A segunda edição da rubrica “Nossa homenagem - um reconhecimento às pessoas pelo seu exemplo de sucesso”, emitida a 10/02/09, homenageou uma senhora. Beatriz Laura, ou Tia Bia se preferirem, é um exemplo de sucesso que vem da mística vila da Catumbela.
Quando obteve a sua carta de condução, não imaginava que um dia disputaria com os homens uma profissão rara entre as mulheres, a de taxista. Beatriz Laura era muito jovem ainda, e a condução era apenas uma habilidade para engrossar o curriculum vitae.
Com as mudanças que o país tem vivido e a falência de algumas unidades de produção, Tia Bia viria perder emprego, comprometendo-se deste modo a situação económica da família. Foi então que, volvidos 17 anos desde a obtenção da carta de condução, Tia Bia socorreu-se dela para o ganha-pão. Apareceu a oportunidade de trabalhar com um Hiace e ela disse “sim”.
«Comecei a actividade de táxi porque achei que era um meio de trabalho. Na altura estava desempregada e comecei, para não ter que ficar parada, fui fazendo alguma coisa», justificou
Em Angola, chamam-se genericamente de HIACE as carrinhas (mini-autocarro?) de nove lugares em diante, sejam de marca Toyota ou não. E, pelo seu tamanho, não colhem muita simpatia feminina. A tarifa na via Lobito Benguela, 30 Km aproximadamente, é de 100 Kz (USD 1,30).
Tia Bia conseguiu o Hiace através de crédito bancário. Ciente da responsabilidade, decidiu trabalhar, ela própria, ao volante até completar o pagamento. Mas teve de enfrentar algo mais difícil do que avarias de veículo, o preconceito.
«Mais difícil foi por ser única mulher. Todo mundo comentava, os colegas taxistas, dizendo que não é trabalho para mulher. E eu, de vez em quando, ficava retraída. Mas fui ganhando coragem até que me habituei e faço o trabalho normalmente», recordou.
E a relação com os passageiros «tem sido boa. Só de saber que – disse – estou a lidar com público, pessoas de todo tipo, de vários níveis, tenho tido a máxima paciência. Não é fácil lidar com eles, mas a gente tem que ter paciência».
Outro desafio de mulher taxista é conciliar o trabalho com o dever de mãe. «É difícil mesmo! Tenho que me levantar muito cedo, deixar as orientações de casa, ir para a via. Às vezes ter que sair um pouco antes da hora, [para] ver como é que as coisas e os miúdos estão, retomar o trabalho por volta das 14h30 e regressar antes das 18h», contou.
Bem-haja Beatriz Laura, a senhora da Catumbela que surpreendeu a sociedade no serviço de Taxi. Infelizmente, há meses que o Hiace da Tia Bia está inoperante por falta de correia de distribuição.
Note-se que a rubrica “Nossa Homenagem” é oferecida pelo programa de mesa redonda radiofónica, “Viver para Vencer”, uma produção da ONG angolana Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS). Vai ao ar todas as terças-feiras, das 17-18h30, através da Rádio Morena Comercial (97.5FM), cobrindo as cidades de Lobito, Benguela e Baia Farta.
AJS – “A cidadania é resultado de um exercício permanente de Educação e Comunicação”. (GP)
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Ola de novo! Gosto do teu blog porque através dele fico a saber historia actuais do pais que me viu nascer :D
Afrika, foi escolhido por essa mesma razão, pela forca que o K produz no fim da palavra... porque independentemente de ter nascido em Angola, eu sinto-me Africana. Tenho a forca e a garra de um continente o qual desde que parti nunca mais visitei, mas cresci ao ouvir historias.
Quanto ao teu post, admiro essa garra e força de sair e fazer com que as coisas aconteçam, um bem haja pra tia Bia. Pena que neste momento o seu ganha pão esteja parado, a minha sugestão seria pedir a traves da mesma emissora radiofónica ajuda solidaria, entre os ouvintes pra com esta mulher que já provou que não se detém perante as adversidades !
Quem sabe se alguém que tem acesso a esse tipo de materiais ou entre todos a tia Bia não volta a ser um exemplo para todos seguir!
Fica bem, Afrika
Este é mais um dos vários exemplos de muitas "mamãs e manas Coragem" anónimas. cada um no seu meio, seu tempo e do sei jeito. Viva a tia Bia que tal como a dona Patissa, Canhanga e tantas outras dignificam as famílias e os angolanos. Exemplos como esses precisam-se num país em que todos querem dar exemplos, apenas, por cima e nunca na base.
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