Uma denúncia de Mingo Nunes, trazida há duas semanas pelo Semanário Angolense (SA), tem animado debates no que concerne aos direitos autorais. À parte o exagero de cobrar 100 mil Dólares de indeminização por música, caiu mal a muitos ouvir que a homenagem, "Yuri da Cunha Canta Artur Nunes", teria sido feita sem o consentimento da família.
Nos dizeres de Mingo, que ameaça levar o assunto a tribunal, desrespeitou-se a memória do “Espiritual”, como era conhecido Artur Nunes (autor da canção “belina”, morto na casa dos 30 anos aquando dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977). Yuri da Cunha, que a nível internacional partilhou palco com Eros Ramazotti e Rui Veloso, vê sua imagem beliscada.
Uma conferência de imprensa e entrevistas avulsas revelaram o desmentido de Santinha Nunes, a irmã do falecido músico que teria autorizado o decalque a troco zero, com termo de entrega reconhecido pelo notário. Nessa cruzada, Santinha qualificou Mingo Nunes de oportunista, sugerindo mesmo que fosse ele levado a tribunal e não o Yuri.
Enganou-se quem julgava encerrada a polémica. Juristas e demais gente abalizada no assunto são peremptórios em considerar que a autorização «não é legítima». A condição de irmã (mesmo que de pai e mãe, como vem sublinhando) não lhe torna herdeira dos bens de Artur Nunes, o que por lei, dizem, cabe aos filhos (os descendentes directos) e, na ausência destes, aos pais (os ascendentes, no caso presente a mãe). Nestes casos, a família deve reunir e indicar um representante para cuidar legalmente do património e que, a serem repartidos os direitos de herança pelos irmãos, deve ser de forma equitativa e sem discriminações.
Na verdade, há muito que a onda de jovens músicos reinterpretarem sucessos do antigamente vem sendo vista com maus olhos. Elias Diakimuezo, o também considerado rei da música angolana, mostrou-se preocupado, há alguns anitos, com a falta de criatividade da juventude, que hoje se evidencia com criações de outros tempos, o que fará com que pouco, ou quase nada, tenham a deixar para gerações vindouras.
Paulo Flores (alta referência da composição e canto dos últimos 20 anos), Edy Tussa (que singrou do RAP para o semba), Nanuto (mestre no saxofone), incluem-se nos que usam temas alheios sem a observância dos direitos. Quem o diz é o presidente da Sociedade Angolana de Direitos de Autores (SADIA), Lopito Feijó, que, quanto a “Yuri canta Artur Nunes”, diz que felicitá-lo-ia duas vezes se cumprisse com os pressupostos legais.
«Jovens músicos são preguiçosos mentais», convergem Santos Júnior e Dom Caetano, que só pecam por generalizar. Caetano perspectiva inclusive acionar processo judicial sobre DJ Mania, por este publicar à revelia versão do célebre “sou angolano”, na voz de Karina Santos, esposa do DJ. Conta o SA que DJ Mania teria desafiado Dom Caetano a se queixar onde quisesse, por considerar cubana a música. Magoado, o cinquentenário, que estudou durante cinco anos em Cuba e diz não ter culpas da influência cultural e rítmica disso decorrente, condiciona: «Se ele conseguir provar que Joana Pernambuco, Pedro Franco, João Cometa, Vergonha, Didi da Mãe Preta eram cubanos, então eu é que o vou indemnizar».
Conforme se vê, o triste quadro do mercado musical reflecte a sociedade no geral, onde a impunidade leva ao imediatismo, este à impunidade, e na desordem ganha o “esperto”.
Gociante Patissa, Benguela 12 Julho 2012
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário