“Com que então, numa altura em que as políticas estão preocupadas na esteira da reestruturação familiar, perseguindo o melhor desenvolvimento da
criança, o senhor diz que está determinado, quer mesmo o divórcio?”
“Sim, doutor Juiz, ela foi longe demais!… É que
tudo, menos isso!”
“Mas o que foi que a senhora aprontou ao seu marido
afinal, que o tenha ofendido a este ponto?”
“Eu até não estou a ver, doutor Juiz, falando a
verdade. Aquilo foi só uma conversa banal…"
"BANAL?! AIÉ? VISTE MESMO QUE FOI BANAL?!"
“Ó meu caro amigo, não se exalte! Contenha-se que estamos a tentar uma conversa civilizada para um desfecho definitivo airoso, e este seu tom não é o mais curial… Até porque a
linguagem da lei é dura, mas não grita. Ou não é assim?”
“É desculpar, doutor… Oh, minha mãe debaixo da Terra! Você ia imaginar
um dia um insulto destes arremessado contra aminha pessoa?…”
“Mas ajudem-me, caro casal, a perceber o problema. O
que foi que se passou, se é que não estou a extravasar os limites da
privacidade?”
“Então, eu, como marido, né?, só aconselhei que essa
coisa de chegar à casa e encontro a mulher não bateu funji – que é carregador
de macho – e só fica nessas comidas de crianças e pássaros, ah porque massa,
arroz com feijão, bife, bitoque, etc., qualquer dia a pessoa arranja outra
segunda via extra conjugal…”
“E então?”
“Aí é que ninguém esperava a ofensa que saiu da
boca desta mulher, ó doutor Juiz. Assim estás a lhe ver tipo é madre em dia de
preguiça, né? Hum! Boca dela, boca dela, boca dela!… Falou mesmo assim: ‘Hoje estás
tão jornalista, pa!’”
“Mas dizer que alguém ‘está tão jornalista’ hoje em
dia é ofensa?”
“Mas o doutor Juiz não é de Benguela ou quê?! Quando
é assim anda a perguntar. Todo o mundo já sabe. Jornalista, eu?!O que é que a alma da minha querida mãe vai pensar da educação, da moral que me transmitiu, já sem falar do bom carácter
e escrúpulos, hã?!”
Gociante Patissa | Benguela, 13 Setembro
2017
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