Eis o acesso ao site https://careers.azule-energy.com/job/Luanda-Internal-Communication-Senior-Advisor/1144605455/
domingo, 26 de janeiro de 2025
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Resgatar a identidade: Porque o nome 'África' merece ser escrutinado e uma possível alteração - Mail&Guardian
O nome "África" está profundamente enraizado na história europeia e na interação colonial. Os estudiosos remontam as suas origens à antiga nomenclatura grega e romana. Os gregos referiam-se à região norte do continente como Líbia, enquanto os romanos popularizaram "África", derivado do latim aprica (ensolarado) e do grego aphrike (sem frio). No entanto, inicialmente, este termo descrevia apenas as regiões setentrionais do continente, nomeadamente as terras sob influência romana, como Cartago, na atual Tunísia.
Longe de englobar os diversos povos e culturas do continente, o nome "África" surgiu como um descritor geográfico e climático baseado nas experiências e expressões europeias. A sua adoção em todo o continente foi em grande parte um subproduto da expansão e domínio coloniais.
O termo "África" é emblemático de uma experiência ocidental imposta ao continente. Não reflecte nem a autocompreensão nem as ricas identidades dos seus habitantes autóctones.
Nomes históricos como Bantu, Akan e Benin representam melhor o mosaico cultural do continente. No entanto, continua a ter um nome enraizado na conquista colonial e na interação europeia, perpetuando uma narrativa de dominação externa
https://mg.co.za/thought-leader/opinion/2025-01-22-reclaiming-identity-why-the-name-africa-deserves-scrutiny-and-possible-change/
sábado, 18 de janeiro de 2025
Crónica | HÁ CÓLERA NO PARAÍSO
Não podia esta crónica abrir sem expressar condolências sentidas às vítimas do surto de Cólera na periferia de Luanda, bairro Paraíso, município do Cacuaco.
Quando chove cada morador sabe onde lhe dói. No cacimbo também. Luanda é mesmo assim. Há séculos. Uma espécie de picante na língua, o seu doer é ao memo tempo o seu prazer. E a cidade cresce dentro e fora, nas paredes foguetão, na prece ubíqua, natalidade galopante, nas falas que mesclam o mosaico sociolinguístico bantu com o eixo português, mas não um qualquer português. Aqueele noosso, livre e solto da norma, da maiúscula, vogal fechada. A capital é nota dissonante, o bolso do agente que volta meio-cheio ao fim do dia a casa sem causa justa, a passadeira que só reconhece prioridade ao carro.
Luanda é também, como de resto faz crer em qualquer esquina, lugar temente, viveiro de fé e de esperança, fábrica de igrejas, profetas e religiões em série ante a sonolência da régua. Não é insólito que em pleno consultório médico o profissional salte da anamnese para a conversão do aflito paciente. Só que depois há o anoitecer que tudo desmente, o boletim policial na TV não podia ser mais carregado, criminalidade que não lembra o próprio diabo. Enfim. Dialoga-se bem com o Brasil e o Congo neste aspecto do marketing da fé, tanto cristo vendido, para tão pouca multiplicação da bondade, do bom senso.
Há uns anos um amigo de cá relatava jocosamente algo assim. Você a caminho do local de adoração com o seu Jeep, o outro motorista também com o Starlet dele bem podre raspa no teu carro. Aí vocês descem dos carros nos vossos fatos e gravatas. Vai para aquilo da tua mãe! Vai tu também! Normalmente. Depois cada um segue o seu caminho da igreja.
Por estes dias, tendo a consultar ainda mais o aplicativo de meteorologia no telemóvel (a pensar no melhor lugar para o carro e evitar a tampa defeituosa do ramal de esgotos, que cede à pressão e inunda o parque). Para hoje, dava 75% de probabilidade de chuva, por isso apressei-me a ir comprar frutas ao supermercado.
No caixa, à frente ia um grupo de chineses. Chegada a minha vez, saúdo. A senhora corresponde e logo atira: Eu gosto muito quando Deus opera maravilha! (Fiquei contente ao ouvir isso, imaginando alguma notícia do tipo Angola saldou de vez a dívida pública para com a China e já podemos contrapor os excessos decorrentes dessa relação com efeitos colaterais esclavagistas e mafiosos). Como?, insisto. Já viste que de manhã havia tanto calor e tanto sol que ninguém ia pensar na chuva, mas de repente escureceu, Deus operou maravilha? Contive-me para não retorquir que já ontem a tecnologia grátis previa essa chuva. Ora, na era digital a fé alheia à tecnologia se calhar contraria o “orai e vigiai”.
Gociante Patissa | Luanda, 18 Janeiro 2025 | www.angodebates.blogspot.com
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
"ortografia de topónimos tradicionais não deve ocultar , camuflar ainda mais significados etimológicos e culturais"
"A polémica em Angola sobre as regras ortográficas da toponímia nacional de origem bantu, sobretudo no contexto da legislação normativa e da codificação territorial, não se resume ao problema de como escrever: Cuanza ou Kwanza?; às dúvidas sobre letras “K” , “W” e “Y” serem estrangeiras à tradição ortográfica latina e portanto proibidas ou – antes pelo contrário – serem cientificamente recomendadas para representar fonemas em nomes próprios africanos no país da lusofonia oficial. O motivo bem transparente do debate era e, a meu ver , continua a ser , a preocupação (o dever) de preservar o património cultural, a memória colectiva local, e a identidade dos angolanos codificada e enraizada nos topónimos. Os topónimos constituem uma parte do património imaterial de cultura justamente porque são chaves da memória e cultura, âncoras da identidade, e também simbolizam emoções (Tichelaar 2012, UNGEGN 2015; Cantile & Kerfoot 2016, Kostansky 2016a :426). Essas chaves, no decorrer do tempo, gastam-se, perdem a sua nitidez etimológica, a sua motivação semântica, reinterpretam-se, transitam para outras línguas . É um processo natural e universal, e a ortografia de topónimos tradicionais não deve ocultar , camuflar ainda mais significados etimológicos e culturais cobertos de pátina, alguns totalmente esbatidos outros ainda vivos e transparentes"
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/132993/2/448409.pdf
"O provérbio é a síntese da experiência" - Abreu Paxe
"O provérbio é a síntese da experiência" (Abreu Paxe, escritor e docente angolano. In Caneta, TPA
2, 15.01.2025)
No sentido de que na relação interpessoal, na relação com o meio, os animais e com a natureza de modo geral, os povos, por serem elementos socioculturais, retêm as lições, impressões e referências para construir o provérbio, que geralmente encerra de forma poética a sabedoria popular. Ou a síntese da experiência.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
"A declaração de independência de um país é também um acto cultural" - Tony Nguxi, excerto
"A declaração de independência de um país é
também um acto cultural" (...)"E nós existimos. Como é que uma existência pode ser negada por uma lei escrita, quando a prática é também uma lei, é um exercício que vai produzir a necessidade de comer, a necessidade de casar, etc?! Portanto isso já existe e está regulado."
Tony Nguxi, músico/locutor angolano e artista africanista multifacetado (in Debate sobre Indústrias Culturais - Realidade Actual, TV Girassol, 13.01.2025)
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Porque falham alguns poemas?
"O desafio de um escritor é dar e tirar, dar e tirar. Ou seja, um jogo de sedução com a inteligência do leitor (...) o risco de um poema feito só só de sentimentos é tornar-se excessivamente banal. A racionalização do sentimento é a criação de uma sensação de forma, formalidade. Eu dou uma analogia com a cirurgia, se quisermos. O objectivo de uma cirurgia reconstitutiva (plástica) é fazer o trabalho escondendo a cicatriz. O trabalho seria a racionalidade do poema, a cicatriz seria o sentimento. Ele está lá e ela está lá, mas não deve ser de todo aquilo que é mais evidente. Deve ser a razão a transportar a emoção e, no meu entender, não o contrário"
João Luís Barreto Guimarães (escritor e cirurgião português), in RTP, 08.01.2025
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Crónica | A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O DEDO DO KWANYAMA
Abri o ano respondendo a uma pesquisa internacional direccionada sobre algo intrigante, porém cada vez
mais transversal em nossas vidas, como só a Inteligência Artificial (AI).
Enquanto estruturo o pensamento, lembro-me de um dito popular Kwanyama (ou os da carne, grupo sociocultural que habita de um lado e de outro da fronteira que separa as repúblicas de Angola e Namíbia). Em termos aproximados, reza esse dito que o que mata um boi não é a arma (branca, de fogo, o que seja) e sim o dedo que indica, como veremos.
O que mais há a dizer em se tratando de um tema global, mais que um novo normal da era digital e dos telemóveis inteligentes? Afinal, todos os dias consumimos notícias de mais investimentos destinados ao impulso da AI na saúde, educação, ciência, indústria.
Habita-me mesmo uma espécie de sentimentos mistos quanto à Inteligência Artificial, mas não generalizo, sei que há uma vasta gama de possibilidades para o seu uso. As reticências prendem-se com o segmento de criação e desenvolvimento de conteúdos. Como alguns saberão, sempre estive envolvido sobretudo com a escrita (criativa, jornalística e académica). E posto isto, concebo a escrita como um processo mental.
A AI é uma boa ferramenta quando utilizada de forma complementar, porém já tende a ser popularizada como o cerne da questão. E é ali que vejo nebulosidade, na medida em que, entendo eu, se requer algum nível de competência para a pessoa julgar/avaliar os resultados (textos). Se tudo o que a pessoa sabe fazer é dar “Prompt” (comando), se for a única aptidão que alguém aprimora, parece pois inevitável o vácuo na consistência. Intriga-me a confiança cega depositada por vezes no que as ferramentas de AI propõem.
Estive recentemente no Médio Oriente para o curso de uma semana sobre a AI na actividade de Relações Públicas (Comunicação). Lá conheci um entusiasta sírio que, conta ele, gere a sua empresa totalmente com base em aplicativos de AI. Planificação estratégica, contabilidade, interacção com clientes e entregas. Só ele e o telemóvel.
A questão é: confiar cegamente só porque é resultado gerado por AI? No decurso do Mestrado numa das universidades de topo na Europa, chegou-nos a informação de terem sido apanhados quatro candidatos a PhD com tese de doutoramento ilegítima. Agrava o facto de as ferramentas de AI não fornecerem referências (fontes).
Sempre que posso evitar o uso de AI no meu dia-a-dia como Editor de Conteúdos na área de Relações Públicas ou Comunicação Institucional/Estratégica, evito. Se conheço as nossas limitações e relaxo recorrendo às sugestões da AI, o risco é estagnar, creio eu. Haverá sossego ético em colocar na boca dos nossos gestores um conteúdo não autêntico?
Ora, criar conteúdos não é apenas sobre como ter as coisas feitas e rápido, mas também sobre o porquê de ter sido feito de uma determinada forma. Quando peço à AI que crie uma mensagem, não saberei que critérios a ferramenta seguiu. É este o desafio, embora ciente de que a AI veio para ficar. No fim das contas, a Inteligência Artificial ainda é sobre o quão competente o ser humano que a manipula é. O que mata o boi é o dedo que indica.
Gociante Patissa | Luanda, 07 Janeiro 2025 | www.angodebates.blogspot.com | Imagem: AI

















