Não
sei se os subscritores da DSTV «toparam»
a pretensão encapotada da
TV Globo em Angola, mas, há duas semanas
mais ou menos, que um pretensioso anúncio
foi enviado para os «mails»
dos clientes. O anúncio é
ele próprio pretensiosíssimo.
Pretende convocar os subscritores angolanos a dizerem uma parvoíce
favorável à
DSTV e, em troca, ganhar uma prenda.
Diz-se que a fruta podre (como o pretensioso) nunca cai longe da árvore. Isto é: o pretensioso nunca se afasta das suas pretensões, a não ser que a sua pretensão apodreça e isso é o que acontece quase sempre. Já não bastava o pacote senil «pay-per- viw» que a DSTV oferece hoje em dia aos seus subscritores.
Diz-se que a fruta podre (como o pretensioso) nunca cai longe da árvore. Isto é: o pretensioso nunca se afasta das suas pretensões, a não ser que a sua pretensão apodreça e isso é o que acontece quase sempre. Já não bastava o pacote senil «pay-per- viw» que a DSTV oferece hoje em dia aos seus subscritores.
É de todo, ou quase no todo, uma
plataforma repetidora que repete os mesmos conteúdos, passe o pleonasmo. Basta
ver, caro leitor, os canais de cinema: um festival senil de repetição de películas antigas, já arquivadas em todos os países que as realizaram. Encarados
que somos como depósito de velharias já descartadas noutros cantos do
planeta, aceitamos a condição de aterro do lixo televisivo.
A subjugação cultural do nosso país pelas culturas alheias é um facto preocupante. Veja-se um
caso: a TV Globo, que, numa atitude de colonialismo cultural aberto e
insultuoso, repete «ene» vezes os mesmos produtos novelísticos e séries, há mais de três anos ou mais. As suas novelas
parecem histórias escritas e vividas por pessoas que nada têm a ver com o Brasil real. Mais
parecem histórias ocorridas num qualquer país nórdico.
A propósito de um episódio em que um participante negro
do «Big Brother Brasil» foi acusado de «ngombelar» outra participante, branca, até as autoridades brasileiras
questionaram a concessão e a idoneidade da Globo para operar em televisão aberta. Enquanto isso, em
Angola, a pretensiosa DSTV pretende endeusá-la.
Um país, como o nosso, que consome por
junto e atacado o racismo cultural da TV Globo e ao mesmo tempo entroniza na
sua escala de valores musicais o Kuduro, pode esperar por um futuro
culturalmente risonho. Por exemplo, a pretensão do movimento nacional do «i love kuduro» vai além de um mero pretensiosismo:
culmina na convicção de que esse género musical que se dança de forma «aparatosamente apalhaçada» e cantado com letras indecentes
e indecorosas, é o traço musico-cultural mais notório do nosso país.
Há uns dias atrás, o jovem cantor Koréon Dú congratulava-se no Canal 1 do
TPA com os «bifes» que os kuduristas se distribuem em plena luz do dia e fora do
Carnaval. Mas a pretensão de elevar este estilo musical… (não sei dizer: na verdade, vejo que
os estrangeiros pensam tratar-se de um valor exótico, algo inusitado, fora do
contexto cultural africano) teve nele um arauto. Quis estabelecer um
paralelismo com os «bifes» que os kotas mandavam para os seus homólogos dos grupos carnavalescos de
antigamente.
Mas, quem se achar pretensioso o suficiente e quiser provar os «bifes» do Kuduro, experimente «tragar» a matéria escrita por Romão Brandão (SA, 11/02/2011, pág.40). É a nossa falta de pertença à nossa cultura ou culturas inter-étnicas, que fará com que a pretensão pretensiosa do Kuduro avance.
Refiro-me, portanto, à nossa desistência do Semba, da Ndjimba, do
Katembe, entre outros. Convém interpelar as nossas consciências a respeito do futuro dessa
juventude kudurista e mais do que isso, «kudurizada». P’ra quê maratona do saber? Maratona é a da conhecida cervejeira: «é só mijar, sussa!».
A juventude angolana «kudurizada» tornou-se pretensiosa tal como a
DSTV, porque percebem que actuam num país sem orientação cultural. Um país falho de bons exemplos. O facto
de o Kuduro aparecer sempre associado a drogas, distúrbios da ordem pública e consumo avarento do álcool não desperta as autoridades.
Assistir, diariamente, os jovens alienarem-se sob a influência do «carro-chefe» da alienação, o Kuduro, faz dó. Onde e quando se montam os
potentes decibéis de Kuduro, o resultado é sempre o mesmo: a perturbação do sossego colectivo. Os jovens
que optam por empregar o seu tempo a estudar têm que se mudar de lugar.
Aqui se percebe que as sôfregas mensagens das autoridades
sobre a necessidade de incutir nos jovens a cultura nacional, a moral, a ética social, e a preservação dos bons costumes, não-violência contra a mulher, etc, é para ser lida no sentido contrário. Como por exemplo: cultivem a
desbunda a torto e a direito, perturbem o mais que puderem a paz social de
quem vos rodeia, incendeiem a violência doméstica contra a mulher,
embebedem-se sem parar, e depois disso, mijem em qualquer parede…
Os mais
velhos do Carnaval daqueles tempos cultivavam a decência vernacular, e não vendiam «bifes» malcheirosos ou sangrentos,
como agora o kuduro vende. Espremidas certas letras do Kuduro, só sai sangue, pornografia, incitamento
ao desafio da autoridade policial, desrespeito à mulher, etc. Antigamente os «bifes» eram suculentos. Como este: «Kela ua zueló Cabocomeu tujiolua…apesar tujiolua, mas tu zuata kia mbote»…, que era um saudável «bife» dos mestres carnavalescos do histórico Sambizanga.
Texto do Semanário Angolense, 18/02/2012, da autoria de Kajim Ban-Gala.
Texto do Semanário Angolense, 18/02/2012, da autoria de Kajim Ban-Gala.
6 Deixe o seu comentário:
mano já fiz o copy e encaminhei via e-mail para os meus contactos...(link incorporado)...muito "boa" gente precisa ler esse outro lado do "I love Kuduro"...estamos juntos
Como sempre a moeda tem dois lado, esta é com certeza uma analise importante do outro lado da moeda que a muito de nós escapa, ou se nao escapa nem sequer nos deixa perplexos; porém nao podemos esquecer que tambem existe um bom lado (pelo menos assim acredito), pois quase q chego a "infeliz" conclusao de que para muitos, bom seria se o KD nao tivesse existido, será q devemos voltar no tempo e discutir se KD é música ou nao??? (tal como acontecia no "Janela Aberta"). Aspectos podem sim e reclamam por melhorias, daí que seja positivo encontrar o lado menos bom para assim podermos com o tempo ir melhorando; mal seria querer abortar este filho "indesejado" da nossa cultura. Importa tambem nao perder de vista que na maioria das vezes o conteudo lírico (se assim se pode considerar) prende-se com o modo de vida e o meio social dos próprios interpretes cujos valores sao expressos nas músicas, assim o ataque apenas ao estilo KD nao abrangeria a verdadeira causa do problema, pois entendo q o ataque deve tambem passar pela melhoria das condições sociais, à mudança do "modus vivendi" dos jovens (com particular incidencia aos que residem nas periferias).
Ainda sobre o debate, acabei de achar nos arquivos cibernéticos o posicionamento do (já falecido) etnomusicólogo, Jorge Macedo:
"Sim, são passageiras e nós não devemos educar a nossa juventude com coisas dessa natureza. O que a juventude quer é curtir, quer ritmos galvanizantes para se divertir. E estamos num período de transição muito difícil, não há alternativas e os jovens seguram-se a qualquer coisa. O kuduro tem um aspecto rítmico do semba. Mas o semba é muito mais rico. O kuduro ficou com uma pancada, duas estruturas rítmicas, salvo erro, que é a batida básica, e depois vem um flash que dá a fisionomia do semba. Mas o semba é um agregado de ritmos muito mais rico, tem viola baixo, tem viola ritmo, tem viola solo, tem sopros, tem a parte da melodia, tem as tumbas. Só o conjunto, só todos esses efeitos é que dão o enriquecimento do semba. Agora, reduzir o semba àquela brincadeira... O mal do kuduro não é só aquele ritmo monótono, aliás os pops e os raps às vezes também têm disso. Mas há o lado da letra, a letra do kuduro é incultura, asneira."
Ler entrevista completa em http://www.ueangola.com/index.php/entrevistas/item/371-todas-as-variantes-do-portugu%C3%AAs-s%C3%A3o-bem-vindas-na-literatura-angolana.html
Essa tua visão parece-me interessante. E a letra do kuduro é mesmo das mais pobres que andam por aí, o fazer crítica social é um cliché que já deu as botas.
http://minha-angola.blogspot.com/2010/11/mo-povo-luta-hoje-contra-si-proprio.html
Genial o texto. Sou brasileiro, e a globo aqui no Brasil é a responsável por deixar a nossa população alienada, suas novelas estão cada vez piores, fazendo com que os baixos valores, prostituição, traições, entrem todos os dias nas casas dos brasileiros, fazendo com que achem isso uma coisa normal. Não queiram um lixo como a globo no país de vocês.
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