"Sem espírito não há liberdade: sem liberdade não há espírito. Ora esta é a alma, a vida, a essência das literaturas, da poesia, da arte, de todo o trabalho do pensamento e inspiração. Literatura que respeita mais os homens do que a santidade do pensamento, a independência da inspiração; que pede conselho às autoridades encartadas; que depende de um aceno de cabeça dos vizires académicos; essa literatura não é livre – ubi libertas íbis spiritus – não tem, logo, espírito, não é viva e poética (…) não existe pois como coisa alta e ideal, isto é, não existe porque só ideal e alta se concebe literatura e poesia.
Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influe no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito, dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo – o futuro.
Mas esta é a dura fatalidade das literaturas que sacrificam o ídolo ao vulgar do favor público e não às raras severas da consciência, do pensamento isolado mas enérgico. Como é a fama que procuram, passam ao lado da verdade e não a vêem nem a conhecem sequer. (…)
As nações têm um instinto secreto ainda que confuso de seus destinos e do que para o cumprimento deles convém. Se um momento aplaudem quem as lisonjeia, em breve desprezam e esquecem. Para amar, precisam odiar primeiro. Aqueles cujos nomes têm de gravar no coração, não são aduladores, são amigos sinceros e independentes, que lhes dizem as verdades em toda a sua dolorosa mas salutar crueza."
(Extracto da carta de Pinheiro Chagas, datada de Novembro 1865. In «A Palavra e a Diferença», 1986, pág. 167-8. Porto Editora. Portugal)
www.angodebates.blogspot.com
Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influe no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito, dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo – o futuro.
Mas esta é a dura fatalidade das literaturas que sacrificam o ídolo ao vulgar do favor público e não às raras severas da consciência, do pensamento isolado mas enérgico. Como é a fama que procuram, passam ao lado da verdade e não a vêem nem a conhecem sequer. (…)
As nações têm um instinto secreto ainda que confuso de seus destinos e do que para o cumprimento deles convém. Se um momento aplaudem quem as lisonjeia, em breve desprezam e esquecem. Para amar, precisam odiar primeiro. Aqueles cujos nomes têm de gravar no coração, não são aduladores, são amigos sinceros e independentes, que lhes dizem as verdades em toda a sua dolorosa mas salutar crueza."
(Extracto da carta de Pinheiro Chagas, datada de Novembro 1865. In «A Palavra e a Diferença», 1986, pág. 167-8. Porto Editora. Portugal)
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