E foram-se rindo, que até parecia nunca mais terminar. Ele, só raiva no
peito. Era um dia com tudo a correr muito bem no quintal. Os mais-velhos, como
sempre para celebrar a vida, andavam embalados naquele dialéctico lamentar por isto e aquilo, ladainhas que retiram
do foco qualquer mais-novo ali presente. Não é que um olhar fora de mão foi
logo espreitar pelo intervalo entre a carne e o tecido dos calções do rapaz?!
Pronto, acabou vendo o que não esperava. Lá estava o que devia estar, e o que
não devia também. Uma camisinha envolvendo o instrumento do menino de oito anos
apenas. Não se via bem com que adereço mais se prendia o insólito, dada a
diferença cronológica entre os diâmetros do homem e da borracha. Mas, também,
até aí, não é olhar demais?
"Use a camisinha", vive repetindo a máquina da propaganda, muitas
vezes lacónica demais para se lembrar de dizer como e quando. "Use".
A publicidade não tem hora nem idade certa. Logo, por quê a chacota, se o rapaz
estava apenas a usar como muitas vezes ouve? Para os demais, era com certeza uma
iniciativa precipitada e longe do previsto pela máquina da propaganda.
Perguntar, que é bom, nada. Talvez com algum tabu implícito. Só depois de se
cansarem de tanta consumição, se aperceberam que não se tratava de brincadeira,
antes, de uma solução para não fazer xixi na cama.
Quer dizer, se um gajo faz xixi na cama, riem-se. Se passa dia e noite com
camisinha, como forma de evitar os raspanetes, riem-se. É chato ser-se puto,
não é?!
Gociante Patissa
Bairro da Santa-Cruz, Lobito 1 Fevereiro 2012
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