Meu irmão, minha irmã locutor/a e/ou jornalista de rádio, TV ou canal, hoje o assobio é consigo. Grassa cada vez mais nos produtos do género entrevista uma tendência de, já no ar, quem entrevista pronunciar mal o nome (só acontece quando é de matriz africana) e dizer ‘espero que tenha pronunciado bem o teu nome’, ao que depois completa com risada que julga ser simpática. No sentido inverso, esse/a entrevistador/a já não patina quando pronuncia nomes de estrelas de Hollywood ou do desporto. Ora, mesmo que não haja intenção ofensiva, e acredito que não há, isto passa uma mensagem a todos os títulos negativa a respeito do entrevistador: (1) falta de profissionalismo, pois os manuais recomendam fazer este tipo de acertos no tempo de bastidores, aquele que para um noticiarista é/era considerado espaço de criar vivência com o texto; (2) revela também algum vazio interior mais vaidade da parte de quem entrevista, culturalmente falando, um complexo de pouco se importar com o que a pessoa tem de cartão postal, neste caso o nome do entrevistado. Era suposto ter já acabado o preconceito colonial português de haver nomes bonitos (os bíblicos ou ocidentais) e nomes feios ou esquisitos; (3) por último mas não menos importante, convenhamos que convidar alguém para falar implica já dominar o motivo que o torna objecto de notícia. Alguns dirão, ah, o outro ou a outra não é obrigado/a a levar a coisa sério/a, afinal é apenas animador/a de rádio/TV/canal, não jornalista, destrinça que não faz diferença neste assunto. Esforcemo-nos, amadureçamos, mostremos consideração pela diversidade cultural. É o meu assobio de hoje ao vento por uma Angola melhor. Pandupandu
domingo, 20 de setembro de 2020
domingo, 13 de setembro de 2020
DOS DIAS SEM MANHÃS (poema inédito)
DOS DIAS SEM MANHÃS (poema inédito)
Da sanzala
Adianto esta noite meu bom dia
minha mãe
em caso de amanhecer sem manhã
Que há dias sem manhãs
mães sem ninhada
corpos sem vela
quando não velas demais
Amanhã pode ser um assim igual
Ainda do sonho sobressaltado
Calar é dos signos o pior em mim
Findo o berro, fim do laço
e tu sabes
Sempre o soubeste, minha mãe
“Ofeka yatungila cikale”, dizias
As costas incomodam o mundo
Um corcunda incomoda muito mais
Da panorâmica do quintal
Cá vamos, mãe, ainda estamos, obrigado
tem idade pré-escolar
o quase-abismo
desenhado no horizonte da incúria
maquete da curva apertada
No sangue e nos sonhos
Bem contabilizas, minha mãe
Cada perda que ganhei
Também já fomos ingénuos e felizes
Lá fora o fumo ainda é negro
Tanta Amazónia para pouco bombeiro
Ceifa estrídula diária
irrigada com os olhos
os enganos
as gentes
“Kombonge”
o meliante
o acidente
Tudo muito à flor da pele
Bom dia, alegria, na mesma, minha mãe
Não garanto é que haja manhã
A seguir a esta noite
Perdoa qualquer coisa, minha mãe.
Gociante Patissa | Benguela, 12 Setembro 2020 | www.angodebates.blogspot.com 🇦🇴
sábado, 5 de setembro de 2020
ACORDES GRISALHOS (poema inédito)
ACORDES GRISALHOS (poema inédito)
OVILWA YANGE VOFELA (O MEU ASSOBIO AO VENTO) - 4
Os aficionados do desporto têm motivos para celebrar com o anúncio oficial da conversão da Palanca Tv em canal desportivo da TPA no princípio do ano que vem. A projecção avançada é que o mesmo sirva de montra para a descoberta de talentos, principalmente. Respeitando todas as ideias e estratégias, não posso deixar de puxar a brasa para o parente pobre chamado cultura, considerando que povoar as 24 horas de emissão não será pouca tripa. Por que não o canal ser repartido entre o desporto e a cultura em termos de conteúdos de especialidade? O que sabe o aluno de Luanda sobre a vida dos khoisan? É que do ponto de vista da igualdade de circunstâncias, do mesmo jeito que Angola não tem uma indústria desportiva, também não tem o seu equivalente cultural (aqui entendido como abordagem mais substantiva do que o ku-duro e uma gama de futilidades costumeiras aos holofotes). Um país que seja unido pelo desporto (quase sempre o futebol) literalmente e que continua a desconhecer o mosaico etnolinguístico que o compõe... está longe de alcançar o sonho de nação. Portanto, a acreditar que a mediatização ajuda a criar, tanto vale para o desporto como para a cultura. Temos que o desporto volta a ser levado mais uma vez ao colo com a dedicação de um canal, depois da Rádio Cinco, do grupo Rádio Nacional de Angola. Será pelas receitas que se espera arrecadar com a publicidade ou porque, eventualmente, a experiência piloto que foi a Rádio Cinco produziu efectivamente algum fruto palpável? Acredito ser oportuno incentivar a interdisciplinaridade, evitando o modelo que transitou, que faz com que o espaço de opinião sobre o país seja reservado "apenas" a juristas, economistas, deputados e desportistas. É o meu assobio de hoje ao vento por uma Angola melhor. Pandupandu
OVILWA YANGE VOFELA (O MEU ASSOBIO AO VENTO) - 3
Falo para ti jovem, sobretudo o/a de família de baixa renda, com o/a qual mais me identifico em termos de percurso para afirmação social. Entendo a indignação por que passas dada a desesperança, a frustração pelo rumo do País e pelas oportunidades que demoram a chegar no que respeita à realização académica e profissional. Pensar o País urge, sempre urgiu, agora com a vantagem de haver um espaço de maior abertura para nos exprimirmos. Sem prejuízo disso, faço um convite: alarguemos o horizonte, invistamos o tempo na formação alternativa, na auto-superação, na visão além do corriqueiro, usemos o tempo dos memes para estudar línguas estrangeiras. Tens uma vantagem sobre o quarentão que te fala, a idade e margem de tomar decisões e roturas com determinados compromissos. Não tenho pretensão de coach nem de auto-motivador, julgo esse tipo de especialidade uma falácia e mania das grandezas, não havendo uma fórmula para mudar o que seja e que funcione do mesmo jeito para tudo e todos. O que trago para a tua reflexão é o alerta, a informação como comunicador inato que acredito ser. É que no meio desse futuro nebuloso, tem havido anúncios de bolsas de estudos periódicas, na sua maioria patrocinadas por representações diplomáticas, pelas petrolíferas e também pelo Estado angolano, pelo que devemos estar atentos e apanhar a oportunidade de candidatura no momento oportuno. Desta vez, segundo o jornal de Angola de hoje, o mecenas é a Embaixada Inglesa. Estou confortável em dizer que a pobreza e o inconformismo me levaram a dominar vários ofícios mas de uma coisa tenho a certeza: as melhores portas me foram abertas pelo domínio da língua inglesa que adoptei em auto-aprendizagem quando tinha ainda 14 anos, sem um kwanza para frequentar cursos. A pobreza é reversível, estudando, persistindo, pensando além do comum. É o meu assobio de hoje ao vento por uma Angola melhor. Pandupandu
OVILWA YANGE VOFELA (O MEU ASSOBIO AO VENTO) - 2
O cinema angolano acaba de dar mais um passo valioso na internacionalização com a adesão do filme SANTANA à Netflix, uma realização de Maradona dos Santos. A plataforma representa uma incontornável montra na era do streaming que vivemos. Longe vão os tempos em que fazíamos filas para alugar uma cassete no vídeoclube ou nos dávamos ao trabalho de adquirir DVD, quem nunca comprou mambos piratas que levante a mão. Podemos discordar da temática, da estética, enfim, da identidade do produto (que a meu ver deixa a desejar) mas é preciso que a classe e o sector se unam e aproveitem a oportunidade para dominar os meandros do canal com vista a inserir outros produtos e sensibilidades artísticas na Netflix e outros festivais menos “comerciais” e menos Pop. Em todo o caso, é importante não nos envaidecermos com o feito agora alcançado, deixando-nos embandeirar em arco pelas métricas da visualização por país, como no outro dia ouvi, até porque poderá ser efeito da curiosidade em busca do novo, do estranho, do exótico ou do diferente, simplesmente. E já agora é esperar que quem visualizou não se tenha decepcionado com a tendência da mesmice holywoodiana . Se julgarmos que a Netflix é o apogeu, então sonhamos muito pouco. Como diz o meu chefe, há sempre espaço para melhorias. É o meu assobio de hoje ao vento por uma Angola melhor. Pandupandu
OVILWA YANGE VOFELA (O MEU ASSOBIO AO VENTO) - 1
Continuo a sonhar o sonho platónico de evoluirmos para uma sociedade onde ao reconhecer o erro, as pessoas, individuais ou colectivas, façam isso mesmo, reconhecer, desculpar-se pelos efeitos e apontar a acção correctiva a levar a cabo, claro está, alinhando palavras e atitudes. É que o habitual, do institucional ao individual, provou até agora não ajudar no crónico resgate dos valores e uma sociedade melhor em termos de ética, isto é, a velha tautologia resumida em dizer-se que... “o outro até errou mais que eu”, “só não erra quem nada faz” ou então “como humano sou imperfeito”. É o meu assobio ao vento por uma Angola melhor. Pandupandu