O mesmo argumento imposto pelo Parlamento para chumbar a inserção nas novas notas do Kwanza do templo católico de Mbanza Kongo, por ser um símbolo da invasão colonial portuguesa do território que hoje é Angola... não devia ser adoptado para repensar as datas de "fundação" das cidades angolanas? Dois exemplos: 25 de Janeiro (Paulo Dias de Novais, Luanda, 1575) e 17 de Maio (Cerveira Pereira, Benguela, 1615). Os deputados conseguiriam dar eco à voz já afónica de vários académicos que insistem na lógica segundo a qual os territórios já eram habitados antes da chegada colonial à África e da dominação baseada na Bíblia, criticando ainda o facto de o mesmo País que deixou de ensinar a história do colonizador perpetuar a celebração das vitórias do império luso. O governo angolano, por via do BNA, viu-se forçado a recuar e concordar em excluir a imagem do Nkulumbimbi das propostas para a efígie da nova moeda angolana, que tem a sua entrada em circulação prevista para Junho. Trata-se da porta de entrada do cristianismo em 1482, elevado recentemente à pala do lobby do Ministério da Cultura e do governo francês a Património Mundial pela Unesco. A narrativa pró agarra-se, por seu turno, ao argumento de não se poder apagar a história. Que história? Que protagonistas? Outros, porém, que julgam falaciosos os termos descoberta/fundação, questionam se faz algum sentido, mesmo do ponto de vista histórico, festejar a própria derrota/invasão/dominação que duraria séculos. Tudo indica que no auge da peruca, da maquilhagem e do carnaval replicando a corte real como prioridades identitárias, prevalecerá o adiamento de temas mal resolvidos na Angola pós-colonial, como este outros assuntos, nomeadamente a grafia da toponímia e respectivo alcance sociohistórico, a harmonização ortográfica das línguas nacionais de matriz africana/bantu e... a normalização da variante angolana da língua portuguesa.
Gociante Patissa | 26 Janeiro 2020 | www.angodebates.blogspot.com
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