Os políticos e os experts em relações
internacionais, que têm o defeito das estratégias e das ciências, andam agora a
discutir o regresso, ou não, da Missang à Guiné-Bissau. Eu gosto mais de
missanga, que as mulheres usam ao pescoço para, de quando em vez, servirem de
brinquedo do bebé ao colo. Missang sempre me pareceu incompleto, e sempre rezei
para não entrar nunca no dicionário de língua portuguesa (sim, porque a língua
portuguesa cresce mais em África do que em qualquer parte, de tanto que
abocanha de expressões e mambos daqui). Bem, também nunca já gostei mesmo de
saber com que peças se forma essa missang(a) insidiosa. Então, se o pescoço
turbulento chamado Guiné-Bissau, que gosta mais de solavancos do que do suave
dom de respirar, entendeu que os angolanos "tunda!", já não voltamos?
Agora vem mais é porque "enju!"? E, é verdade, ainda vêm esses
sabichões dizer que o melhor seria voltar para lavar nossa cara diplomática? E nós
precisamos de cara diplomática? Diplomática não é aquela pasta que rima com gravatas, cheia das
vaidades e cujo conteúdo geralmente não sabemos, de vez em quando escuso mesmo?
Falo como homem do kimbo, não dado às mundivicências modernistas, mas tenho
palavra. Não vá nenhum soldado mais à Guiné-Bissau. Exijo. Mas de onde vem a
legitimidade? Indagarão uns. Ora, do facto de a minha mãe ter levado um tiro de
raspão na bocheca, quando me trazia às costas, nos anos em que essa Angola andou
em guerra. Não fosse a péssima pontaria do outro, era na minha cabeça a bala e
pronto!, seria um anónimo, uma quase existência. E ainda me vão dizer que o
soldado vai lá para garantir a paz, logo na Guiné-Bissau, onde esquartejar
inimigos é coisa banal?! Os soldados angolanos por acaso não nasceram de mães,
quantas delas camponesas e lutadoras pela vida (enquanto os maridos serviam a
pátria, vivos ou mortos ou quase isso, algures), na esperança de ver o filho
com um pouco de escola e ofício?! Eu até não gosto de polítiquices, mas
chega!!!
Gociante Patissa
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Caro Gociante, desculpe-me a intervenção, mas sinto que tenho que discordar da sua opinião.
Não quero dizer que apoio a Missang. Não apoio. Mas não é isso que me traz aqui. A minha discordância refere-se às considerações que tece sobre a Guiné-Bissau e o seu povo, que é pacífico. Sim, o povo da Guiné-Bissau é pacífico.
Durante muitos anos Angola esteve em guerra, como muito bem refere. O que o Gociante pensaria de alguém que nesse tempo escrevesse, por exemplo, «...o pescoço turbulento chamado Angola, que gosta mais de solavancos do que do suave dom de respirar...», ou então «...em Angola, onde esquartejar inimigos é coisa banal...»? A verdade é que o que tem vindo a acontecer na Guiné-Bissau (infelizmente) é apenas uma sombra do que se passou em Angola durante anos e anos. O Gociante conta mesmo que a sua própria mãe foi alvejada a tiro. O que se poderá dizer de alguém que é capaz de disparar contra uma senhora que traz o filho às costas?
Por favor, não ofendamos os nossos irmãos guineenses, que não têm culpa dos militares que têm. Os guineenses também «...nasceram de mães, quantas delas camponesas e lutadoras pela vida (enquanto os maridos serviam a pátria, vivos ou mortos ou quase isso, algures), na esperança de ver o filho com um pouco de escola e ofício».
Caro Fernando, apoio por completo o direito que tem em discordar. E muito prezo as suas visitas aqui no Blogue precisamente por essa forma sincera de interagir.
Agora, não estou a ver os políticos e militares angolanos firmarem acordos com o povo, mas sim com os seus similares. Em nenhum momento das linhas me refiro ao povo, com que aliás mais me pareço, meu caro, nenhum!
Uma coisa é certa: os angolanos já viveram guerra que sobre para agora andarem a se envolver em guerras relativamente alheias. O que digo agora não será surpresa alguma, mas uma constatação óbvia da história do exército angolano: nesses batalhões de soldados "talhados" para beijos a canhões, rara é a vez que se incluem filhos de ricos e poderosos, que aliás andam pelo estrangeiro nas melhores escolas para, à sua chegada, serem chefes da grande maioria, o que em sociologia se chama reprodução social (de classes).
Como diria uma amiga americana quando visitamos um navio de guerra de marines americanos no porto do Lobito, "Sempre os miúdos a fazerem a guerra para os adultos".
Aquele abraço
Patissa
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