Por Seke Ia Bindo (texto e
ilustração do Jornal
de Angola)
Era uma vez uma menina muito bela e delicada, que os pais tratavam
como uma princesa. A mãe queria ensinar-lhe a cuidar da casa mas ela só gostava
de brincar e quando saía da escola, ia para as praias de Lândana contemplar as
ondas do mar e imaginar castelos e príncipes encantados, para além do
horizonte. O mar era a casa grande de Nyongo, o pasto dos seus olhos
sonhadores.
O pai era pescador e trazia todos os dias para casa o melhor peixe
que apanhava no alto mar. Umas vezes trazia corvinas, outras vezes pungos e
garoupas de águas profundas. Como gostava muito de zifu zi yangu, a mãe
arranjou uma pequena grelha onde preparava as refeições da família. A grelha era tão pequena que ela tinha que cortar
a cabeça do peixe, quando ia assá-lo no carvão de fogo brando. Nyongo detestava
aquele trabalho e quando via a mãe cortar a cabeça do peixe, ia para a rua e só
regressava quando sentia o cheiro do peixe grelhado.
Um dia apareceu um rico homem, pedindo a mão de
Nyongo em casamento. Os pais ficaram muito felizes, porque a sua princesa ia
ter uma casa grande, boa vida e havia de ser respeitada por ser esposa de um
homem poderoso. A mãe aconselhou
Nyongo a aceitar o pretendente mas ela pôs uma condição:
- O meu marido tem que arranjar quem cozinhe. As
minhas mãos não servem para lidar com o fogo e os meus olhos não podem ser
toldados pelo fumo. Eles só gostam de se espraiar no mar.
Os pais disseram ao pretendente qual era a
condição da menina e ele aceitou.
O novo lar de Nyongo era mesmo grande e rico. Ela
deixou de ser a filha do pescador de Lândana e passou a ser uma verdadeira
princesa. Uma mulher foi contratada para cozinhar, mas ela lembrou-se do que a
mãe fazia ao peixe, antes de colocá-lo na minúscula grelha da família. Tudo
naquela casa era grande, até a grelha, onde cabiam vários peixes inteiros ao
mesmo tempo. Mas Nyongo toda a vida viu a mãe cortar a cabeça dos peixes e
disse à cozinheira:
- Antes de assares o pungo tens que lhe
cortar a cabeça!
E a cozinheira obedecia, embora ficasse
admirada. Não conseguia compreender porque razão a patroa mandava cortar as
cabeças dos peixes, quando o patrão gostava tanto deles assados com
fubia. Um dia o marido disse
à esposa:
- Quando grelharem o peixe, não lhe cortem a
cabeça, porque essa é a melhor parte e o que eu mais gosto é de chupar as
espinhas.
- A minha mãe corta sempre a cabeça do
peixe e eu aqui vou fazer o mesmo. Não devemos mudar os hábitos, só
porque gostas de chupar as cabeças dos peixes.
Nesse dia houve a primeira discussão entre
o casal. Mas Nyongo não cedeu e exigiu à cozinheira que cortasse a cabeça do
pungo, como fazia a sua mãe. Se na sua casa era assim, no lar que constituiu
tinha que ser igual.
O rico homem ficou muito zangado e, um dia,
farto de ver desperdiçar a parte de que mais gostava no peixe, levou Nyongo de
volta para casa dos pais. Quando a mãe lhe perguntou por que razão cortava as
cabeças dos peixes, ela respondeu:
- Porque toda a minha vida de solteira te
vi cortar a cabeça do peixe, quando cozinhavas para a nossa família. Não posso
afastar-me do que vi em minha casa, só porque o meu marido é caprichoso. A mãe
ficou pensativa e depois disse à filha:
- Cabeça de pungo é muito bom! Mas eu tinha
que cortá-la porque somos pobres e a nossa grelha é tão pequena que não cabe lá
um peixe inteiro.
Moral da estória: não devemos imitar os outros, cada qual
tem a sua agilidade: bika landa bunka salila buna zabili.
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