quarta-feira, 17 de maio de 2017

Crónica | Na ausência da estátua, que tal espalhar contentores de lixo em homenagem ao fundador de Benguela?

Não sou a favor da campanha pró regresso da estátua de Cerveira Pereira (acho que o museu não o desmereceria em nada), mas sei perder (nestas coisas em que a decisão do poder instituído já tomou partido). 

No entretanto, enquanto não se sai do impasse que se acabou de instalar em Benguela depois que o camarada administrador municipal Leopoldo Muhongo decidiu patrocinar institucionalmente a (re) colocação pomposa, junto do palácio do governo, do busto de Cerveira Pereira, figura do regime colonial e império português a quem se atribui a "fundação da cidade de Benguela" há 400 anos... busto que afinal também já não faz parte do património do museu, como fez crer um  dos rostos proeminentes da corrente favorável à presença do busto defronte ao palácio do governo... sua excelência eu tem um meio-termo a sugerir: 

Deixai-me antes acrescentar que não sou adepto dessa veneração a Cerveira Pereira, que nunca me fez directamente nada de mal mas que um renomado escritor, mais velho do que eu e sociólogo, qualificou de "filho de puta" (sic). Antes já outro académico, com créditos firmados na investigação e docência universitária em história, depois de aferir o perfil de Cerveira e as suas obras para com os indígenas de então, não teve dificuldades de o considerar "escória", curiosamente, do tipo que nem em Portugal recebe honras.

Dito isto, uma vez que a cidadã que cuidou da estátua durante mais de três décadas exige compensação financeira (nota preta, sublinha ela) para a liberar, e sabendo que o dinheiro não é coisa que abunde nos cofres da edilidade, então sejamos pragmáticos. 

Chefe Dudú ou Leopoldo Muhongo, meu antigo professor do curso básico de jornalismo,  assim não podia tipo, quer dizer, eh... comprar um contentor de lixo para acabar com a vergonha de o ver amontoado ao longo do muro do antigo centro ortopédico, ali no Kioxe, e pelo menos decorar o referido contentor com uma dedicatória a Cerveira Pereira? Depois era só replicar.

É que assim sempre respeitaríamos a história (devida ao já falecido fundador da cidade), sem deixarmos de priorizar a saúde pública da maioria, numa cidade que ainda chora as vítimas do surto de febre amarela. Ainda era só isso. Obrigado. 

Gociante Patissa, Benguela 17 Maio 2017
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