Somos três no Toyota quadradinho azul-e-branco mais
alguns. Explico: Num transporte público, só contam aqueles que conhecemos. Os
demais são passageiros, e ponto final. Final, nada!, que a história nem
começou. Pronto, é mais um dia, igual aos outros, ou menos igual até, pela
positiva, tendo em conta a dispensa no período da tarde. Festival de buzinas num
lado, ultrapassagens nada aconselháveis noutro, autoritarismo do cobrador para a
ensanduichada lotação, mais o polícia - umas vezes temido, já outras… Num liga
só, isso mais é fome, pá; nem mi-li kwanza n’um conseguiu fazer ainda. Os que
descem, sóbrios, outros que nem deviam subir, tão ébrios e tagarelas mais o
hálito de chaminé de alambique. Multiperfil-Futungo-Benfica!!!, umas vezes de
cem, outras de duzentos. O mesmo sonante pregão, o mesmo preçário, de quando em vez divergindo: Multiperfil-Kikagil-Benfica!!! Mais uma paragem no Rocha. Já agora,
quem foi esse Rocha Pinto? N'um sei. E Kikagil? É um atrapalhado que vendia
cabrité e bebida com ambiente de sentadas no fim-de-semana tão bem, agora
entendeu retocar aquilo como restaurante, foi só perder 'mbora os
"qui-li-ientes". P’ra quê só?! Depois entra uma senhora com bebé ao colo e menina que
aparenta oito anos, trazidos à porta deslizante de Hiace pela avó dos menores.
Fecha 'mbora o vidro por causa do vento na criança. Aqui atrás é um inferno,
mãe, tem mais vento?! Menina tem que sentar na bochecha do guarda-lamas,
saliente em meio-arco no interior, sim, porque n'um vai pagar. Mãe da menina
vai à janela. Às tantas, um eufórico acenar pela janela para um carrito
raquítico que faz ultrapassagem, dessas apressadas, para não sair do lugar, trânsito
a passo de cágado com cólicas. Não cabe em si de contente a mãe, que procura
partilhar imediatamente a emoção com a filha de oito anos, ocupante do guarda-lama.
Viste o tio Beto? Se vi quem, mamã? O tio Beto. Não; está onde? No carro do
tio Coelho. Ó mamã, mas por que é que o nome dele é Coelho? Será que salta? E a
risada toma conta do carro, geral mesmo, vivendo a piada, menos eu, sempre distraído
a comer Internet pelo telemóvel para minimizar o stress. Ah, vai a tempo de o
colega me alertar e, porque também mereço, gozo, rebuscando a criançada da
banda que costuma cantar coelho salta, coelho salta. Tem razão a menina. Por que
é que o nome dele é Coelho? Será que salta?
Gociante Patissa, Luanda 4 Agosto 2014 (imagem de
autor desconhecido)
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