Nvunda Tonet, Psicólogo Clínico (CEP nº00169) & Psicoterapeuta Conjugal (*)
Viver é uma bênção. Os seres humanos nascem, crescem e morrem. Apesar de sabermos desta realidade, muitas pessoas têm medo, dificuldade e até superstição em falar sobre a morte. Os psicólogos entendem como doença psicológica o medo patológico da morte e designam por tanatofobia. A pessoa com tanatofobia pode ter reacções físicas e emocionais sempre que o tema de conversa for sobre morte, acidentes e desastres. Algumas pessoas evitam inclusive passar pelo cemitério ou ir ao um funeral.
É importante ter em atenção os sintomas, o tempo de permanência, o mal-estar e angústia provocada sempre que a pessoa pensa sobre a morte. Ou seja, não é simplesmente o facto de alguém não gostar de falar sobre a morte que significa que tenha tanatofobia. Por isso, o diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde mental treinado, nomeadamente psicólogo clínico e ou psiquiatra. Os sintomas físicos incluem boca seca, sudorese, sensação de asfixia, desconforto corporal e formigamento.
Durante uma sessão com uma utente com diagnóstico de tanatofobia, a mesma descreveu o medo de dormir com receio de ter um ataque de pânico.
A utente ao longo da sessão apontou alguns pensamentos recorrentes, “estou muito instável. Não quero continuar assim. Eu tenho traumas de infância. Não tenho uma ideia de paternidade. Lembro-me vagamente do meu pai. Hoje percebo que ele tinha alguma exaustão emocional. Na altura pensava que era propositado. Tenho muitos pensamentos negativos, que se resumem a morte. Recentemente tive um pesadelo, acordei no meio da noite aos berros. Apesar de toda instabilidade que vivo, luto com as minhas emoções. É uma luta diária. Principalmente agora com os últimos casos de suicídio que tem acontecido no país.”
As causas da tanatofobia incluem experiências traumáticas, falecimentos recorrentes no seio familiar, a religião (a ideia de paraíso, inferno, purgatório e punições podem despertar apreensão e pânico sobre o que vai acontecer quando a pessoa ou os seus parentes morrem). Como podemos ler no trecho acima, a utente em referência, teve perdas (morte de membros da família), traumas de infância (parentalidade atípica) e predisposição para o transtorno de pânico.
O tratamento para a tanatofobia é feito através da psicoterapia, recurso a técnicas de relaxamento e reestruturação cognitiva. Após a avaliação inicial do caso acima ilustrado, decidimos por um plano de Psicoterapia de oito sessões que incluiu entre outras intervenções focais: o treino de pensamentos automáticos, restrições de acesso a informações e conteúdos noticiosos, afastamento de pessoas tóxicas e inconvenientes, o exercício de diafragmática principalmente quando a paciente estiver angustiada, o exercício de relaxamento intitulado A.C.A.L.M.E-S.E e biblioterapia que inclui a leitura na terceira sessão do capítulo 2 “As reclamações e a saúde” do livro “Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas” de Will Bowen.
Não se esqueçam: nem todas as pessoas que evitam falar de morte têm tanatofobia. O diagnóstico inclui a avaliação de um especialista, a presença de sintomas físicos e mentais, o acentuado mal-estar sobre o tema bem como o tempo de permanência da sintomatologia. Portanto, não se desespere. Existem temas que são difíceis de abordar e um deles por influência cultural é a morte.
(Foto: Jornal Expansão)
*Autor do livro “Psicólogos, porquê e para quê?”. Atende no Consultório Oceanos em Luanda (+244937565096)
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