“Amor!”
“Ainda não me chames amor, por favor!”
“Ouve, temos andado nisso mas…
sinceramente, uma vez que nunca me falaste que não me gostas, custa imaginar o
porquê que ainda não estamos juntos a quebrar esse gelo que nos divide…
Qualquer dia ainda, a andropausa me encontra de pé à espera do sim…”
“Também não exageres, ó camarada…”
“Já te falei. Não é só assim! Te querer
é te querer, mas há outros paradigmas…”
“Homem, já esqueceste que o meu pedido
de crédito para comprar um grande i10zinho apanha bolor?! Então andas na
gerência do banco para quê, fato e gravata parece dormiste na mala?!”
“Mas esse assunto já não está
arrumado?!”
“Como assim?!”
“Me arranja pelo menos 20 gajos com
cartão do Mpla, a imprensa lhes apresenta como desertores a caminho do nosso
partido, e assim damos um empurrão na coisa… Eu tenho que pensar no nosso
futuro, estás a ver?, cargos e bem-estar. Sabes que nas eleições está tudo em
aberto…”
“Assim já eu é que me viste com cara de
interesseira, ne?! Não vás por aí, meu caro! Há quanto tempo é que o meu pai te
falou com todas as letras que, para namorar a filha dele, tens de arranjar pelo
menos 40 gajos da Unita que desertam publicamente?! Ainda isso, que é fácil,
fácil, estás a bufar…”
“Mas uma coisa não tem nada a ver com a
outra…”
“Como não tem?! Então, meu querido, vai
na primeira esquina e arranja uma qualquer da via, cheia de vícios, de
preferência doenças, e casa com ela. Você acha que educar uma mulher com
princípios e valores de coerência, integridade, hã!, é à toa?!”
“Mas o que tem a ver o teu pai com o
nosso amor?”
“Oh, minha vida! Então tu não estás a pedir o que pediste porque queres melhorar a vida?! Ai, o meu pai também,
assim, lhe queres mesmo que chegue na idade da reforma com essa pobreza?!
Também não merece?! Não tem direito?! Olha, vai só, ya?… Não me aquece a cabeça, hoje até é dia
das mulheres, ouviste?!”
Gociante Patissa. Benguela, 8 Março 2017
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