quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Opinião: "Ainda o meu sonho (II)"


Por: Inácio Gil Tomás (Professor de Geografia do Ensino Secundário e Técnico de Desenvolvimento Comunitário, Benguela)

A materialização dos sonhos de qualquer cidadão ocorre num determinado tempo e espaço.

Por isso, é meu sonho ver que, no quadro da consolidação do processo de desconcentração e descentralização administrativa do Estado, as Províncias tenham, além dos Planos e/ou Programas de subordinação Central, Programas Locais Especificos cuja execução seja de responsabilidade local. Mas, como ainda é meu sonho ver a aceleração de processos de desenvolvimento sustentáveis, vou epxressar aqui algumas ideias, que considero serem desafios para a Província de Benguela, que vem disputando o título de segunda potência em todos os sectores (fundamentalmente no económico) com a Província do Huambo. Agora que outras Províncias como a Huíla e Cabinda podem entrar na corrida para alcançar tão importante título, não basta “jogar” com o nome, pois como se diz no futebol “os nomes não jogam”.

Espero que os Deputados do Círculo Provincial que serão eleitos neste pleito tenham em linha de conta de que devem reunir, regularmente, com os eleitores para auscultarem os seus problemas, as suas preocupações e/ou expectativas e estar disponíveis para receberem os cidadãos, quer seja individual ou colectivamente, por meio da aplicação de uma agenda de trabalho.

Também espero que a próxima governação local seja mais participativa, com o incremento da interacção entre os gestores públicos e os cidadãos (munícipes?), por meio de fóruns ou mecanismos próprios, da sua participação em eventos específicos, independentemente de quem as promova. Neste caso espero que os balanços não sejam apenas feitos no final do ano, mas regularmente, tal como já acontece ao nível do Governo Central. No entanto, para que tal ocorra, é necessário que os cidadãos melhorem a sua capacidade de articulação e interacção visando à busca de pontos de convergência que permitam a constituição e funcionamento de espaços de diálogo intra e inter sectorial.

Espero que melhore a qualidade do saneamento dos nossos bairros, o acesso à energia eléctrica seja permanente, os serviços públicos (saúde, identificação, justiça) melhorem a qualidade do seu atendimento. Espero que a acção de vários actores (públicos, privados e da sociedade civil) contribua para a elevação do nível de consciência ambiental da população.

Espero que a Comunicação Social na Província esteja mais fortificada, aberta e plural, de modo que se transforme num vector de promoção do desenvolvimento local sustentável. Para o efeito torna-se necessário o alargamento de espaços de opinião. Na Rádio pública local, é importante que a manutenção do espaço semanal de análise sobre as questões económicas seja complementada com correspondente espaço de comentários sobre as questões políticas, sociais e culturais de conhecidos Fazedores de opinião que, por esta razão, merecem ter espaço “cativo”,
pois as suas intervenções contribuem para a formação de opiniões além do papel pedagógico que desempenham, como o têm demonstrado.

Uma Província que pretenda assumir-se como segunda potência económica e não só, deve ao nível da comunicação social, assumir o desafio da implantação e funcionamento da imprensa escrita, com a circulação de pelo menos um jornal (semanário) local, sustentado com artigos e peças produzidos maioritariamente pelos seus habitantes. Pela massa intelectual existente, fruto da implantação de diversas instituições do ensino superior, Benguela não pode continuar a remeter-se num silêncio tumular, quando abundam muitos canudos e títulos em todos os cantos da mesma. Mas tenhamos em conta as experiências menos saborosas e efémeras do Cruzeiro do Sul e do Jornal Kesongo.

As OSC – Organizações da Sociedade Civil – da Província de Benguela precisam melhorar a sua capacidade de articulação, interacção e defesa dos interesses comuns, através da concertação e do fortalecimento do trabalho em redes, quer sejam temáticas ou geográficas. Para o efeito devem compreender que o individualismo que as caracteriza não contribui para o fortalecimento da sua acção. Devem também melhorar as suas práticas por meio do cumprimento dos seus estatutos, pondo em prática os princípios de gestão democrática como a transparência nos processos de gestão financeira e de acitividades, o funcionamento dos órgãos sociais e a renovação dos respectivos mandatos. As OSC de Benguela devem dar a sua contribuição para a aplicação da Lei 17/10, por meio da eleição dos seus representantes ao CACS (Concelho de Auscultação e Concertação Social) Provincial e conquistar o direito de participação que lhe cabe. Só assim, poderá ser uma referência de boas práticas, passíveis de serem replicadas por outros segmentos de actores.

Benguela tem produzido vários talentos em diversas modalidades desportivas. Por isso, não pode continuar a servir de viveiro paa a Província de Luanda, a grande beneficiária dos frutos do trabalho que é feito na base, exportando todo o seu potencial humano. O crescimento económico que se regista na Província, a entrada de vários actores económicos deve se reflectir na aplicação de uma estratégia local de desenvolvimento do desporto com a definição de metas concretas. As Equipas locais de Futebol não devem continuar no círculo vicioso do sobe – desce. A Província não pode ser apenas um viveiro de produção de Andebolistas. É preciso pensar na conquista de títulos, com equipas fortes, onde abundam talentos locais, por meio da definição de uma estratégia de desenvolvimento do desporto local, de modo que modalidades como o Andebol, Voleibol, Basquetol e outras tenham também equipas na nossa Província, capazes de discutir e trazer títulos. É preciso pensar em ganhar títulos.

Deste modo estaremos a contribuir, também, para a redução de assimetrias. 
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