Abri o ano respondendo a uma pesquisa internacional direccionada sobre algo intrigante, porém cada vez
mais transversal em nossas vidas, como só a Inteligência Artificial (AI).
Enquanto estruturo o pensamento, lembro-me de um dito popular Kwanyama (ou os da carne, grupo sociocultural que habita de um lado e de outro da fronteira que separa as repúblicas de Angola e Namíbia). Em termos aproximados, reza esse dito que o que mata um boi não é a arma (branca, de fogo, o que seja) e sim o dedo que indica, como veremos.
O que mais há a dizer em se tratando de um tema global, mais que um novo normal da era digital e dos telemóveis inteligentes? Afinal, todos os dias consumimos notícias de mais investimentos destinados ao impulso da AI na saúde, educação, ciência, indústria.
Habita-me mesmo uma espécie de sentimentos mistos quanto à Inteligência Artificial, mas não generalizo, sei que há uma vasta gama de possibilidades para o seu uso. As reticências prendem-se com o segmento de criação e desenvolvimento de conteúdos. Como alguns saberão, sempre estive envolvido sobretudo com a escrita (criativa, jornalística e académica). E posto isto, concebo a escrita como um processo mental.
A AI é uma boa ferramenta quando utilizada de forma complementar, porém já tende a ser popularizada como o cerne da questão. E é ali que vejo nebulosidade, na medida em que, entendo eu, se requer algum nível de competência para a pessoa julgar/avaliar os resultados (textos). Se tudo o que a pessoa sabe fazer é dar “Prompt” (comando), se for a única aptidão que alguém aprimora, parece pois inevitável o vácuo na consistência. Intriga-me a confiança cega depositada por vezes no que as ferramentas de AI propõem.
Estive recentemente no Médio Oriente para o curso de uma semana sobre a AI na actividade de Relações Públicas (Comunicação). Lá conheci um entusiasta sírio que, conta ele, gere a sua empresa totalmente com base em aplicativos de AI. Planificação estratégica, contabilidade, interacção com clientes e entregas. Só ele e o telemóvel.
A questão é: confiar cegamente só porque é resultado gerado por AI? No decurso do Mestrado numa das universidades de topo na Europa, chegou-nos a informação de terem sido apanhados quatro candidatos a PhD com tese de doutoramento ilegítima. Agrava o facto de as ferramentas de AI não fornecerem referências (fontes).
Sempre que posso evitar o uso de AI no meu dia-a-dia como Editor de Conteúdos na área de Relações Públicas ou Comunicação Institucional/Estratégica, evito. Se conheço as nossas limitações e relaxo recorrendo às sugestões da AI, o risco é estagnar, creio eu. Haverá sossego ético em colocar na boca dos nossos gestores um conteúdo não autêntico?
Ora, criar conteúdos não é apenas sobre como ter as coisas feitas e rápido, mas também sobre o porquê de ter sido feito de uma determinada forma. Quando peço à AI que crie uma mensagem, não saberei que critérios a ferramenta seguiu. É este o desafio, embora ciente de que a AI veio para ficar. No fim das contas, a Inteligência Artificial ainda é sobre o quão competente o ser humano que a manipula é. O que mata o boi é o dedo que indica.
Gociante Patissa | Luanda, 07 Janeiro 2025 | www.angodebates.blogspot.com | Imagem: AI
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