Autora: Ana Faria
Apartir de Janeiro de 2008, todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deverão passar a adoptar a mesma ortografia, ao abrigo das últimas decisões tomadas para implementação do Acordo Ortográfico. O nosso país é membro desta comunidade e, como tal, vemo-nos abrangidos por essa medida. Daí, é importante que analisemos até que ponto a aplicação das resoluções deste acordo sobre a ortografia da língua portuguesa , a única que nos serve de veículo de comunicação e expressão oficial por todo o território e fora dele , nos traz mais vantagens do que desvantagens quer ao nível institucional, quer ao nível das comunidades e dos indivíduos.
Na base da argumentação para este Acordo pode –se ler que , sendo o português a terceira língua ocidental mais falada depois do inglês e do espanhol, a existência de duas ortografias "atrapalha" a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Por outro lado, advoga-se que a unificação ortográfica facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros. Se as justificações para as mudanças são estas, não é legítimo perguntar: que tipo de interesses se escondem por detrás destes argumentos, e muito mais quando se sabe que o Brasil é a "potência" que mais vibra e pressiona, com um horizonte de cerca de duas centenas de milhões de falantes? Se as modificações ortográficas propostas no Acordo resultam em 1,6% de alterações para a Língua Portuguesa escrita em Portugal (e, concomitantemente, em Angola) e apenas 0,45% para o Português do Brasil, que impacto terá essa predominância da grafia brasileira no mercado de importação de livros ao nível da CPLP? E em termos de acordos de cooperação entre estados, nomeadamente em matéria de formação de professores de português de que Angola tanto precisa , como vêem os brasileiros este mercado e que vantagens estão já a tirar dele?
O nosso grande problema é que, no nosso país, os técnicos nacionais (somos poucos, sim, mas existimos!) são denegridos a toda a hora em favor de estrangeiros que nem sequer têm a humildade de reconhecer que em Angola também existe massa cinzenta, que tem e produz saber e que não produz mais porque não é devidamente apoiada pelo estado/governo. Trocado em miúdos: o Acordo Ortográfico deveria ter sido discutido e analisado com o concurso dos mais dignos representantes da classe docente que ensina a Língua Portuguesa. Como não o foi, corremos o risco de aplicar resoluções que, na fase actual , poderão atrapalhar (isso sim!) o trabalho dos técnicos angolanos que trabalham com o Português falado e escrito, tentando imprimir-lhe as regras/normas que fazem muita falta a um correcto e eficiente processo de comunicação e expressão pelas comunidades e indivíduos que são daqui, aqui vivem e se reproduzem E PRECISAM DE SE ENTENDER EM PORTUGUÊS.
Por enquanto, limito-me a debitar algumas opiniões avulsas porque estou preocupada com o assunto e tenho responsabilidades na praça. Eu acho que o Português falado e escrito em Angola também reflecte o estado de confusão geral vivido de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste, numa só palavra: ausência de regras, primado do individualismo. Nas instituições do estado é o mesmo português que impera, falado e escrito, hoje, pela grande massa de jovens saídos das escolas e universidades.
O que está a faltar é uma eficiente política de estado para o estudo, a promoção e a difusão da Língua Portuguesa em Angola, sem preconceitos nem subterfúgios. O caminho que devemos percorrer já está traçado: é a constituição de um Português de Angola, autêntico e enriquecido por todas as variantes regionais e idiolectos de que o nosso país multicultural, multiétnico e pluri-linguístico é composto. Tal como o Português do Brasil, o de Portugal, o de Moçambique, o de Cabo Verde, o da Guiné –Bissau, o de São Tomé e Príncipe e o de Timor –leste, todos eles considerados variantes do Português . E isto não é nada de novo: assim como temos as variantes do Inglês da Grã-Bretanha, o inglês americano, o australiano, o sul-africano, o indiano, o paquistanês, etc, etc. Basta consultar um bom dicionário de Inglês monolingue e lá encontraremos especificados todos os registos destas variantes. E o ensino da língua inglesa, para os nativos ou os estrangeiros, em nada viu/vê seu desempenho afectado pelo facto de se escrever "centre"(ing. britânico) ou "center"(ing. americano).
Em conclusão, resta-me dizer que isto é um assunto que merece muito mais discussão por parte de todos os angolanos, primeiro, e depois, por parte de todos os membros da CPLP, a saber, linguistas, professores, deputados, homens e mulheres de cultura, políticos, comunidades e indivíduos, pois só a partir daí poderá o Governo orientar-se no sentido de um traçar de políticas objectivas e coerentes para a implementação do Português de Angola. Isso parece-me ser muito mais importante do que marcar balizas ortográficas com versões brasileiras, nesta fase.
Professora licenciada e profissionalizada para o ensino do Inglês e Português.
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Os meus parabéns pela sua excelente dissertação. Reflecte uma posição muito lúcida e, mais importante ainda, de quem está no terreno a construir a identidade de um Povo e de uma língua. Concordo inteiramente consigo. Sendo o português uma língua oficial e, cada vez mais também uma das línguas nacionais de Angola, é importante e saudável a "angolanização" do Português de Angola. Mas tal não significa um português escrito de forma diferente. Presumo que se refere (e bem) ao Português falado em Angola, diferente das outras variedades do Português, que legitima sem dúvida a incorporação dos angolicismos na língua. Nesse sentido, um dicionário geral impõe-se (o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, por exemplo, já o faz embora ainda não com a intensidade desejada). Talvez a criação de uma Academia da(s) Língua(s) em todos os países CPLP facilitasse essa interacção de articulação de um dicionário comum (embora diverso).
Só não concordo com a comparação com a norma do inglês: ao contrário do português, que tem duas grafias oficiais, o inglês tem uma única grafia oficial. Na verdade, "center" e "centre", "defence" ou "defense" são variantes de escrita (poucas, aliás) em espaços geográficos distintos sem serem interpretados como erro. E isto aplica-se só entre UK e USA. Porque, na Austrália, por exemplo, a variedade regional aí falada, adopta, sem reservas, a grafia do Reino Unido tal como a Argentina adopta, sem preconceitos, a norma de Madrid.
Por outro lado, a percentagem de diferenças ortográficas entre o Português Europeu (PE) e o Português do Brasil (PB) difere substancialmente das outras duas línguas globais que refere (inglês e espanhol). Não faz sentido considerar menos válido escrever "académico" ou "acadêmico", por exemplo. No novo acordo, ambas as formas são permitidas, como acontece no inglês com "centre" ou "center", embora escritas em espaços giferentes. O espanhol, por exemplo, tem uma única grafia oficial, apesar das variedades (e variantes) regionais do idioma. A manterem-se duas normas, e dada a mutação acelerada do mundo, em algumas décadas a divergência seria de tal ordem que o Português do Brasil (PB) se autonomizaria das outras variedades. E isso, convenhamos, mataria a identidade do nosso idioma! Conceber a língua portuguesa sem o Brasil, sem Angola ou sem qualquer outro estado CPLP, destruiria o que ela tem de mais rico: a unidade na diversidade.
Cordialmente
Abraão Luís H. G. Silva
Olá, eu sou do Brasil e estou fazendo um trabalho escolar sobre o novo acordo ortográfico, caso você possa me ajudar, responda as seguintes perguntas:
1- Você já ouviu falar sobre o novo acordo ortográfico?
2- Na sua escola, o novo acordo já foi discutido com os alunos?
3- Você acha esse acordo necessário? Justifique.
4- O que mudou para você(seu país, sua escola) com o novo acordo?
5- Você já ouviu falar sobre algum manifesto contrário ao acordo?
6- Você participaria de um protesto recusando o uso desse acordo? Justifique.
Obrigada, Vitória
Eu sou do brasil e gostaria de saber a sua opinião sobre o acordo para um trabalh0o escolar. Agredeço desde já, Carol
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