quinta-feira, 9 de abril de 2009

Conheça o angolano que frequenta duas universidades em simultâneo (*)

As pessoas que não se deixam derrotar pelas agruras da vida, merecem a nossa homenagem. Hoje é a vez de um jovem que frequenta duas universidades, uma no Lobito e outra em Benguela. Trata-se do irmão Dickyamini Bocolo, de 33 anos de idade, Secretário do Conselho-Fiscal do Círculo Rasta Fari de Benguela.

«Eu estou no Direito [Universidade Católica] e estou no Isced. Foi sempre meu sonho, pretendo ser no futuro um jurista, quiçá constitucionalista. Mas como também estou ligado à área das ciências de educação, então, não posso abandonar a educação; quem sabe, um dia possa vir a ter essa chance de ser professor na faculdade de Direito! E essa parte da educação, como é uma vocação, e o Direito, um desejo, e até porque são dois cursos que se complementam, então sigo História e Direito», justifica.

Agora no 2º Ano, ele conta apenas com sua motorizada para galgar diariamente os 70 Km que correspondem à ida e volta entre Lobito e Benguela. É caso para dizer que Dickyamini Bocolo é “sinónimo” de vencer desafios. O seu dia-a-dia é exemplo disso mesmo.

«Lecciono de manhã [no bairro do Alto-Chimbuila, na zona alta do Lobito], de tarde estou no Isced [Universidade pública, cidade de Benguela], e de noite estou na Universidade Católica [bairro da Caponte, Lobito]. Então, o que me dificulta mesmo conciliar é a parte de professor com as duas faculdades. Mas digo que a vida não é fácil, os sacrifícios muitas das vezes são importantes. Há pessoas que podem estar a dizer que “esse gajo vai frustrar-se, é um maluco”. Mas enquanto tivermos fósforo e capacidade intelectual, então, vamos continuar neste desafio».

De seu completo Dickyamini Sebastião Bocolo Rodrigues é natural da Ingombota, Luanda, residindo em Benguela há 13 anos. Por cá constituiu família, sendo pai de três filhos. Foi também em Benguela que Dickyamini aderiu ao Círculo Rastafari de Benguela.

«Assim que cheguei, aderi logo ao movimento rasta-fari, que era já um sonho fazer parte desta família revolucionária, uma família de jovens que decidiu apoiar o progresso social. Desde aí, fui ascendendo a determinados cargos. Comecei como secretário para actividades do Círculo Rastafari de Benguela, depois fui para secretário para relações públicas. Em 2000 fui eleito como secretário executivo. De 2001 a 2002, tivemos uma outra eleição, onde fui reeleito, pelo trabalho que fui prestando ao CRB».

Amigo da música, do teatro e da literatura, Dickyamini é também professor do ensino primário há cinco anos. No entanto, reconhece que nem sempre um rasta é bem encarado pela sociedade.

«Ao longo da minha trajectória como activista, tive algumas dificuldades com a minha inserção social por ser membro de uma comunidade que ainda, em alguns círculos sociais, é discriminada, a comunidade rastafari. Mas soube sempre mostrar às pessoas que a revolução não se faz com os fracos. E até hoje, àquelas pessoas que fazem de mim um “monstro”, tenho também feito o possível esforço de transmitir que a vida não é fácil».

Só nos resta reforçar os votos de êxitos ao batalhador, esperando muito sinceramente que a defesa de tese não seja agendada para o mesmo dia, já que a lei da física não permite estar em dois lugares no mesmo instante. Até lá, irmão Dickyamini, força!
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(*) Matéria emitida na edição nº 10, de 07/04. “Nossa Homenagem” é oferta do programa de mesa redonda radiofónica, “Viver para Vencer”, uma produção da ONG angolana Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), às terças-feiras, das 17-18h30, através da Rádio Morena Comercial (97.5FM), cobrindo as cidades de Lobito, Benguela e Baia Farta.....AJS – “A cidadania é resultado de um exercício permanente de Educação e Comunicação”.
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5 Deixe o seu comentário:

Afrika disse...

Há pessoas que são de enaltecer.
Há pessoas que são o modelo a seguir. Há pessoas que são verdadeiras demonstração de força e coragem. Todas estas pessoas pra quem a vida não tem sido fácil e mesmo assim lutam no dia a dia pra serem mais e melhor. Acima de tudo serem mais e melhor para com os outros, estas pessoas são autênticos heróis e heroínas!

Pessoas que conseguem dentro do seu agitado dia a dia, procurar razão pra seguir adiante merecem ser motivo de enaltecimento. Muitos deles casados, com filhos, com empregos e trabalhos pra pagarem as contas, continuam firmes na sua incansável luta pra serem mais e melhores. A todas essas pessoas eu "tiro o chapéu" e saúdo com desejos de que nada nem ninguém os mova dos seus objectivos e desejo que consigam cada dia encontram força e coragem pra continuar com aquilo que se propuseram.

E pra quem nos nos traz as historias de estas admiráveis pessoas um bem haja, com votos também de força e coragem pra que nos continuem a trazer mais historias de gente como esta.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Afrika, minha mana,
Devo confessar que meu sentido de missão no contexto do Blog aumentou ainda mais desde que passei a conferir os visitantes que recebo. Aliás, uma inveja grande que tenho pela possibilidade de o Blog visitar várias partes do mundo, ao contrário do dono.
Grato!

joaopronome disse...

Tal como disse Afrika, há que enaltecer as pessoas que são verdadeiras demonstração de força e coragem. Embora a vida lhes pregue partidas a cada minuto que o tempo corre, elas conseguem lutar no dia a dia para serem melhores. Assim sendo, também “tiro o meu chapéu” e saúdo, para que consigam no seu dia a dia, encontrarem força e coragem para continuar com aquilo que se propuseram fazer.

No que respeita às viagens pelo mundo, todos nós as efectuamos no dia a dia do nosso imaginário.
A concretização vai do nosso poder imaginário ou força de vontade.

Soberano Kanyanga disse...

Gestos semelhantes precisam-se. Mais formação, mais interacção, mais conhecimentos e experiências. É importante documentarmos em todo o que gostemos de fazer. Voto na matéria.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

A todos os leitores e amigos do Blog Angodebates, obrigado pela interacção.
Ao João Pronome, abrirei um livro de ponto para ir aplicando faltas qdo notar vossa ausência.

Canhanga, fica já a saber que não me escapas, a não ser que demore (muito mais tempo) para estarmos juntos. Juro mesmo!, ando sempre com um gravador e não hesitarei em "roubar" tua história de vida para homenagem. Ou vai à força ou não sei, hum!

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