"A polémica em Angola sobre as regras ortográficas da toponímia nacional de origem bantu, sobretudo no contexto da legislação normativa e da codificação territorial, não se resume ao problema de como escrever: Cuanza ou Kwanza?; às dúvidas sobre letras “K” , “W” e “Y” serem estrangeiras à tradição ortográfica latina e portanto proibidas ou – antes pelo contrário – serem cientificamente recomendadas para representar fonemas em nomes próprios africanos no país da lusofonia oficial. O motivo bem transparente do debate era e, a meu ver , continua a ser , a preocupação (o dever) de preservar o património cultural, a memória colectiva local, e a identidade dos angolanos codificada e enraizada nos topónimos. Os topónimos constituem uma parte do património imaterial de cultura justamente porque são chaves da memória e cultura, âncoras da identidade, e também simbolizam emoções (Tichelaar 2012, UNGEGN 2015; Cantile & Kerfoot 2016, Kostansky 2016a :426). Essas chaves, no decorrer do tempo, gastam-se, perdem a sua nitidez etimológica, a sua motivação semântica, reinterpretam-se, transitam para outras línguas . É um processo natural e universal, e a ortografia de topónimos tradicionais não deve ocultar , camuflar ainda mais significados etimológicos e culturais cobertos de pátina, alguns totalmente esbatidos outros ainda vivos e transparentes"
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/132993/2/448409.pdf
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