Ninguém nasce escritor, torna-se escritor. E,
às vezes, plagiando outros escritores. Como eu
mesmo faço, neste instante, com a frase aí acima, surrupiada de
Simone de Beauvoir, que afirmava que ninguém nascia mulher, tornava-se mulher.
Bem, mas a frase inicial de meu texto não é um plágio, ou é apenas um plágio
parcial. A esses, chamamos de pastichos, releituras, paráfrases. E eles são muito bem-vindos na área da literatura. São até um índice de
pós-modernidade.
E o plágio-plágio, o que seria? Aquilo que fez
Paulo Coelho, denunciado por Moacy r Scliar? O mago publicou um conto de Franz
Kafka como sendo dele, Coelho. Scliar não teve dúvida: publicou em fac-símile
os dois textos, revelando a fraude. Ou o que fez Shakespeare, que escreveu
apenas 1.899 versos dos 6.043 que são tidos como seus? Shakespeare não teve
nenhum pudor em plagiar Robert Greene, Marlowe, Lodge, Peele, entre outros. E
nem por isso o achincalhamos.
Certo, temos uma confortável explicação
sociológica: ao tempo do Bardo, o plágio não era crime, pois não havia ainda a
noção de propriedade intelectual, surgida com as leis de copyright. Plagiar,
então, era uma homenagem, um gesto de gratidão. Significava: gostei tanto do
que escreveste que o tomei para mim. Mas os tempos mudaram. Hoje, Shakespeare
seria processado e certamente pagaria pesadas indenizações. Às vezes, apanho
meus alunos de Escrita Criativa com a mão na massa. Aliás, com a mão no texto
(alheio)! São jovens, estão açodados pelo excesso de atividades acadêmicas,
vivem num mundo que lhes facilita o copy and paste. E supõem, ingenuamente, que
eu não vá perceber. Aí, aproveito para lhes dar noções básicas sobre a
Convenção de Genebra, a de Paris, a Lei Brasileira de Direito Autoral.
Mostro-lhes o Código Penal, que tipifica o crime.
- Charles Kiefer.- Para ser Escritor,
conforme publicado na página Facbook de O Cronista
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