Tive
a missão de representar Angola, de 17 a 23 de Outubro, na edição deste ano da
Feira Internacional do Livro de Frankfurt, capital comercial da Terra de
Gutenberg (antes arrolar este na elegia perifrástica do que aquele cujo apelido
começa com H). Representar Angola é uma forma convencional de colocar as
coisas, sabendo-se que não houve qualquer referendo para sondar a vontade dos
demais, que até já vão em número superior a 20 milhões, a fazer fé no recente censo
populacional.
A
ida resultou de um convite feito à União dos Escritores Angolanos pela
Embaixada Alemã em Luanda, tendo o domínio do inglês papel determinante no
crivo do Goethe-Institut, que investe na divulgação da imagem do sector editorial
no seu país através de conferências e algumas excursões. Este ano foram 22
países representados por escritores, jornalistas, editores, gestores culturais
e livreiros.
Para
quem um dia presenciou a 26.ª edição da Feira Internacional do Livro de
Jerusalém, em 2013, e no mesmo ano a 6.ª Bienal de Jovens Criadores da CPLP,
que teve lugar em Salvador da Bahia, Brasil, a de Frankfurt é de uma natureza
contrária à noção comum de espaço para vendas promocionais. Ela privilegia os
contactos entre profissionais do ramo editorial. Ao público o acesso é só nos
dois últimos dias (dos cinco). As feiras são como os safaris; pouco se acha que
não tenha já sido pensado, visto, lido. Não posso contudo deixar de elogiar o
fabuloso desfile com aura de carnaval, levado a cabo por jovens e adolescentes
inspirados em personagens da literatura alemã, que revela uma sociedade comprometida
com a sua herança literária.
No
aeroporto, despedi-me da colega sul-africana após o jantar chinês. Já
estranhava não ter percalços com as autoridades migratórias, algo que sempre
ocorre, sabe-se lá por conta de que karma.
Na zona de rastreio, tirei dos bolsos o que podia, conforme a ordem. O que não
podia deixei-o ficar. Não seria apropriado abrir ali a braguilha sem ser hora
de tomar banho nem de fazer amor. Tens mais alguma coisa? Respondi que sim, o
meu dinheirinho nos bolsos dos calções jeans que trazia por baixo das calças. É
assim que levamos os Dólares. Pronto, aí o agente me leva ao biombo e provo que
para além do dinheiro, os bolsos não podiam estar inflamados por conta de mais
nada.
Quando
ia recolher os meus pertences, um choque. A mochila da máquina fotográfica
tinha acusado positivo na detecção de explosivos. Perguntam se fui eu quem fez
a mala. E eu que não sou casado… Isso acontece algumas vezes por dia, diz o
simpático agente, deixa-me chamar a polícia. E num instante, duas torres de
espingarda ao peito. Há que abrir a mochila, retirar a máquina, as lentes, o iPad.
O novo teste? Continua positivo.
Ali
começa o revirar do passaporte, que não tem nada demais, só o visto de Israel
na primeira página. Faltam 40 minutos para o início de embarque. Até que, por
fim, desvendava-se o mistério. A caneta pen-drive, de tão multiforme, tem
também um ponteiro laser alimentado à pilha, o que a faz potencialmente
explosiva. Ufa!
Gociante Patissa, Katombela, 10 Novembro 2016 |
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