“Camarada-Vice!
Camarada-Vice! Você, que é mulher, acha que a minha esposa vai sobreviver?”
“A
tua esposa está muito mal, camarada… Continua em coma profundo na reanimação.”
“O
que estão a fazer é certo? Vê só, Camarada-Vice, vê só! Desde anteontem que não
me deixam chegar perto da mulher. Desconfiam de quê? Será que o amor faz mal?”
“É
preciso ter calma e deixar os técnicos fazerem o trabalho médico. Ela está
grave…”
“Mas,
ó Camarada-Vice, então a minha mulher que passo a vida a lhe ver nua, hoje vai
ter vergonha de me ver só porque está grave? Vai esconder mais o quê?”
“Tem
que confiar no tratamento, homem! E como está o bebé?”
“Camarada-Vice!
Eu lá só homem de um filho por barriga? São gémeos, casal!”
“Estão
bem?”
“Está
tudo! Aquela camarada está a lhes tomar conta como mãe. Obrigado!”
“Ainda
bem. E não está a ser fácil mobilizar quadros para este papel de família
substituta no vosso caso. Umas camaradas estão colocadas em vossa casa com
outros filhos menores, outras aqui de plantão a cuidar dos recém-nascidos, já
sem falar da mãe que está nos cuidados intensivos.”
“Obrigado,
Camarada-Vice Delegada, a Família e Promoção da Mulher vai receber subsídio da
mão de Deus. Até ainda estou alegre só de olhar para os meus bebés. A camarada
já viu o instrumento do menino? Se me sair eu, como pai, aos 13 anos já vai
acompanhar a namorada para a consulta de gravidez.”
“Isso
também seria demais, ó camarada!”
“Demais
como, Camarada-Vice? Eu falo mesmo: pode faltar familiares, trabalho, dinheiro,
pode faltar tudo, mas sou muito homem! Tenho equipamento para isso! Grupo “O”.
Até não precisa esperar o fértil na fábrica da mulher!”
“Olha,
ainda bem que falas nisso. O médico chamou-nos para uma conversa muito séria,
na qualidade de tua família substituta. O quadro da tua esposa é demasiado
crítico. Este é o terceiro parto de gémeos e em cesariana…”
“Concordo
com ele. Por acaso, ele não errou na conta….”
“O
organismo da tua mulher não vai aguentar uma próxima gravidez, se é que ela
sobreviver agora. O médico recomenda por isso, já que toda a gravidez da tua
mulher é de risco e também por causa da idade, irem ao planeamento familiar…”
“O
quê?!”
“É
o que ouviste. O planeamento familiar no combate à mortalidade materno-infantil
conta com o apoio do executivo…”
“Executivo
já assim é uma pessoa que foi visitar a nossa casa para nos estender na rua?”
“Executivo
é o governo…”
“Mas
vocês pensam que um governo é coisa de outro mundo ou quê?! O governo não é só
o marido da república? Eu também não sou governo da minha esposa?!”
“Camarada,
pára de ser egoísta! A tua mulher pode morrer no próximo parto, homem!”
“Olha,
Camarada-Vice, já porque vocês nos tiraram da rua, nos deram casa de luxo,
escola para os filhos, comida para a família, né?,… querem se meter longe, né?”
“Vocês
já têem um agregado considerável, seis filhos mais o casal dá oito.”
“Camarada-Vice,
me fala só: a tua mãe te fez planeamento? Você estaria aqui?…”
Gociante
Patissa, Benguela, 9 Junho 2016
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