Há um andrajoso que dorme sempre cedo. Tão pesado lhe é o sono, que me custa chamá-lo de louco. Tem realmente ares disso, mas eu mesmo ando às voltas com o sono, tantas emoções e agendas por gerir. Neste preciso momento canta a poucos metros do carro, nosso quartel general. Passam outros na mesma condição, e até acho que sei porquê. No outro dia, um, aquele sim quase louco, digo quase porque, com inusitado sentido de liberdade, quebra uma qualquer garrafa e com o mesmo automatismo atinge uma testa, a dele próprio, para em jacto de sangue deixar sua marca sobre o passeio de cimento. Não é visto durante horas. Surge depois com penso sobre sutura, pede cinquenta kwanzas para comprar pão, mas logo a seguir chateia-se quando lhe é dado o pão no lugar dos cinquenta kwanzas. Certamente sabe que por este valor comprava mais de um. Passam relativamente muitos, por este passeio. E até faz sentido, é a rua dos bancos, da clínica e dos contentores de lixo. É de loucos a avenida do quase, do sonho por rápidas melhoras, da dor.
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