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Até você
se pergunta mesmo se um terço dos oradores alguma vez mercou algo na zunga,
onde não há garantias de chamar o Inadec por qualquer motivo. Mas pronto, iria faltar
um big brother para fazer fé à coisa. Se calhar, é melhor só não avaliarmos por
excesso ninguém, não é? E cá está a verdadeira maka do exercício cá das
conjecturas, não havendo até ao momento alguma linha na imprensa sobre o êxito
ou não do certamente, que nos valha como ponto de partida. Ora pois, não
podendo nós partir para a futurologia, uma vez que o evento já aconteceu, e não
tendo sido inventado ainda o critério da passadologia, estamos de mãos atadas. Seja
como for, o programa nos põe à vontade para reivindicar a ausência dos actores.
Pelo menos parte relevante deles.
Primeiro,
lê-se que a intervenção daquela que seria o motivo está acondicionada no
genérico "Voz da Zungueira - Testemunhos. Preocupações", dando assim
uma ideia de papel passivo. Alguma vez um doutor levou bofetada do fiscal,
andou com criança febril às costas ao sol e chuva, ou sabe a dor muscular de
desfilar com uma ventoinha a tiracolo e não aparecer cliente? Ah, era preciso
estudo? Não seja por isso, excelências. Mas então e a escola da vida?!
Ainda há
dias circulou nas redes sociais um vídeo muito revelador de uma compatriota que
quase parava o bairro, sem precisar de microfone nem de orçamento para o
coffee-break nem ar condicionado, como seria de esperar numa palestra macro (teve
de ir a imprensa atrás da senhora para se aproveitar da audiência). Parar um
bairro por conta de um pregão é proeza que nem os best sellers conseguem sem a
máquina da propaganda e marketing.
A senhora
chegava, poisava a bacia de peixe fresco e puxava dos pulmões o seu pregão
prolixo, mas de uma cadência melódica a dar para a missa: homem kunanga é
corno! Essa não merecia o palanque para uma prelecção também, ainda que de 15
minutos? Não há sabedoria popular a ser passada para a classe académica? Olhe,
que a coisa não termina por aí.
Em segundo
lugar, o reverso da moeda. É que tratar do assunto zungueira sem incluir o seu
"carrasco" de estimação, os fiscais das administrações municipais, que
ocupam maior espaço nos pensamentos e sonhos das zungueiras do que os maridos e
amantes destas, por todos os motivos óbvios, é como assistir a uma partida de
futebol que termina nos primeiros 45 minutos, pelo que teríamos um simpósio
mais ou menos inclusivo.
Porque até
como forma de homenagear o saudável lado fundista do ofício, não seria demais
sondar a "Voz do Fiscal - Testemunhos. Preocupações", ou do libanês ou
do maliano, ou do marido que espera a esposa em casa para lhe patrocinar do
vício do copo e à madrugada calibrar o ventre dela com mais um filho para vir a
ser sustentado unilateralmente pelos rendimentos da zunga. Afinal, estamos na
era da participação de todos os actores, ou não é isso?
Aos
organizadores, fica o nosso encorajamento, afinal o assunto é transversal e
querendo ou não, como diria alguém, cada um de nós tem um zungueiro ou uma
zungueira na família. Há que estender a reflexão para fora de Luanda, pelo que
qualquer pedrada à vossa árvore, já sabem, é derivada dos frutos que carrega. Ainda
era só isso. Obrigado.
Gociante Patissa, Benguela, 15 Maio 2017
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