar-se à
passagem do presidente Ugandês, Museveni.
(do arquivo) Crónica | À PESCA COM GRILO
Grilo - Foto de autor desconhecido |
A vontade de sair um pouco da zona de
conforto que tem sido a escrita criativa levou-me, no outro dia, à mais
carismática tabacaria do Mercado Municipal de Benguela.
A pensar num possível ensaio para manter
regular a intermitência, passe o paradoxo, na colaboração que presto ao
quinzenal Jornal Cultura, procurava livros. Livros que tratassem do infinito
espaço etnolinguístico que conforma a actual República de Angola, o que
certamente é indissociável da dialéctica presença colonial portuguesa.
Um à parte. Conheci o proprietário da
tabacaria inicialmente como conhecemos as figuras públicas. Rosto, nome e
intervenções na imprensa. Num segundo momento abordei-o, quer em reportagens em
directo via telefone, quer com a sua presença em estúdio, no contexto do
programa “Viver para Vencer”, que coordenei e conduzi durante alguns anos
através da Rádio Morena Comercial ao serviço da AJS (Associação Juvenil para a
Solidariedade, organização não governamental). Passei a ter com ele um contacto
mais individual quando saiu o meu livro de estreia, em Maio de 2008.
O dono da tabacaria viria a juntar-se ao
grupo de almas que me vêm amparando nessa busca por projecção, em Angola e fora
dela, cada a seu jeito e circunstância. Têm sido cinco anos de intensa
produção, safra que pouco significado teria sem a simpatia dos leitores,
editores, escritores, profissionais de imprensa, pessoas amigas (aqui com
grande realce à proximidade considerada virtual). Se me permitem a
inconfidência, foi preciso muito insistir para que ele aceitasse receber a
percentagem que lhe cabia por cada livro vendido, pois entendia ser sua missão
ajudar-me a divulgar o material.
Retomando o prumo. Procurava livros de
ArJaGo (Armindo Jaime Gomes) sobre o poder tradicional. O livreiro, que trato
por tio e me dá atenção especial (de conselhos a refeições que faz questão de
custear quando cruzamos em algum restaurante), recebeu com reticências o meu
pedido. Lá trouxe do arquivo morto o que pedi e um bónus, o livro de poesia do
desportista Nando Jordão. E o preço? Nada! Oferta da casa.
Apanhado sem jeito em mais um gesto de boa
vontade, recorri ao meu sentido de retórica para mostrar que, sendo inegável a
gratidão, sentia-me mal pelas implicações às suas economias. Aí, o livreiro
auto-didacta, que tem no prelo um volumoso livro de memórias de Benguela,
largou as contas e partilhou mais alguns conselhos.
Ele disse ter a certeza de que eu não
caçava nota escolar, moda que vê como ameaça para a consistência dos futuros
quadros. Sabes o que o pescador faz? Indagou-me. Respondi que não, prevendo já
uma parábola. O pescador avia-se em terra, não sai confiando só no que vai
apanhar. E se o mar não for generoso? Já pensaste nisso? As pessoas não se
empenham, vão à escola e não cultivam a sua cultura geral!
Aceitemos, pois, a lição do pescador, em
mais um nutritivo contacto com o livreiro Joaquim Grilo, que dá nome à
tabacaria.
Gociante Patissa, Benguela 17 Novembro de
2013
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Denúncia | Mais uma foto de minha autoria foi publicada indevidamente no Jornal de Angola (tiraram-na do meu blog, apagaram a marca d'água e atribuiram autoria a um tal de DR)
Não consegui, ó mãe
Não consegui, ó mãe
Mas não o digas aos meus irmãos
Nem ao pai
Diz-lhes que cheguei a esse lugar
De que tanto nos falava o avô
Onde os tanques deitam água
E as balas são de caramelo
Que aqui não me falta o pão
Nem dinheiro para pagar.
Que continuem a lutar
Por um mundo melhor.
Diz-lhes que vivo em Itália
E que o meu barco não se afundou
(Texto e foto: Patricia
Vitorique, assistente humanitária ao serviço da Médicos Sem
Fronteiras. Traduzido do original em Espanhol)