Voltei
ao mercado “Kero” do Lobito no dia 16/04/13 para um breve olhar sobre o sector
do livro, mais concretamente na componente de escrita criativa. Meu interesse
foi olhar para os preços de capa e principalmente saber quais são as principais
chancelas editoriais. Recordo que, numa nota recente, referi-me ao preço convidativo
em dois livros com edição portuguesa, sendo 390 Kwanzas o de crónica (autor português), e 890 Kwanzas o romance (autor latino-americano), ambos com
mais de cem páginas.
A
presente indagação foi motivada pelo que ouvi de vários agentes, escritores e editores
em Luanda, que lamentavam a resistência da parte de quem gere livrarias e
mercados quando o assunto é a consignação de livros editados em Angola. Porque
será? Para escritores, como eu, com pouco menos de seis anos de afirmação,
trata-se de um fenómeno complexo, e qualquer opinião arrisca-se ao apriorismo. Não
podendo, por questões logísticas, visitar as livrarias e mercados na capital, que
alegadamente secundarizam o material nacional, continuei a observação na
província de Benguela.
A
presente reflexão assume que a qualidade gráfica é equiparada, dado o avanço
tecnológico de tipografias que operam em Angola, e ainda considerando haver editoras
que recorrem ao Brasil e Europa. Então onde está o problema? Preços? Não parece
ser de todo isso determinante, já que a moda é entre mil a quatro mil Kwanzas.
No
“Kero”, a Nzila é a única chancela nacional, que por sinal não é tão Angolana
assim, depois que o sócio local vendeu as acções e o projecto se tornou apêndice
do gigante grupo editorial português, Leya. Em uma hora a ler páginas de
detalhes, constatei que o monopólio engloba as editoras Caminho, Casa das
Letras, Texto Editores, ASA, Caderno e a Don Kixote. Minoria esmagadora recai
para Estrela Polar e Porto Editora. No âmbito da Leya encontrei disponível um
punhado de autores angolanos: Pepetela, Luandino Vieira, Luis Fernando, José E.
Agualusa, e dois nomes que me escapam.
O
que se passa no “Kero” não difere muito da realidade da maioria dos mercados e
grandes livrarias do país. É inevitável estabelecer um paralelo entre os
mercados literário e gastronómico, onde é cada vez mais trabalhoso achar a identidade
do lugar na criação, numa clara agenda dedicada ao turista. Esse quadro não
deixa de ser intrigante para quem ouve frequentes desabafos dos importadores,
ora por causa de impostos, ora por causa de eventuais excessos de burocracia nas
alfândegas.
Parece
que passa a ser secundário, enquanto problema, o incipiente apoio que
permitiria a subvenção do livro, já que até os poucos (aqui o pouco é em
relação à média de livros por ano que saem em outros países) continuam encaixotados
e sem saída. A distribuição é o verdadeiro calcanhar de Aquiles. E não colhe a
justificação de que a nossa sociedade pouco lê, já que é à mesma sociedade que
os livros importados são vendidos.
Que
tal se as editoras angolanas fizessem chegar a cada uma das dezoito províncias pelo
menos cinquenta exemplares de cada título? Contas redondas, teríamos nessa
ordem de ideias novecentos exemplares a circularem pelo país. Não era altura de
os livreiros angolanos reavaliarem o intercâmbio com similares além-fronteiras
e aprimorar estratégias de divulgação subsequentes à primeira sessão de
lançamento e autógrafos?
Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela 17 de
Abril de 2013
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