NOTA PRÉVIA: O
presente resumo foi o primeiro classificado de um concurso que visou estimular
os hábitos de escrita criativa entre adolescentes (alunos da 10.ª classe),
levado a cabo pelo Instituto Médio de
Administração e Gestão (IMAG), município da Catumbela, a 02 de Abril, para
assinalar o Dia Mundial da Leitura Infantil. Foi matéria de análise o
conto A Última Ouvinte, da obra com o mesmo nome e publicada pela União dos
Escritores Angolanos em 2010, do escritor Gociante Patissa. Os concorrentes tiveram
acesso ao conto alguns dias antes para assim elaborarem um texto baseado nas
suas interpretações e sensibilidade, com um mínimo de 200 palavras.
ANÁLISE DO CONTO A ÚLTIMA
OUVINTE
Segundo o texto que nos foi atribuído,
fui examinando e interpretando e cheguei à seguinte conclusão:
O texto faz reflectir exactamente
naquilo que pode acontecer nas nossas vidas ou na vida de toda gente. O som da
rádio, a voz de um radialista, muitas vezes nos dá a imagem de uma pessoa
bonita e elegante.
A nossa mente muita vezes nos faz
imaginar em coisas que nem sempre vão de acordo com a realidade. Essa mensagem
tem um lado moral, e o moral da história é: hoje em dia muitas pessoas gostam
de acreditar nas coisas que não vão de acordo com a vida real, as pessoas são um
tanto quanto imediatistas e não gostam de observar para crer, fazem da
imaginação a plena realidade dos factos mas a verdade não se conhece pelo
pensamento. O quadro imaginário ou estereótipo não é a verdade das coisas que
pensamos. Tudo isso tem a ver com aquilo que a psicologia chama de emoção. Se
olharmos na etimologia do termo emoção, do latim (emove) significa “deslocado”,
e a emoção funciona como uma brisa que apaga a voz da razão.
Um exemplo prático, sempre que eu
ouvia a voz do radialista Firmino “Tula”, eu pensava que fosse uma pessoa
idosa, mas afinal não é. E o Cassule cometeu um erro ao apaixonar-se pelo tom
da voz da ouvinte Esperança da Graça. A voz não é o todo de uma personalidade,
ela é apenas uma parte, um elemento da personalidade. Precisamos de ver para
crer e não crer para ver. Nem tudo aquilo que se diz é para crer, precisamos analisar
antes de partir para o objectivo. E o Cassule era um homem, que desde pequeno
com os seus nove anos trabalhava no comando das FAPLAS onde começou a lavar loiça
naquele tempo. Ele recebeu este nome porque ele era mais pequeno. Ou seja, o
mais novo dentre eles, e os demais chamavam-lhe de Cassule. Ele de um dia para
o outro tornou-se tropa, mas tropa inexperiente, ainda tinha nenhuma experiência,
e foi colocado na retaguarda onde ele aprendeu a ser radista. Já era o sonho
dele desde miúdo, e ele sempre dizia que um dia seria jornalista.
Nós não devemos desistir dos nossos
sonhos, mesmo se impossíveis eles forem, mais persistência devemos ter. Nós devemos
ter fé porque a fé é a base de tudo nas nossas vidas, porque afinal de contas
quem crê… prospera.
E certo dia Cassule acabou por ficar
desmoralizado, ele tinha perdido esperança de acreditar nos seus sonhos, quando
ele soube que não ia ser liberto na paz de 1992, mas mesmo assim ele não perdeu
o ânimo e ergueu a sua cabeça e manteve-se firme, contentando-se com o que lhe
tinha acontecido. Depois de algum tempo adoeceu e foi quando ele apercebeu-se de
que o país todo estava com ele e que o apoiava. Sem família, Cassule pediu
transferência para Benguela e hospedou-se numa escola militar.
E
o Cassule apaixonou-se pela voz da Esperança da Graça como nós já sabemos, o
amor é a base de tudo na vida do homem, mas desde que seja um amor puro e
verdadeiro. Uma pessoa apaixonada é capaz de tudo para encontrar a pessoa
amada. Então Cassule de tão apaixonado, não conseguia tirar o nome da Esperança
e o seu tom de voz suave e sensual, então ele naquela curiosidade de conhecer-lha
pessoalmente persistiu e foi usando os seus métodos para poder encontrar-lha e
finalmente conseguiu.
Deram-lhe o endereço da casa dela. A
pessoa que ele pensava que fosse afinal não era.
Esperança era uma mulher tetraplégica,
ela tinha os braços e as pernas magras, ela era deficiente, apesar do estado em
que se encontrava ela mantinha sempre a sua fé firme.
Muitas vezes a gente, sendo diferente
das outras pessoas, só porque nos achamos inferiores perante a sociedade,
mantemos a nossa auto-estima em baixo. Achando que não somo capazes de fazer
aquilo que os outros fazem. Só porque somos diferentes, mas se nós tivermos fé
e força de vontade, podemos ir mais além do que podemos imaginar. Nos devemos
aguentar firmes e não desistir, porque afinal de conta as crises e as dores
acontecem, mas chega uma hora onde elas têm seu fim.
Cassule não desprezou Esperança por
ela estar naquele estado, ele sentiu-se um pouco estranho e pensativo por se ter
deparado com aquela situação, mas nem por isso ignorou ou zombou da Esperança.
Ao contrário ele teve o privilégio de ouvi-la e de poder conhecer a sua
história, e a partir desse dia ele tornou-se amigo dela e passou a visita-la
sempre que podia.
Mas infelizmente Esperança da Graça, do
seu nome verdadeiro Marta Domingos, acabou por falecer e o Cassule acabou por
ficar sozinho.
Esperança da Graça apesar de ter uma
vida de muito sofrimento não se sentia tímida nem teve receio pelo seu estado,
mas sim manteve sem auto-estima e um lindo sorriso no rosto.
Essa história fez-me reflectir muito
sobre a minha vida e com ela aprendi que nunca devo arrepender-me porque sou
assim, porque as vezes as pessoas riem-se de mim, subestimando a minha
capacidade de ser, o que eu devo fazer é aceitar-me do jeito que sou[1] e
manter sempre a minha auto-estima perante a sociedade, porque afinal de contas
Deus sabe o que faz. Se Ele quis que eu fosse assim, quem sou eu para poder
repreendê-lo? Deus sempre apega-se nas coisas pequenas para surpreender as
coisas grandes.
Nós devemos aprender a viver, de
verdade, bem, de maneira normal. De resto, as coisas vêm com o tempo, porque
talento é trabalho, querer é poder.
[1] Tal como a personagem Esperança, a adolescente Maria Sicato, autora do presente resumo, é outro exemplo de
persistência, dada a condição de vítima de uma deficiência congénita que lhe
atrofiou os membros superiores e inferiores.
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