DOS DIAS SEM MANHÃS (poema inédito)
Da sanzala
Adianto esta noite meu bom dia
minha mãe
em caso de amanhecer sem manhã
Que há dias sem manhãs
mães sem ninhada
corpos sem vela
quando não velas demais
Amanhã pode ser um assim igual
Ainda do sonho sobressaltado
Calar é dos signos o pior em mim
Findo o berro, fim do laço
e tu sabes
Sempre o soubeste, minha mãe
“Ofeka yatungila cikale”, dizias
As costas incomodam o mundo
Um corcunda incomoda muito mais
Da panorâmica do quintal
Cá vamos, mãe, ainda estamos, obrigado
tem idade pré-escolar
o quase-abismo
desenhado no horizonte da incúria
maquete da curva apertada
No sangue e nos sonhos
Bem contabilizas, minha mãe
Cada perda que ganhei
Também já fomos ingénuos e felizes
Lá fora o fumo ainda é negro
Tanta Amazónia para pouco bombeiro
Ceifa estrídula diária
irrigada com os olhos
os enganos
as gentes
“Kombonge”
o meliante
o acidente
Tudo muito à flor da pele
Bom dia, alegria, na mesma, minha mãe
Não garanto é que haja manhã
A seguir a esta noite
Perdoa qualquer coisa, minha mãe.
Gociante Patissa | Benguela, 12 Setembro 2020 | www.angodebates.blogspot.com 🇦🇴
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Bom dia, mano Daniel. Vim fazer uma visita ao seu blog e me deparei com essa joia de poema. Está amanhecendo aqui no Rio de Janeiro e depois de ler seus versos com certeza meu dia será melhor. Gratidão mano.
Muito me honra a visita, cara mana Bete. Volte mais e desde já, agradeço as palavras. Beijinhos de Benguela
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