“Boa noite, chefe”.
Do grupo de agentes naquele posto, saudou-me um que aparentava contar uns 45 aniversários, estatura média, ligeiramente menos pesado que eu.
Do grupo de agentes naquele posto, saudou-me um que aparentava contar uns 45 aniversários, estatura média, ligeiramente menos pesado que eu.
“Boa noite, chefe”, correspondi.
“Vens de onde?”, lá prosseguiu o homem, sem saber
que se tratava de uma segunda vez, em menos de dois meses, que um polícia cobrava
detalhes da minha vida num país que não decretou estado de emergência. Mas como
boa educação gera boa educação, sorri e colaborei:
“Venho de casa e vou para casa”…
“Como assim, vens de casa e vais para a casa?”
Procurei estacionar a viatura, prevendo já uma
paragem relativamente demorada, o que era inevitável de inferir, tendo em conta
a presença de várias outras viaturas sendo inspecionadas de focinho levantado.
“Venho da casa da minha irmã, fui jantar. Agora vou
dormir”.
Ia-me preparando para localizar a pasta de
documentos pessoais, que é o que vem logo a seguir à ordem de paragem, mas o
polícia continuava sem cobrar pela papelada.
“Vens como? Passaste pela rotunda?”
“Sim, passei”.
“Não te mandaram parar?”
“Não. Vi-la polícias de trânsito, e por acaso achei
estranho. Não é normal tanta polícia ali”.
“Bem, é assim, meu irmão, nós estamos a fazer um trabalho
para localizar carros roubados. Leva algum tempo, mas precisamos confirmar o
número do motor”.
Por algum instante, me perguntei se havia ladrões
com espírito de “alfarrabista”, pois o meu “rabo de pato”, com quase duas
décadas de fabrico e três anos de Angola, não seria tão roubável assim. Mas foi
só olhar bem à volta para perceber que se inspecionavam veículos bem menos
roubáveis que o meu, inclusive um de volante à direita que me fez lembrar de certo
velhito Subaru com que andamos na má vida em 2006 na Namíbia. Sem dúvidas, tal como
os gostos em carros não se discutem, há ladrões para todos. O resto eu já sei, nas
aparentes impertinências do polícia podem morar estratégias pela minha própria
segurança.
“Sim, claro. Deixa-me encostar bem então. Não tenho
nada a esconder”.
O polícia aproximou-se um pouquinho mais, e disse:
“Pode seguir. Feliz noite”.
“Obrigado, bom trabalho”.
Arranquei e perdi-me na escuridão poeirenta dos
bairros emergentes a sul do Aeroporto 17 de Setembro, sem ter chegado a mostrar
o motor, sem ter sido tratado com desrespeito. Uma vez mais, obrigado, senhor
agente, é esse o polícia que queremos.
Gociante Patissa, Benguela 7 agosto 2012
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Tenho encontrado policias muito educados e até desempenhando bons psicólogos, é destes que eu gosto.
São o garante da nossa segurança.
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