terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Editorial: O «last minute change» (*)

Há um momento particular em que se torna, para os profissionais da aviação civil, difícil manter o sorriso que as regras de marketing recomendam ao lidar com o público. Algumas vezes, ou melhor diariamente, há um ou vários passageiros que se apresentam para check-in para lá de meia hora após o fecho, quando todos os manifestos já estão encerrados e encaminhados às autoridades que operam num dado aeroporto.

As justificações do atraso podem incluir o engarrafamento, como se o atendedor viesse voando de casa, ou recair à suposta falta de clareza, como se no bilhete de passagem não viesse indicada a hora de check-in (que para voos domésticos dura 90 minutos, ao fim do qual o passageiro perde direito ao lugar e se dá prioridade à lista de espera), bem como a hora do embarque. É claro que há também histórias comoventes, que despertam toda a empatia.

E enquanto da boca do profissional não vem o “não faz mal senhor, isso é um país de jeito, vamos arranjar uma solução”, ouvem-se severas palavras… já não é o cidadão civilizado, mas apenas um passageiro desesperado diante da ideia de perder a viagem. “Venderam o meu lugar”, acusa-se geralmente. “Isso é uma vergonha!”, xingam outros. “Olha que eu tenho uma viagem de ligação para Lisboa essa noite, está bem?!”. Pois, mas não podia chegar atempadamente?

Há que solicitar à tripulação o OK para se rectificarem as folhas de carga e centragem, um procedimento para calcular o equilíbrio do avião durante o voo, cujas fórmulas levam em conta o peso da bagagem, dos passageiros, do combustível e distância a percorrer. É que tudo mexe com tudo. Faz-se, então, o tal «last minute change», conceito inglês que em português é qualquer coisa como «alteração de última hora»…

Com essa parábola, o Boletim A Voz do Olho coloca-se no lugar do passageiro que chega tarde, esperando que o seu respeitável leitor lhe conceda um «last minute change». É que, pela segunda vez, houve constrangimentos, e a edição de Setembro-Outubro não pôde ser servida com a devida pontualidade.

Da nossa equipa, receba votos antecipados de boa passagem de ano!

(*) por Gociante Patissa, publicado no Boletim "A Voz do Olho" (de que é editor e co-fundador), edição de Setembro-Outubro de 2010, veículo informativo, educativo e cultural dos Amigos da AJS-Associação Juvenil para a Solidariedade, ONG angolana com sede no Lobito, província de Benguela


Foto: algures na Internet
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