Às
vezes, observando certas tendências comportamentais na nossa sociedade, ocorre um
eclipse entre a esperança e o desespero.
Esperança, porque é preciso continuar a acreditar no lado positivo do ser humano. O que de errado comete a geração dos nossos mais velhos, a dos libertadores, tarde ou cedo desaparece com a própria geração, é a lei da vida (o maior legado que nos deixam é a obra da reconciliação política e militar). Já o desespero não podia ser menor, quando entre jovens e adolescentes vinga a alienação de indicadores básicos de convivência social. Já falei do caos que seria se cada passageiro de um transporte público tocasse em viva voz a música do telemóvel.
Esperança, porque é preciso continuar a acreditar no lado positivo do ser humano. O que de errado comete a geração dos nossos mais velhos, a dos libertadores, tarde ou cedo desaparece com a própria geração, é a lei da vida (o maior legado que nos deixam é a obra da reconciliação política e militar). Já o desespero não podia ser menor, quando entre jovens e adolescentes vinga a alienação de indicadores básicos de convivência social. Já falei do caos que seria se cada passageiro de um transporte público tocasse em viva voz a música do telemóvel.
Hoje,
depois de pedir a um compatriota (13 anos) que baixasse a música, em vão, vi-me
obrigado a lhe lembrar que estávamos num corredor hospitalar (ele até mais combalido),
pelo que devia, nas próximas vezes, munir-se de fones, a exemplo de dois jovens
no banco ao lado. Aqueles concordaram. É que vinha mesmo a despropósito.
É
tautologia dizer que os angolanos não são “iguais”. Nenhum povo é. De qualquer modo, é nas tendências que uma sociedade é “catalogada”, por muito que o
relativismo procure negar este critério sociólogo de percepção do “outro”. E a
mim, quando o assunto é a postura do angolano no estrangeiro, há qualquer coisa
que me intriga. Falo daquela mania de extrapolar o génio festivo e o poder que
o poder de compra nos dá. É como se a ONU nos plasmasse o direito exclusivo de
falar mais alto, de impor o contacto físico (inconveniente). É como se alguma
escala nos tornasse superiores a outros.
Voltei
a passar as férias na vizinha República da Namíbia. Povo de maioria Bantu, multi-étnico
e linguístico, tão perto de nós, ao mesmo tempo tão distante. Nas províncias de
Oshikango e Oshakati, fronteira Norte para eles, Sul para nós, taxistas e
comerciantes esmeram-se no português (que não estudam na escola), sinal do
quanto o não falante de Oshiwambo e Kwanyama (línguas comuns) movimenta a sua
economia. Ao contrário dos comerciantes asiáticos que abundam cá (chineses,
vietnamitas), o namibiano raramente levanta a voz. Há quem veja nisso um status inferior, mas basta um pouco de
inteligência para ver o óbvio, sendo língua igual a poder: eles dominam a nossa
língua, nós vamos geralmente mal no inglês (que estudamos desde a 7.ª classe)
Numa
hospedaria de Ongwediva, que acolhe angolanos em busca de saúde, nem mesmo a
barreira da língua inibe iniciativas a roçar o desrespeito. Se a bebida atrasa,
adiantam-se os berros. O pessoal de serviço, a contra-gosto, mantém-se bem-educado.
Há mais gente hospedada, a pagar por sossego (namibianos, ingleses, alemães). Quando
ali estive, independiam da hora as brincadeiras de duas mães e suas crianças,
cantarolando e dançando: "daquele
pai, daquela mãe. Lhe dá! Quadradinho, quadradinho!", enfim.
Ah,
também lá se espera pelo médico. Não faltam livros e revistas com chamativas
fotos. Por sorte duas mocinhas têem boas batidas e vídeos no telemóvel para curtir
e rir. Alguém dirá que se está a exagerar, que seria ofensivo não abrir excepção
a grupos profissionais imaculados (diplomatas, religiosos, etc.). Seja como
for, assusta este prosperar da árvore, qualquer dia ofusca a própria floresta. Que
referências de autoridade moral e cidadania teremos daqui a 40 anos? Como foi
que regredimos tanto?
Gociante Patissa. Benguela, 2 Outubro 2015
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