(I)
“Mas,
filha! Esse vosso namoro afinal é como, tanto tempo que até já passou – estou a
contar mesmo bem – do total dos anos que andou cá o colono português?”
“Assim
mais é o quê?! A mãe também chateia muito…”
“Chateia?
Mas isso mesmo é homem, que nunca só dá pelo menos a cara nas pessoas que
trouxeram ao mundo a miúda que constantemente faz com ele…”
“MÃE!,
faxavori, para só, ya? Estou a ver já aonde estás a ir com a conversa…”
“Estou
cansada, filha! Você dorme com inimigo. Porque é essa a palavra. Ah porque
fomos no KFC; ah, ah porque jantamos no Angry Lion. Ó filha, já viste como entre
você e o frango não há diferença? É só comer… não se pergunta mais os pais…”
“Não
exagera só mãe. Ele vai cumprir com a tradição. Há-de chegar o dia…”
“Esse
dia então é quando?! Mas já foste ao quarto dele. Ou não?”
“Claro
que já, né, mãe?!”
“E
quem construiu a casa?”
“Mas
para quê que vou saber isso… se não sou pedreira?”
“Estás
a ver as nossas filhas?… É só ku-duro nesta cabeça… Lá ninguém te valoriza,
senão te contavam a história da família.”
(II)
“Mãe!
Não viste a visita?! É assim que se atende?! Depois fala que não apresento…”
“Este
assim é quem? É outro que veio cobrar a dívida do cabelo brasileiro que a alma
d’outro mundo que te namora promete assumir mas nunca chega a pagar?”
“MÃE!
Ca-la-a-boca! Por favor, não me faças entrar no chão…”
“Será
que falei demais, né?…”
“É
ele…”
“Ele
mais quem, então?”
“O
meu boy. Finalmente estás de cara-à-cara com ele! Boy significa namorado.”
“Ah,
entendi. Namorado que só ocupa não toma decisão de casar então é boi, né?”
(III)
“Muito
prazer, mãezinha.”
“Demais,
até. Imagino. E como se chama o filho?”
“Nascimento
da Cunha…”
“Ah,
quer dizer que o jovem é que está a estragar o país, né?…”
“Como?”
“Comendo
lá ou não, filho, Angola ficou marreca de tanto levar a cunha na cabeça…”
“Hahahah.
Adoro o sentido de humor da mãe…”
“E o
filho Falecimento trabalha?”
“Nascimento!”
“Ah,
desculpa. Nascimento, Falecimento, tudo passa no viver. Trabalha aonde?”
“Na
ENDE e colaboro com a RNT… Sou despachador-chefe. Ligamos e desligamos as
linhas de luz consoante solicitação de corte para restrições de racionalização…”
“Afinal
é o pai que fez queimar a minha arca do negócio de gelado de múkwa?”
“Não
é por aí, mãezinha…”
“ACABOU!
JOVEM! EM NOME DO POVO ANGOLANO, SAI AGORA MESMO DA MINHA CASA, OK?!”
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