Imaginando
quão ousado será desviar as atenções de vossas excelências da agenda que o
contexto impõe, sua excelência eu antecipa-se a estender o dourado carpete de
desculpas.
Mas estive a pensar sobre essa coisa de diversificar exportações, que
de garantido mesmo por enquanto só temos os recursos naturais e minerais,
nomeadamente o petróleo, os diamantes e o ouro, depois de uns tímidos
contentores de banana e mangas despachados para Portugal. Mas e as ideias e o
imaginário? Não são também exportáveis?
No
campo da cultura, temos exportado alguma coisa de arte contemporânea urbana, com
o ku-duro e a kizomba a despontarem (quase abafando um Bonga, um Waldemar
Bastos). Enquanto isso, procuram-se mecenas com sensibilidade na recolha e
divulgação da vasta riqueza etnomusical (onde temos mestres como Mito Gaspar, Gabriel
Tchiema, Sabino Henda) e da oratura (onde temos José Samwila Kakweji, David Capelenguela)
e não só, pela diversidade que constitui o conjunto de nações de uma Angola que
se sonha nação.
Digam
o que disserem os relativistas de fértil argumento míope, mas têem de existir
sectores nevrálgicos que imponham algum investimento, para não dizer maior, do
Estado, mesmo que financeiramente não haja retorno imediato. O capital nestes
casos valora-se em outros termos. Do mesmo modo que o Estado mantém a ligação aérea
da capital do país, Luanda, com outros pontos através da aviação comercial, por
mais que (sob o ponto de vista da ocupação dos lugares de um Boeing 737-700, de 106
assentos em média) haja perdas, assim também se deveria repensar em garantir a
subvenção do livro.
Que
se articule uma instituição ou comissão inter-editoras, se necessário for, para
assegurar uma selecção de obras publicáveis, com base nos critérios da qualidade
e rigor estético. Uma tiragem superior a 5 mil exemplares seria bom começo. Que
se incentive a figura do distribuidor, pôr o livro a circular, ressuscitar a
múmia em que se transformaram as livrarias. Depois é estabelecer parcerias no
espaço continental de expressão portuguesa, aumentar a presença de autores
angolanos nos mercados representativos de Portugal e Brasil, sem deixar de
considerar a tradução.
E
hoje a internacionalização, vista pela exportação do livro, é um nado morto. A título
de ilustração, esta semana expedi pelos correios de Benguela para o Brasil, por
conta de uma permuta com um escritor amigo de lá, um exemplar cujo preço de
capa é mil kwanzas, o equivalente a uma sanduiche de fiambre e queijo mais um
refrigerante. O livro tem 123 páginas, é uma novela publicada em 2013 e custa
relativamente barato por ser da União dos Escritores Angolanos, subvencionada pelo
Estado angolano.
Façamos
então as contas. Ora, mil kwanzas o livro mais 250 kwanzas do envelope
almofadado, somados aos 2 mil kwanzas de porte de envio, por quanto é que
pagamos pelo livro exportado no final? Praticamente o triplo do custo inicial. Imaginemos
então quanto teria que desembolsar uma editora que expedisse mil exemplares. Não
dá.
Está
mais do que na hora de elevar ao nível das conquistas desportivas e
diplomáticas a representação do país através da diplomacia cultural. Mas não
haja ilusões, não se chega lá só a depender de esforços individuais, por sinal
fadados a residuais. Portanto, a minha campanha é pelo partido livro. Já dizia alguém,
o livro livra. Ainda era só isso. Obrigado.
Gociante
Patissa | Benguela, 6 Junho 2017 | www.angodebates.blogspot.com
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