"Mais-velho, a pátria está muito
triste com a vossa sabotagem, pá!..."
"Aié, filho?..."
"NÃO ME INTERROMPE, ESTÁS A
OUVIR?!"
"Perdão, chefe."
"Anda! Vá, diz lá, este alambique é
de quem é?"
"É só meu e da tua tia ainda mesmo,
meu filho."
"Quer dizer, a guerrilha ameaça
tudo quanto é fronteira, nós andamos para cima e para baixo na rusga dos
abrangidos para as FAPLA [Forças Armadas Populares de Libertção de Angola]. E
você, em vez de colaborar, fica aí na kazukuta do kaporroto?"
"É porque não tem trabalho, chefe.
Trabalhava na Câmara, agora já está velho..."
"Mas 'velhice' como, se estás ali a
fabricar no alambique toneladas de kaporrroto para enganar o nosso povo?!"
"É porque a tal vida mata com fome,
chefe..."
"Assim a nossa vida já é que está
fácil?! Andas mesmo a gozar com coisas sérias, ó meu caro amigo. Você sabe o
que custa esta farda, o peso da arma e o tacão desta bota? Hã?!"
"Perdão, chefe."
"Quantos garrafões por
semana?"
"Depende só, filho, do farelo, do
açucar, do fermento, da lenha e dos tais bêbados..."
"Isso dá cadeia! Cela sem direito a
visitas. Caramba, pá, ó compatriota! Quer dizer, a pátria esforça-se com as
importações - até nos humilhamos a usar a moeda do imperialismo lá do Reigan, a
porcaria dos dólares - tudo isso, só para ter um pouco para cada um nas lojas
do povo. E o camarada o que é que faz? vai lá com cartão de abastecimento, avia
açúcar e fermento, mas gasta o produto a produzir aguardente caseiro?! Assim
mesmo está bom? Vá, arruma as evidências, que o camião Kamaz está a caminho
para ir à procuradoria."
"Bem, chefe..."
"Isso, só entre nós, mais-velho,
porque o teu crime é contra a pátria, arranja só já dois litros de primeira, eu
vou ver o que posso fazer por ti."
"Desculpa lá, ó filho. Você afinal
veio em nome do trabalho ou para se aproveitar da minha bebida a enganar mais ainda também o tal
povo?"
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Gociante Patissa. Katombela, 22 Dezembro 2015
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