quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Crónica | Não me podem acusar é de não ter tentado singrar

Está a sair-se divertida a experiência da interacção via chat (sim, o chat, voltei a usá-lo em termos "boca livre" para atender os interessados em comprar a máquina fotográfica). ESTOU A VENDER UMA MÁQUINA NIKON D3300 NOVA (180 mil kwanzas). INCLUI MOCHILA, PEQUENO TRIPÉ E LENTE EXTRA 55-200mm. Negociação sobre formas de pagamento "inbox" (ou chat, excepcionalmente aberto para este fim). Ainda era só isso. Obrigado, Gociante Patissa, dizia o anúncio estampado no meu mural e graciosamente partilhado por outros amigos virtuais e não só. Quanto aos termos de pagamento, estes, reservei-os para o privado. Na verdade também não têem assim muito de voltas a dar. A condição é pagamento via banco, e ali é que a coisa roça o remoinho tragicómico. Na fila de frente das dúvidas que me chegaram, destacou-se pela pertinência a seguinte: “Quanto custa a máquina?” Tenho estabelecido, em conversas com pessoas chegadas, um certo paralelismo entre o Facebook e o ambiente de uma escola de condução, pelo seu carácter homogéneo (digamos misturador), onde volta e meia todos os níveis de ensino são encaixados na mesma turma, o mesmo que dizer da experiência de vida, das gerações e afins. A parte mais doce é do tipo “Vendes máquinas ou só tens uma”? No momento da resposta eu era capaz de jurar em como deixei isso claro no anúncio, pelo que ainda me ocorreu atribuir as culpas de um tal ruido na comunicação à oposição (como, de resto, tudo o que corre mal em Angola, não é?), mas você já sabe aquela preguiça… E pronto, acabei assumindo eu mesmo o benefício da culpa. Eram já quase meia-noite, se não mais. Lá regressei à rede social e acrescentei: Sim, está à venda. A máquina fotográfica é nova. Sai a pronto pagamento ao preço de 180 mil kwanzas. A entrega é imediata. Tinha-a adquirido para equipamento auxiliar. Ainda era só isso. Obrigado. Na sequência veio alguém ao chat pedir que fizesse fotografias do equipamento à venda. Não fiz, mesmo até para não decepcionar quem realmente teve a perspicácia de topar o ar de burlador visível na foto que tenho no perfil de Facebook. Ah, o nome, este meu, visto está, só pode ser de burlador. Juntamente com os contactos telefónicos dei o número da conta bancária, em nome de Daniel Gociante Patissa, do Banco BCI, o que, como se pode ver, são características de um burlador rodado na matéria e provavelmente já com as malas feitas para passar o resto de verão nas europas, para assim realizar o sonho de laifar com os 180 mil kwanzas do preço de máquina fotográfica, mais do que suficientes para alugar um jacto privado. Por fim, um dos clientes, talvez o mais conversador, intrigado, com razão, por não se lhe aceitar a modalidade de pagamento em cash, não escondeu que se sentia inseguro. Se preferires, tranquilizei-o eu, podes vir a Benguela amanhã. Ando com a máquina no carro e fazes o depósito. Como das dez da manhã (hora combinada para o encontro) para cá já passam largas horas, sem sinal do meu cliente, é bem possível que algum excesso de burocracia na procuradoria esteja a impedir o mandado de captura do presumível burlador. De maneira que me encontro arrepiado de medo, a tremer mesmo, na iminência de ser capturado. No final do dia, não me podem acusar é de não ter tentado singrar no empreendedorismo burlesco. Ainda era só isso. Obrigado. hahahah
www.angodebates.blogspot.comGociante Patissa, Benguela, 21 setembro 2017
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1 Deixe o seu comentário:

Unknown disse...

Mestre, eu retiro meu chapéu...

a maka é ninguém mais lê, qualquer coisa que tenha mais de 10 caracteres, a não ser que seja bobagem; e os poucos que lêem,não sabem interpretar direito... Estamos numa sociedade de doentes.

Na luta pra singrar estamos todos, usando nossa melhor ou pior técnica de venda de productos e ou prestação de serviços. vendemos tudo e fazemos tudoç. só precisamos não parar de tentar NUNCA!!! KEEP WALKING, TIPO J. WALKER

Mkanambi

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