Foto sem identificação de autor |
Saltou do banco corrido de idosa madeira
em que andava estendido em posição cadavérica com uma gargalhada de não
coincidir com nada mais próximo. Caía a noite, longa noite de pós-enterro. O
Mateus, neto de Gociante Kapiñãlã, este, desistira dos seus trinta e quatro
anos. Já não está entre nós. Reitera, tautóloga e afónica, a velha Flora.
Calma, mãe, que isto há-de ser mentira. O breu segue o seu segundo dia de
eficácia no subúrbio, três geradores domésticos bons de bufar, fala-se em vela
gasta. Enquanto isso, nos céus, clarões e explosões anunciam obesas gotas sobre
o salgado chão. Vai ser chuva. E a chuva do Lobito que gosta de aparecer nos
noticiários. Lá o homem continuou na sua alegria, mais ou menos incontida,
decidido a contagiar em tal toada os demais, na sua maioria mulheres que, não
obstante tomarem por inconveniente o estado de alma do homenzinho, eram afinal
as responsáveis, ou não tivesse passado por mãos prendadas destas o agente
excitador. O feijão. Eu amo muito o feijão. Assim anunciou ele, não cabendo em
si de contente, no momento em que entregava o prato para se lhe ser aviado.
Mais que a cunhada?! Retorquiu uma voz da copa. Muito mais. A mulher, para mim,
é o quinto amor. O silêncio não podia ser mais reprovador. Esperem, eu vou
explicar. Assim, então, ao invés de casar a filha alheia, uma vez que amas mais
o feijão, não faria mais sentido ficares com só com um hectare? Não! É assim:
primeiro, amo o feijão. Depois amo o jogo; porque eu não vou fazer que o meu
Primeiro de Agosto ou Real está a jogar, e a mulher fica a me chatear para lhe
prestar atenção… Xê, oh coisa, se põe no teu lugar! Bom, em terceiro, amo o
rio, porque gosto muito de beber água. Quarto, amo o ar, porque é preciso
respirar. Depois já é que vem a mulher. As senhoras da copa, generosas em
calibrar aquele feijão de fundo queimado típico de panelonas de óbito, não
podendo, por pudor imposto pela cultura, verbalizar o mais fácil de especular,
mantiveram uma abstenção, certamente a muito custo. Já eu, ora pois, até agora
vou, na minha cabeça, a contabilizado sobre a testa do emissor o número de
suplentes que lhe fazem a vez em cada ciclo do quinto amor. Talvez um vizinho a
concorrer com o feijão, outro com o futebol, um terceiro com o rio (por que não
um colega na vez do oxigénio?) Enfim… Viva o feijão.
Gociante Patissa | Lobito, 30 Setembro 2017 | www.angodebates.blogspot.com
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