No calçadão da praia morena onde aguardo pela
ligação da estação de serviço, estou sentado um pouco distante de dois jovens,
mas próximo o suficiente para captar o que dizem. Um, que aparenta ter 22 anos,
sacou dessas pastas de computador a sua pequena Bíblia. O outro, um pouquinho
mais novo, é zungueiro de CD pirateados. O primeiro fala mais, é pregador. O
segundo está o tempo todo de braços cruzados, preenchendo de vez em quando
as propositadas lacunas do pregador. Este, por sua vez, tem uma criteriosa selecção
de versículos, os quais apresenta num tom de "já devias saber". O
zungueiro olha agora para o relógio do telemóvel, olha para o lado mas
permanece sentado. Faz agora alguns apontamentos, cuidando o pregador de falar
dos que têm olhos mas não vêem, têm ouvidos mas não ouvem, etc. Ah, e para que
não restem dúvidas, questiona em que parte da Bíblia está escrito isso de
adorar estátuas e bonecos. Claro que não está, remata o pregador, é perder
tempo pedir ainda através da mãe Maria... Jesus basta! Tudo indica que o jovem
foi preparado numa oratória punitiva.
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